Publicado originalmente em inglês em 19/01/2021
Os investidores demonstraram preocupação com o fato de a taxa de equilíbrio de inflação de 10 anos dos EUA superar 2% e permanecer nesse patamar por alguns dias. Esse movimento foi acompanhado da alta dos rendimentos dos treasuries que, ao contrário do desempenho histórico, continuaram disparando apesar de diversas indicações de um primeiro semestre difícil na economia americana.
Mas parece haver pouca preocupação genuína com a possibilidade de a inflação sair do controle a qualquer momento. Na mesa-redonda anual de Barron, poucos participantes expressaram preocupação, pelo menos para o corrente ano.
Meio século de inflação baixa pela frente? Rendimento de 10 anos a 1,5%?
Entre as autoridades do Federal Reserve, apenas Esther George, presidente do banco regional de Kansas, alerta para a possibilidade de a inflação voltar com tudo assim que os trabalhadores de serviços voltarem ao mercado no segundo semestre.
Um professor emérito de Economia da London School of Economics, Meghnad Desai, chegou até mesmo a prever meio século de inflação baixa, reconhecendo que está colocando seu pescoço em risco com tal projeção.
Grandes mudanças econômicas alteraram o paradigma, em sua visão, na medida em que robôs e a inteligência artificial removeram com eficiência a pressão dos salários sobre os preços no futuro próximo, pelo menos no Ocidente. O serviço da dívida como porcentagem do PIB – medida que ele acredita fazer mais sentido do que a relação de dívida-PIB padrão – está bastante baixo, apesar da explosão dos empréstimos governamentais.
Os investidores dos treasuries estão de certa forma mais cautelosos com a inflação, e isso claramente era um dos fatores que estavam impulsionando os rendimentos desses títulos. O mais importante, segundo analistas, foi a perspectiva de mais um estímulo fiscal de US$ 1,9 trilhão no novo governo. Joseph Biden tomará posse como 46º presidente dos Estados Unidos nesta semana e já anunciou seus planos de gastos para superar o impacto da Covid-19.
O rendimento do título referencial de 10 anos do Tesouro americano registrou pico acima de 1,13%, ante 0,9% no início do ano, apesar de ter recuado abaixo de 1,09% no último pregão. O rendimento dos títulos de 30 anos subiu quase 20 pontos-base, alcançando quase 1,84%, mas também acabou perdendo terreno.
Alguns analistas elevaram suas previsões para o ano, acreditando que o rendimento de 10 anos alcançará 1,5% até o fim do ano.
Segundo esses mesmos analistas, a dívida extra manterá os preços dos treasuries deprimidos, já que seus rendimentos se movem na direção oposta da sua cotação. A forte recuperação econômica esperada após a vacinação também deve contribuir com esse fenômeno.
No entanto, a lenta campanha de imunização e dados econômicos desfavoráveis estão amortecendo a queda dos treasuries e impulsionando os rendimentos, fazendo com que alguns investidores aproveitem o momento para se posicionar de forma estratégica.
Os investidores arremataram US$ 38 bilhões em notas de 10 anos do Tesouro americano na semana passada e entraram com tudo na emissão de títulos de US$ 24 bilhões. Nesta semana haverá um leilão de US$ 24 bilhões em títulos de 20 anos.
Os mercados estão aguardando para ver como os investidores externos vão agir, principalmente do Japão. O iene se valorizou contra o dólar e os custos de hedging caíram. A dívida americana está oferecendo um raro rendimento positivo. Mas a sensação é que os investidores japoneses querem ver os rendimentos dos treasuries subir um pouco, o que pode ter sido frustrado.
As autoridades do Fed também rechaçaram a ideia de “recalibragem” nas compras de títulos neste ano, o que enfraqueceu ainda mais os rendimentos.