Causou certo desconforto a decisão do COPOM de elevar o juro em apenas 0,25 ponto percentual na reunião da semana passada (dia 17), quando o mercado “precificava” uma alta mais agressiva, de 0,5 ponto percentual, visando ancorar as expectativas, para reverter as desconfianças do mercado em relação à autonomia do BACEN no combate à inflação.
Num comunicado bem claro, e até mais completo que os anteriores, a autoridade monetária optou, mais uma vez, pela cautela, diante das incertezas internas e, principalmente, externas. Disse o comunicado:
"O Comitê avalia que o nível elevado da inflação e a dispersão de aumentos de preços, entre outros fatores, contribuem para que a inflação mostre resistência e ensejam uma resposta da política monetária. Por outro lado, o Copom pondera que incertezas internas e, principalmente, externas cercam o cenário prospectivo para a inflação e recomendam que a política monetária seja administrada com cautela."
Pelo lado do cenário interno a inflação segue no limite, já tendo passado o teto da meta (6,5%) em março pelo IPCA, registrando 6,59% em 12 meses, podendo ceder um pouco em abril e maio - o IPCA-15 de abril registrou 6,51% em 12 meses -, devendo pressionar em junho, com o reajuste de transporte no Rio e em São Paulo. Pelo lado da atividade, os indicadores não são conclusivos sobre a retomada da economia, ainda muito lenta e errática. Neste primeiro trimestre, por fatores pontuais, como o aumento da produção de caminhões pesados e os desembolsos mais fortes do BNDES, o crescimento do PIB deve ficar em torno de 1%, mas a manutenção deste ritmo para o restante do ano não está garantida.
No cenário internacional observa-se piora nas últimas semanas. Na Zona do Euro, a Alemanha já começa a perder força diante da recessão da região, já que seu principal mercado exportador se encontra retraído. Com isto, os indicadores alemães começam a desacelerar, sendo novidade seu rebaixamento por uma agência de rating secundária na semana passada. Além disto, as atenções se voltam para a situação da Itália, em permanente crise política, de Portugal, no impasse com os parlamentares sobre a necessidade de novos ajustes, e da Grécia e o Chipre, necessitados de novos aportes.
Sendo assim, para o FMI o crescimento global segue em revisão, agora em torno de 3,3%, sustentado, como nos últimos anos, pelos emergentes, já que as economias desenvolvidas continuam presas nas suas contradições do passado, empacadas pelo alto endividamento e o desemprego. Os EUA crescem menos neste ano (1,9%) e a Zona do Euro deve recuar em torno de 0,3%. Já a China, agora mais preocupada em atender ao mercado interno, crescerá menos do que o esperado pelo FMI (8%), ainda mais depois de divulgado seu PIB anualizado do primeiro trimestre, com expansão de 7,7%. Acreditamos que, pela desaceleração global, e receio com formação de bolhas de crédito, ao fim deste ano deve fechar mais próxima dos 7% do que dos 8%.
Neste ambiente internacional incerto, a queda de commodities se torna inevitável, o que não deixa de ser interessante para o Brasil pelos benefícios que traz no combate à inflação, com a menor pressão chegando aos preços agrícolas. Desde o pico de alta em setembro do ano passado, o recuo destas já chega a 15%.
Retornando ao cenário doméstico, nossa avaliação é de que o BACEN segue refém das declarações desastradas de outros membros do governo, o que contribui ainda mais para esta perda de confiança dos agentes. A revista inglesa The Economist, inclusive, considera a decisão recente do BACEN (de elevação do juro) totalmente atrasada. Por ela, a autoridade monetária segue “atrás da curva”, sendo que esta elevação do juro já deveria ter ocorrido e de forma muito mais intensa do que a da semana passada.
Como se diz coloquialmente, para fazer o mal, o ideal é fazê-lo de uma vez só e não da forma homeopática. Partindo-se daí, a dúvida é saber agora a duração deste ciclo monetário, se curta ou longa. Mantidos estes ajustes “simbólicos” de 0,25 ponto percentual, acreditamos num ciclo até o primeiro trimestre de 2014, com mais 0,75 ponto percentual e o juro fechando a 8,25%. A partir de então não esperamos novos ajustes, até porque 2014 é ano de eleições majoritárias.