“Contra fluxo não há argumento”. Quem acompanha e consome conteúdos sobre o mercado financeiro provavelmente já ouviu essa adaptação do ditado popular. As pessoas dizem isso porque a entrada ou saída de capital tem um efeito bastante significativo na economia de um país.
Quando o dinheiro chega, contribui para um ambiente de geração de empregos, mais renda e mais desenvolvimento para a população.
Por outro lado, quando sai, tende a pressionar as taxas de juros e câmbio para cima, o que gera todo o efeito em cadeia decorrente de um cenário de fuga de capitais.
Um fato que chamou a atenção do investidor foi a relativa estabilidade do real frente ao dólar mesmo com a guerra iniciada entre Rússia e Ucrânia, o que sem dúvida nenhuma, adicionou uma boa dose de volatilidade nos mercados. A entrada de capital estrangeiro no Brasil ajuda a explicar este movimento.
No Brasil, o fluxo financeiro da B3 é formado, em sua maior parte, por recursos estrangeiros, com cerca de 53% do total. Institucional, que corresponde aos fundos de investimentos, detém 25% e pessoas físicas, pouco mais de 10%.
Nos últimos cinco meses, vimos o fluxo estrangeiro mensal da B3 sair de R$2,22 bilhões em novembro de 2021 para R$33,16 bilhões em fevereiro deste ano. Em março, este saldo, que considera o mercado primário e secundário, está na casa dos R$11 bilhões e provavelmente fechará o mês acima desse montante.
A explicação de alguns economistas para a entrada de dinheiro no país está na atratividade da Selic, ajustada para 11,75% esta semana e possibilidade de maiores altas, nas empresas descontadas na bolsa de valores frente aos lucros divulgados, alta dos preços das commodities e na saída de fluxo da Rússia em direção a outros países, em especial, os emergentes.
No caso do mercado de ações, desde o início do ano já vimos uma alta de 10% no Ibovespa, puxado, especialmente, por empresas do Setor Financeiro (IFNC +17,29%) como B3 (SA:B3SA3) (+27,14%), Itau (SA:ITUB4) (+26,02%), Banco do Brasil (SA:BBAS3) (+20,05%) e Materiais Básicos (IMAT +9,94%) como Vale (SA:VALE3) (+27,99%), Gerdau (SA:GGBR4) (+12,63%) e Companhia Brasileira de Aluminio (+45,35%).
Desta forma, analisar o fluxo de capital é tão importante quanto a análise fundamentalista e a análise técnica das empresas e do mercado. Principalmente, o capital estrangeiro e os setores para onde esses recursos vão. Uma forma de monitorar isso é através do desempenho dos diversos Índices Setoriais da Bolsa Brasileira.
Contudo, apesar deste volume financeiro ter vindo do exterior em direção ao Brasil, é preciso ter cautela. Com as recentes altas no índice Ibovespa, alguns setores e empresas podem já ter “andado demais” e, com isso, realizações de lucros podem ocorrer.
Além disso, nada garante que este capital externo tenha vindo para ficar. Existem regras específicas para fundos operarem e eventualmente gestores retiram recursos de locais onde a desenvoltura de negociação é menor.
Por fim, há os problemas brasileiros de sempre. Não podemos esquecer que 2022 é ano eleitoral e os dois candidatos que lideram a corrida presidencial não têm assumido compromissos claros com o controle fiscal.
Para que este cenário de entrada de dinheiro permaneça, alertam alguns especialistas, seriam necessárias as aprovações de reformas e privatizações. E isto talvez não aconteça tão cedo. Bons negócios!