Antes de qualquer coisa quero dizer que esse é um texto pragmático. O objetivo aqui é desenhar cenários dentro do possível. Não se considera, nesta análise, nenhum processo abrupto de ruptura ou mudança do sistema vigente. Dito isto, vamos aos fatos: temos um presidente com baixíssima capacidade de articulação política, uma crise fiscal gravíssima, um vice-presidente que emite declarações de forma razoável e um presidente da Câmara dos Deputados comprometido com reformas e com 48 anos de idade.
A incapacidade do governo de coordenar minimamente a sua base aliada e de produzir resultados positivos no legislativo, às vésperas da reforma da previdência, assusta os agentes econômicos. Neste momento, os players estão perdendo a confiança na capacidade do governo de entregar o prometido durante a transição e nos primeiros meses de mandato. Isso se materializou, em parte, na cotação da bolsa em 89 mil pontos e do dólar em R$ 4,10, na última sexta-feira.
O buraco fiscal é gigante. Sem uma reforma da previdência, que é condição necessária para retomada da confiança na economia, não avançaremos. Além da reforma da previdência precisaremos do congresso nacional para outras tantas reformas que produzam ganhos de eficiência e produtividade à economia brasileira, como por exemplo, a reforma tributária. Não apenas este governo, como qualquer outro estará condenado ao fracasso se não articular com o parlamento nacional.
Diante do exposto, destaca-se a figura do vice-presidente Hamilton Mourão. O general parece ser um homem de muito bom senso, conhece o mundo, estudou economia e ainda tem equilíbrio em suas opiniões. O que agrada, de forma mais ampla, diversos setores no aspecto político. O vice é uma figura mais tratável e sensata, o que o coloca em uma posição de total contraste com o desequilíbrio aparente do Presidente Jair Bolsonaro.
Completando a minha avaliação sobre o cenário atual da política brasileira, temos o Rodrigo Maia, jovem presidente da Câmara dos Deputados. Maia é extremamente alinhado com as ideias liberais do Ministro Paulo Guedes, possui uma grande capacidade de articulação com seus pares e com o Senado Federal. O mesmo tem mostrado que é pragmático e tem foco em uma agenda para superação da crise econômica e sinaliza que fará isso de maneira autônoma e, principalmente, tem apenas 48 anos de idade, o que em política é uma grande vantagem quando se pretende voos maiores.
Então, por tudo isso, eu digo: Temos um hedge natural[i]. As instituições no Brasil funcionam e mostraram isso em períodos agudos vividos nos anos recentes e agora, se necessário, devem funcionar novamente, mas dessa vez com garantias da continuidade de uma agenda robusta e próspera. Assim, mesmo que o presidente Jair Bolsonaro peça pra sair ou o coloquem pra fora, não tenho grandes preocupações. Entretanto, como diz a própria literatura financeira, não existe hedge perfeito.
Thobias Silva é economista.
[i] O hedge natural funciona como uma proteção indireta de uma carteira de ativos financeiros