Publicado originalmente em inglês em 16/10/2020
Não disparou nem derreteu.
O índice de força relativa do ouro nas últimas 24 horas – mesmo com a alta do dólar – ilustrou o que o metal deve ser:
Uma proteção capaz de se firmar por conta própria, inclusive quando a expectativa é que ele se mova na direção oposta dos seus rivais.
Tanto o mercado à vista quanto o futuro do ouro fecharam na zona verde pelo segundo dia seguido na quinta-feira, à medida que a aversão ao risco dominava os mercados após os casos de coronavírus dispararem na Alemanha e na Itália, além dos atrasos nas terapias contra a covid-19 e as medidas de restrição na França e no Reino Unido, que ainda vive o drama do Brexit.
Se não fosse o bastante, ainda pairam dúvidas sobre o que a Casa Branca deseja em relação ao novo alívio contra a covid-19.
O Secretário do Tesouro, Steve Mnuchin, sugeriu um pacote mais modesto e “direcionado” à presidente da Câmara, Nancy Pelosi, no sentido de destinar cerca de US$ 300 bilhões de recursos já alocados para americanos necessitados. O presidente Donald Trump, que concorrerá à reeleição em menos de três semanas, novamente aventou a possibilidade de um pacto de US$ 1,8 trilhão, dando indicações de que poderia até mesmo avançar para os US$ 2,2 trilhões propostos por Pelosi. O senador líder da maioria, Mitch McConnell, enquanto isso, afirmou que só conseguiria votos para um acordo de US$ 500 bilhões.
A miríade de incertezas foi a receita perfeita para um rali no ouro.
Mas o ouro com entrega em dezembro fechou em alta de US$ 1,60, ou 0.1%, a US$ 1.908,90 por onça na COMEX de Nova York. Na quarta-feira, o ouro para dezembro subiu 0,7%, recuperando parte do terreno perdido após afundar 1,8% no dia anterior.
O fato de o metal amarelo subir modestamente no dia não foi uma surpresa. O que surpreendeu foi sua alta junto com a valorização do dólar. O Índice Dólar, que compara a moeda americana a uma cesta de seis divisas, valorizou-se 0,5% no dia, fortalecendo no patamar de 93,68.
Qual deles realmente serve de proteção?
A posição do ouro como ativo de proteção na era moderna do investimento em commodities está bem estabelecida. Da mesma forma, a condição de moeda de reserva do mundo conferiu ao dólar características similares de segurança. Mas essa condição tem sido contestada ultimamente devido ao enorme déficit fiscal aberto pelos gastos do combate à pandemia nos EUA, uma recessão recorde, milhares de empresas fechadas, desemprego histórico e outras patologias econômicas.
O ouro e o dólar já se moveram na mesma direção antes, mas sua correlação direta é rara e, quando acontece, merece inclusive um brinde de champanhe.
Nos primeiros dias da disseminação da covid-19 em março, ambos os ativos subiram brevemente ao mesmo tempo.
Em seguida passaram a divergir, com o ouro ganhando impressionantes US$ 500 por onça, ou 30%, ao atingir as máximas recordes de US$ 2.090 por onça em agosto. O dólar, enquanto isso, caiu 7% nos cinco meses até agosto.
Após o que parecia ser uma eternidade, o par se moveu em uníssono novamente na quinta-feira.
Mas, nesta sexta, moviam-se novamente em direção oposta, com o ouro subindo levemente no pregão asiático, enquanto o dólar derrapava um pouco.
Momento do ouro virá após as eleições nos EUA e pacote de estímulo
A maioria dos observadores do ouro parece estar convencida de uma coisa: o metal amarelo reafirmará sua supremacia sobre o dólar após a eleição de 3 de novembro nos EUA e tão aguardado pacote adicional de estímulo econômico a ser lançado pelo candidato vencedor.
De acordo com Edward Moya, da corretora nova-iorquina OANDA, ao se referir ao candidato democrata Joe Biden e às cores azuis do seu partido:
“O estímulo fiscal antes de 3 de novembro parece menos provável e, se a eleição gerar uma onda azul, o plano de gastos em infraestrutura de Biden será extremamente negativo para o dólar, mas positivo para o ouro".
Os grafistas especializados em ouro concordam, dizendo que o metal pode até apresentar força no curto prazo.
Pablo Piovano escreveu um artigo no site FX Street dizendo que as posições em aberto no mercado futuro da COMEX haviam apresentado alta de quase 8000 contratos na quinta-feira após três quedas consecutivas.
O volume diário aumentou cerca de 31.200 contratos, “prolongando a volatilidade vista ultimamente”, escreveu Piovano.
O analista disse ainda:
“O movimento foi acompanhado por um aumento no volume e posições em aberto, permitindo a continuação dessa tendência no curtíssimo prazo. Dito isso, o próximo alvo relevante está localizado nos picos mensais próximos a US$ 1,920 por onça (12 de outubro)”.
O próprio Investing.com indica “Venda” no ouro para dezembro nos gráficos de 5, 10 e 15 minutos, e “Compra” no gráfico de 5 horas e semanal. O metal pode subir no curto prazo até US$ 1.918 segundo o modelo “clássico” de análise gráfica.
Aviso de isenção: Barani Krishnan não possui posições nos ativos sobre os quais escreve.