O Brasil ainda lamenta o 7x1 em campo, mas na arena econômica, é a França que tem imposto sucessivas derrotas. O placar já marca 2x0: primeiro, com o impasse no acordo Mercosul-União Europeia; agora, com o apoio direto de Emmanuel Macron à Airbus (EPA:AIR), que tirou da Embraer (BVMF:EMBR3) um contrato bilionário.
Na semana passada, a Embraer foi desclassificada de uma licitação internacional, mesmo oferecendo um produto considerado tecnicamente superior. A estatal polonesa LOT optou pela compra de até 84 aeronaves da Airbus, modelo A220 — um acordo que pode chegar a US$ 2,7 bilhões e representa milhares de empregos e bilhões de dólares que deixam de entrar no Brasil.
Macron não fez uma declaração direta, mas a França é acionista da Airbus e tem interesse claro no sucesso da companhia. Some-se a isso o contexto diplomático atual: o governo brasileiro visitou recentemente a Rússia e participou da comemoração do fim da Segunda Guerra ao lado de líderes autoritários, como Vladimir Putin.
A Polônia, país historicamente alinhado aos Estados Unidos e sensível ao conflito na Ucrânia, preferiu fortalecer laços com a Airbus, ligada à França, em vez de com a Embraer, que carrega a imagem de um Brasil atualmente afastado das potências ocidentais.
A princípio, parece uma simples negociação entre uma empresa privatizada e um governo europeu. Mas as implicações vão além: menos produção significa menos receita para a empresa, menos exportações para o país — e, principalmente, menos empregos para os brasileiros.
E é justamente aí que entra o ponto: a verdadeira justiça social não se faz com aumento de impostos ou discursos sobre taxar os ricos — que, por sinal, têm recursos para driblar qualquer carga tributária. A justiça social se realiza com emprego, produção e oportunidades reais para a população.
Com esse contrato perdido, o Brasil deixa de gerar milhares de postos de trabalho qualificados e, mais uma vez, quem paga essa conta é o povo.
Além disso, essa perda compromete nossa balança comercial, que segue cada vez mais dependente de commodities e menos apoiada pela indústria nacional. O episódio mostra que, no comércio global, não basta ter o melhor produto ao menor custo — é preciso ter diplomacia, posicionamento estratégico e confiabilidade internacional.
Enquanto isso, o país continua seu processo lento e silencioso de desindustrialização. Basta lembrar da Avibras, outra gigante do setor de defesa nacional, cuja situação também permanece indefinida.
Santos Dumont foi à França levar inovação. Mais de um século depois, é a própria França que nos impõe barreiras — no agro, na diplomacia e agora também na tecnologia. Se no passado fomos parceiros no progresso, hoje somos preteridos, talvez por mostrarmos excelência onde eles não esperavam concorrência: na aviação.