Incertezas Globais Pressionam por Reformas Profundas dos Emergentes

Publicado 15.02.2016, 11:03
CL
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Enquanto o Brasil brincava o Carnaval (crise? que crise?) o mundo voltava a sentir o tranco da possibilidade de uma forte desaceleração da economia global nestes próximos meses.

Na semana passada as bolsas da Europa, dos EUA e, em parte, da Ásia, acusaram o golpe de um barril de petróleo em contínua desaceleração e desabaram num nervoso movimento de sell-off. Os maiores tombos foram originados das ações dos bancos com os investidores receosos de uma conjunção de fatores negativos. Poderíamos citar alguns como maior preocupação com as carteiras de ativos carregadas de títulos recheados de commodities; perspectiva de menor crescimento da economia global; piora nas condições de crédito das empresas, aumentando o risco de inadimplência, e excesso de recursos injetados pelos Bancos Centrais nos sistemas, contribuindo ainda mais para a piora desta qualidade deste crédito.

Sem dúvida, o mundo sofreu um solavanco nesta semana diante do risco de colapso da economia. A cotação do barril de petróleo, inclusive, recuou forte, chegando a US$ 26. No transcorrer da semana a presidente do Fed, Janet Yellen, resolveu ser mais cautelosa nos seus discursos no Congresso e praticamente enterrou a possibilidade de elevar a taxa de juros agora em março na reunião do Fomc, dias 15 e 16. Soma-se a isto, no mercado de petróleo, mesmo com o AIE achando que a cotação de petróleo deve se manter em queda, diante de um aumento dos estoques, os grandes players da Opep, entre idas e vindas, já passaram a cogitar em cortar a produção, diante desta descendente espiral recente do barril. Neste contexto, cabem comentários sobre estes três principais fatores a tumultuar o mercado: a trajetória do barril de petróleo, os rumos da economia chinesa e também dos EUA. Falemos, um pouco, sobre cada um deles.

Rumos da economia chinesa. Nesta semana que passou não tivemos muitas notícias sobre a China, em função do feriado do Ano Novo Lunar (2016, Ano do Macaco). Chamou atenção, no entanto, o fato de estarem ocorrendo fortes perdas nas reservas cambiais no País, ainda robustas, em torno de US$ 3,2 trilhões, mas preocupantes, dado o aumento da desconfiança dos investidores externos sobre o rumo do País. Em janeiro, as reservas recuaram em US$ 99,46 bilhões, abaixo do esperado pelo mercado (US$ 120 bilhões). Muitos acham que se este ritmo de perdas se manter nos próximos meses, ao fim de 2016 estas reservas poderão estar em apenas 15% do PIB, contra os atuais 30%. Desde o seu pico, em junho de 2014, já foram queimados cerca de US$ 770 bilhões em reservas cambiais no País.

Deve-se atentar, no entanto, ao fato de que o Banco Popular da China se encontra num dilema. Seria de bom grado estimular novas depreciações do yuan, para turbinar as exportações e tentar brecar o ritmo de desaceleração da economia chinesa. O problema é que se acelerar este ritmo de depreciações, acabará afetando as empresas carregadas de dívidas em dólar (estimadas em US$ 1,2 trilhão em meados de 2015). O mais sensato, portanto, será o BPC manter uma política ordenada de depreciações cambiais da sua moeda. Não apostamos numa maxidesvalorização, em função destas dívidas corporativas e das turbulências que poderia causar à economia global. Em paralelo, é possível que o banco adote um progressivo afrouxamento monetário, conjuntamente ao aumento do controle de capital.

Aguardemos o Congresso do Partido Comunista Chinês em março, quando novas diretrizes devem ser dadas para a economia do País. Teremos novas projeções de crescimento da economia e um novo target para a cotação do yuan. Lembremos que a economia cresceu 6,9% em 2015 e, na nossa visão, deve desacelerar a 6,5% neste ano e 6% em 2017.

Rumos da economia norte-americana. Yellen, presidente do Fed, foi bem cuidadosa em depoimento no Congresso na semana passada. Disse que “acontecimentos econômicos poderiam afetar a trajetória da economia norte-americana e também que uma contração não seria iminente”. Para ela, no entanto, “sempre haveria chances de recessão em qualquer ano, mas as evidências sugeririam que não”. Além disto, disse que o cenário externo em stress, com o petróleo em queda e a China desacelerando, reforçava esta cautela. Diante disto, acreditamos que a taxa de juros de curto prazo, o Fed Funds, só deve ser elevada depois de junho e não mais agora em março. Comenta-se mais sobre a possibilidade de dois novos ajustes da taxa neste ano. Já a economia norte-americana, depois de crescer em torno de 2,4% em 2015, deve desacelerar neste início de 2016, dados os estoques elevados, o ajuste nas bolsas de valores, o rigor do inverno, além dos fatores citados acima. Em 2016 e em 2017, a economia deve crescer, na média, em torno de 2%.

Rumos da cotação do petróleo. Difícil traçar qual será a cotação do barril de petróleo ao fim deste ano. O comportamento da Arábia Saudita, resistente ao corte da produção, o fim do embarco para o Irã, o que deve aumentar a produção mundial em 500 mil barris, e a economia global em desaceleração contribuem, em parte, para este quadro. Na semana passada, o barril de petróleo, pelo WTI, recuou a US$ 26,70, num mergulho de mais de 70% desde o início do ano passado. Muito se especula, no entanto, sobre a possibilidade de cortes de produção em breve, o que poderia levar o barril a um patamar considerado mais próximo ao equilíbrio, entre US$ 50 e US$ 60.

Comentários finais. Vivemos uma fase de transição, em que as incertezas teimam em se manter à tona. Neste cenário, essencial será os países emergentes avançarem em reformas mais profundas das suas economias, a exemplo das feitas pela Índia, crescendo próximo a 7% em 2015. Ou seja, neste mundo cercado de crises, de acomodações, países que fizerem seu “dever de casa”, um ajuste fiscal mais robusto e colocarem na mesa uma agenda de reformas, mais favorável ao consenso global, estarão mais blindados contra possíveis choques externos. Lembremos também dos nossos vizinhos hermanos argentinos, sob o comando de Maurício Macri, tendo sido elevada sua nota de crédito recentemente, devido aos seus acertados movimentos, mais favoráveis a uma economia de mercado.

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