Em meio a tantas divergências no mercado financeiro, num ponto as opiniões se convergem: os fundamentos são os pilares do valor de qualquer empresa. Então, por que ignorar os fundamentos da economia brasileira e, indiferente a cada dado econômico que sai de mau a pior, comprar bolsa?
Nesta terça-feira, 02 de junho de 2020, o ibov (índice ibovespa – principal índice de ações da bolsa de valores do Brasil) alcançou a marca dos 91mil pontos. E em plena pandemia de covid-19 que assola o país e que já custa cerca de 31 mil vidas, os fundamentos da economia brasileira parecem não refletir com fidelidade o otimismo dos operadores comprados em ibov a 91k.
Com quarentenas longas nas principais metrópoles e o fechamento de diversos comércios de vários setores, nosso PIB (Produto Interno Bruto) encolheu 1,5% em relação ao último trimestre com projeções de um tombo de cerca de 6,25% em 2020. A geração de emprego, outro dado de extrema relevância, anda tão ruim quanto nosso combalido PIB. O desemprego já atinge 12,9 milhões de pessoas, uma alta de 1,3% segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Nível de desemprego este aferido no primeiro trimestre de 2020, com dados fechados no início do mês de abril o que nos dá uma ideia do tamanho do abismo que ainda está por vir. Entretanto, tais dados parecem não impactar a tomada de decisão de quem compra bolsa nesse momento. Os 91 mil pontos convergem a patamares de 2019 em pleno “bullmarket.”, com um otimismo promovido pelas reformas estruturantes e agenda liberal, encabeçadas pelo Ministro Paulo Guedes; pelo crescimento do PIB em 0,4% já no segundo trimestre, além do crescente aumento de empregos formais que no segundo trimestre já alcançava a marca de 294 mil novos postos.
Era em meio a esse cenário de “bullmarket”, sustentado pela melhora acentuada dos indicadores econômicos do país que o investidor aceitava pagar 14 vezes o lucro do ibov (índice P/L do ibovespa). Hoje os investidores pagam 13 vezes o lucro num cenário atual caótico, com diversas empresas assistindo seus lucros derreterem até incríveis 90%. Então, de fato o que sustenta tal otimismo presente nos pregões da bolsa brasileira no momento atual? A velocidade com a qual os operadores vem pagando ágio nos ativos da bolsa brasileira também é particularmente curioso.
O índice Bovespa levou cerca de 130 pregões para sair do patamar dos 70mil pontos lá em meados de junho de 2018 e atingir os 91 mil pontos em janeiro de 2019. E, pasmem, foram necessários apenas 48 pregões para o mesmo índice contendo majoritariamente as mesmas empresas, só que agora num cenário brutalmente pior, saí dos 62 mil pontos e atingir os 91 mil.
Nessa aceleração de preços não é de se surpreender com ibov a 100 mil pontos mais uma vez. O que causa um nó na cabeça de qualquer investidor de valor procurando premissas para inserir em seus modelos de “Valuation” que culminem numa justificada compra de ibov a 100 mil pontos em meio a dados pífios da economia brasileira.