“Os políticos em qualquer parte são os mesmos. Eles prometem
construir pontes, mesmo quando não há rios.”
Respeitosamente, tem sido de certa forma hilário acompanhar as manchetes das agências noticiosas durante esta semana buscando justificar as razões para as altas e baixas protagonizadas por esse desnorteado mercado de açúcar dos últimos dias. É preciso compreender que estamos vivendo um momento de volatilidade ascendente que provoca extrema rapidez na movimentação dos fluxos especulativos. Dinheiro que sai de um mercado e pula para outro sem que se tenha a menor noção do porquê que isso ocorre. As notícias precisam ser dadas e ninguém espera, obviamente, que o jornalista coloque na manchete: “açúcar cai, mas a gente não tem menor ideia do que está acontecendo”. O show deve continuar.
Nesta semana, a cotação do contrato de açúcar em NY encerrou a 11.76 centavos de dólar por libra-peso para o vencimento outubro/2020, inalterada em relação à sexta-feira anterior, mas visitou uma baixa de 11.27 e uma alta de 12.27 centavos de dólar por libra-peso, ou seja, 100 pontos de oscilação que deixaram zonzos quem ainda trabalha na fixação de preço para a atual safra.
Os demais vencimentos também experimentaram pouca variação na semana. Apesar do volume de contratos futuros negociados na ter sido fraco, quebrando o recorde da semana do natal passado, vale notar que no pregão de sexta-feira ocorreu o registro de quase 3,000 lotes de EFP (troca de futuros efetuada na bolsa para precificar uma transação comercial física do produto) para os vencimentos de maio e julho de 2022. Ou seja, 150 mil toneladas de açúcar foram fixadas entre comprador e vendedor para a safra 2022/2023. São outros tempos mesmo.
Os valores em reais por tonelada observados na curva de preços para ambas as safras 2021/2022 e 2022/2023 continuam atraentes. O valor médio linear (considerando fixar 25% em cada vencimento) é de R$ 1,460 e R$ 1,410 por tonelada, trazidos a valor presente pela taxa da SELIC. Pelo menos ¾ das usinas brasileiras obtém excelente margem com esses níveis de preço.
Um ponto tem me chamado a atenção que pode ter consequências futuras: os fundos estão comprados (long) em quase 72,000 contratos numa posição que me parece vulnerável. Explico: normalmente os fundos ficam comprados em um mercado invertido (situação em que o preço futuro do ativo é inferior àquele do mercado à vista) e vendidos no mercado em carrego (aquele em que o preço futuro é superior ao preço à vista). Resta saber se eles estão long no vencimento outubro ou março.
Pela posição em aberto dos contratos futuros de açúcar, ousaria dizer que boa parte dela está posicionada no outubro. Para eventualmente rolar essa posição comprada no outubro para o contrato com vencimento seguinte (março), os fundos terão que vender o outubro 68 pontos mais barato (15 dólares por tonelada) que a recompra do março, pelo fechamento de sexta. É uma posição de pé trocado. Mas, como não sou pitonisa e não utilizo de bola de cristal, pode ser que haja alguma estratégia que não estamos vendo.
Por isso, temos que acompanhar com cuidado a trajetória de preços do açúcar em NY, pois os fundos poderão exercer uma pressão de venda maior no outubro (ainda está longe), que combinada com um eventual agravamento da situação sanitária, política (Brasil e EUA com China) e econômica (global) podem desencadear numa ocasional visita aos 10.50-11.00 centavos de dólar por libra-peso em NY. A possibilidade existe. Agosto e setembro serão dois meses em que muitas das nossas perguntas serão respondidas. Depois delas virão outras….
O desempenho das commodities agrícolas no acumulado do mês tem sido pífio: algodão, café, suco de laranja, açúcar e algodão variaram abaixo de 2% para cima ou para baixo. O mercado de grãos teve um pouco mais oscilante, mas nada de arrebatador. O mesmo vale para o mercado de energia (gasolina, petróleo e gás natural). Parece-nos que o mercado está em compasso de espera. Esperando acontecer alguma coisa ou ter um pouco mais de solidez no terreno que está pisando. Estamos todos em cima de uma areia movediça. Melhor não mexer muito.
O assunto CBIO (Crédito de Descarbonização) ainda é pouco falado na mídia de grande circulação. Muitas usinas estavam preocupadas em encerrar seus processos de Certificação para iniciar as devidas contratações para regularizar o lastro, escrituração, custódia e a negociação propriamente dita na B3 (antiga BM&F). Outras estão no momento de contratar um dos bancos credenciados pela ANP para fazer a escrituração, custódia e execução de ordens de negociação junto à B3; vale lembrar que o emissor (usina certificada) poderá ter somente um agente de escrituração, cujo contrato pode ser de período inferior a 12 meses. Os bancos credenciados tem diversas propostas para a prestação desses serviços. Algumas delas são bem equivalentes. A escolha, pelas usinas, depende de quanto vai valer o CBIO. E isso, ninguém sabe.
Um bom final de semana a todos.