Existem empresas que servem para nós surfarmos na alta do mercado como (SA:PETR4), (SA:SA:VALE3), (SA:SA:USIM5) e etc., todas com um beta* elevado, os que as faz seguir o IBOV de perto. Já outras servem para segurarmos o prejuízo da carteira para quando o mercado está rasgando para baixo, como é o caso da (SA:SA:ABEV3) e a (SA:SA:ITSA4), ambas se movendo pouquíssimo, seja para cima ou para baixo.
Mas será que existem empresas que surfam na alta, seguram na baixa e ainda me protegem de um cisne negro** quando o pior acontecer? É o que vamos descobrir na Hora do Gráfico de hoje analisando a Embraer (SA:SA:EMBR3).
*(Beta: índice que mede a relação entre a variação do retorno de uma ação e um índice de mercado (o Ibovespa no nosso caso).
**(Cisne Negro: jargão de mercado para notícias imprevisíveis).
EMBRAER, um olhar por cima da empresa
A Embraer é a maior empresa brasileira produtora de aviões que atua em duas grandes frentes, sendo 1) Fabricação e Comercialização de Aeronaves nos segmentos de Aviação Comercial, Aviação Executiva e de Defesa, além de 2) Suporte e Serviços de pós-venda.
E como a nossa aviação aqui no Brasil não tende ser uma das melhores, tampouco das maiores, a Embraer possui grande parte de seu faturamento advindo do exterior (71% vem da soma de EUA mais Europa e só 11% do Brasil), o que significa... DÓLAR, DÓLAR, DÓLAR!!!
Sim, a nossa amiga possui basicamente a sua receita advinda de exportação e, portanto, tem um faturamento dolarizado. Isso explica por si só nossa argumentação de que a empresa é um bom ativo contra cisnes negros, principalmente quando o dólar explode pra cima com alguma notícia que venha atrapalhar o governo.
Além disso, o beta da empresa é negativo (-0.2664), o que indica que o papel oscila menos do que o mercado como um todo, o que é um ponto para termos este papel na carteira para momentos de stress (como tem sido o atual).
Nos últimos meses, período em que comecei a olhar para a EMBR3, tenho visto que o papel tem ido na contramão do IBOV, tendo ele subido quando o índice cai e vice-versa.
Repare, no entanto, que isso não é regra... o que tem acontecido ultimamente é que com um cenário movimentado fortemente pela política, a bolsa tem subido basicamente com notícias favoráveis à Temer e caído no contrário... e o dólar na contrapartida desse movimento. E já que a empresa se beneficia com a alta do dólar já viu né?
Então em dias de Ibovespa em alta, espere esse papel descendo e nos dias de queda de mercado, espere esse papel subindo... ótimo para operar short principalmente dentro de uma mesma semana (Segunda-Sexta) onde o papel se encaixa certinho nas Bandas de Bollinger, utilizando sempre os topos como sinal de venda e os fundos como sinal de entrada (a linha central pontilhada é outro bom ponto de entrada).
Veja como a empresa se comportou no gráfico de 1 semana:
EMBRAER, APERTEM OS CINTOS!
Mas como nem tudo são flores e nenhum papel possui só pontos positivos, a EMBR3 possui algumas particularidades que cabem somente a ela, dentre os demais papéis da bolsa brasileira.
A empresa trabalha com a construção de aeronaves, o que leva tempo para serem construídas (média de 6 meses a 1 ano, segundo a empresa), além do que bens como estes não são adquiridos à esmo, posto que possuem uma vida útil longa (5 a 10 anos de uso por aeronave).
A demanda por novos aviões possui todo um ciclo de longo prazo, período esse que ocorre quando uma companhia aérea decide atualizar a sua frota, o que não ocorre tão frequentemente assim.
Em dados de 2014, retirados da Associação Brasileira de Empresas Aéreas, a idade média dos aviões no Brasil é de 6,7 anos, idade essa bem menor se compararmos com a idade média das aeronaves de outros países:
E como bem sabemos a EMBR3 possui uma maior participação de vendas para o exterior, o que torna o ciclo da empresa ainda maior.
Se levarmos em conta a parte do faturamento destinado ao setor de defesa então, esse prazo só aumenta. Existe toda uma burocracia para a compra de material bélico entre países que envolvem autorização de governos para orçamento militar, a negociação de especificações nas aeronaves para cada país de acordo com o tipo de aeronáutica que este possui e demais pormenores.
Sendo assim, imaginemos que a EMBR3 trabalha com a demanda em ciclos, o que pode significar que em alguns anos ela terá um resultado de vendas absurdamente maior devido aquele ano coincidir com o início de um ciclo, enquanto que em outros anos pode apresentar um resultado pífio, dado a baixa demanda de países em empresas na renovação de suas frotas.
Olhando o gráfico, foi exatamente o que aconteceu nos últimos anos, quando desde 2012 a receita da companhia e seu EBITDA não pararam de crescer (ajudado em parte pelo dólar que também subiu).
O papel saiu de R$ 12,00 para R$ 30,00... uma senhora alta de 150% em quatro anos... subida invejável para nenhum investidor botar defeito!!! Mas no meio do caminho havia uma pedra. Havia uma pedra no meio do caminho...
Em 2016, quando a empresa informou ao mercado suas previsões de resultado para o ano, o mercado foi pego de surpresa com as perspectivas bastante reduzidas para a companhia, as quais já eram baixas segundo analistas, mas que vieram piores em comunicado pela própria empresa. Além disso, a empresa tomou na contramão um provisionamento de R$ 391 Milhões que foi obrigada a fazer por conta de um pedido de recuperação judicial da empresa norte-americana Republic Airways.
O baque foi tanto que o papel cedeu em um único dia -15%!!! Depois disso foi queda livre... todo o ganho de 4 anos foram água abaixo em pouco mais de 6 meses em um movimento curvilíneo suavizado (linha em laranja). Depois disso o papel só lateralizou e por enquanto está no acúmulo de forças para um novo movimento...
EMBRAER – O que esperar do papel?
Em 2017 o papel teve, incrivelmente ignorando seu beta, grandes movimentos dentro de um mesmo dia.. também pudera, esse ano está difícil fazer leitura grafista com tanto escândalo explodindo nos jornais. Até circuit breaker a gente viu esse ano!!!
Olhando do começo do ano para cá, a empresa até ensaiou uma alta, tocou a casa dos 19 e devolveu tudo. Encontrou novo suporte perto dos 15,00 e dali não desceu. No curto prazo, o gap entre 15,00 e 16,00 será um bom espaço pra operar short, devendo o investidor travar bem seus STOPs para não tomar sustos de quedas de -5%...-6%.. ou mais em um mesmo dia.
Em junho, a EMBR3 desceu em um movimento lateralizado e formou um triângulo descendente, o que na teoria é um padrão de acúmulo de força compradora, podendo ele estourar pra cima nos próximos dias. Repare que o ativo não tem conseguido romper o lado superior do triângulo (até rompeu, mas desceu forte no dia seguinte).
Curioso que, ao mesmo tempo em que triângulo parece estar prestes a se formar, ele fincou um fundo que dá esperanças ao lado dos comprados (seta verde), sendo que justamente hoje (14.07.2017), dependendo de como o papel fechar ele pode sinalizar:
a) Se houver um rompimento para cima: vai buscar o topo da banda superior de bollinger, patamar que deverá ser atingido próximo ao começo de Agosto. Vai encontrar dupla resistência em 1º) banda superior e 2º) EMA200... essa bem forte.
Se conseguir romper ao mesmo tempo as duas resistências segure-se nas cadeiras que o papel vai decolar (busca os 18,00).
b) Se utilizar novamente o lado superior do triângulo como resistência: se não conseguir romper nos próximos dias o triângulo pra cima, o papel vai continuar nesse lenga-lenga de “vai não vai” e é provável que vá lateralizar novamente, dessa vez na banda entre os 15,00 e 14,00...
O que pode mexer com o papel?
Logo mais começam a sair os resultados do 2ºTri das empresas e dependendo do que a Embraer soltar o papel pode agilizar tanto sua alta como a sua baixa. Além disso, com seu resultado trimestral a empresa geralmente solta também suas perspectivas de resultado para os próximos trimestres, dando maior força a um dos movimentos (altista se as perspectivas forem boas e baixistas se forem ruim).
Atenção também à retomada da economia, que pode influenciar bastante a encomenda por aviões das companhias nacionais (GOLL4 (SA:SA:GOLL4) e AZUL4 (SA:AZUL4)) que devido à maior demanda podem querer renovar e/ou aumentar a sua frota de nacionais (aviões pequenos/médios) e internacionais (aviões médios/grandes).
DISCLAIMER: ISTO É APENAS UM COMENTÁRIO SOBRE ANÁLISE TÉCNICA E NÃO CONSTITUI NENHUMA ESPÉCIE DE ACONSELHAMENTO FINANCEIRO