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Inflação, a Gente Vê Por Aqui. E Por Ali Também!

Publicado 16.12.2021, 16:33
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Você sabia que a inflação nos EUA atingiu o maior patamar dos últimos 40 anos, de acordo com o dado mais recente de novembro?

A inflação ao consumidor acumulada em doze meses registrou alta de 6,8% na maior economia do mundo - o patamar mais alto desde junho de 1982, e muito acima da meta do Banco Central americano, de média de 2%.

Para a surpresa daqueles que achavam que era só por aqui, o movimento de alta acelerada dos preços foi puxado por diversos fatores que temos visto por aqui, como: carros novos e usados, e gasolina.

Ou seja, não estamos sozinhos na luta contra os preços em alta. Os culpados pela onda inflacionária? Normalização da economia (com serviços reabrindo, sem ninguém querer ficar para trás na retomada de preços), commodities nas alturas e desarranjos nas cadeias de produção globais – todas essas alimentadas por juros baixíssimos e pacotes fiscais implementados durante a pandemia.

Em outras palavras, muito dinheiro na praça aqueceu a demanda por produtos em uma economia com a produção parcialmente fechada, levando a diversos desequilíbrios. Começou a faltar de tudo. A principal consequência: pressão sobre os preços.

Nossa cereja do bolo inflacionário: a moeda desvalorizada

É claro que saber que os preços nos EUA e outros países no mundo também estão em elevação rápida não significa que não temos nossa “parcela de culpa no cartório”. No caso, alguns movimentos que observamos no cenário doméstico também contribuíram para que nossa inflação atingisse 10,7% em doze meses, até novembro.

Entre eles, podemos citar a própria questão climática, com a falta de chuvas afetando o fornecimento de energia hidroelétrica, e aumentando os preços de muitos bens e serviços, além da própria energia para consumo familiar.

Uma outra questão importante é a piora da percepção de risco fiscal, que impacta a inflação por duas principais frentes: as expectativas de quanto os preços estarão no futuro, e o valor da nossa moeda.

Na primeira, o aumento de gastos do governo leva a percepção de que a inflação alta de hoje não enfraquecerá amanhã. Desse modo, muitas pessoas já consideram esse aumento futuro entre os preços e ninguém quer ficar para trás. Logo, a inflação efetivamente sobe.

Já do lado da taxa de câmbio, a incerteza sobre quanto valerá um investimento em reais, no futuro, faz com que os investidores cobrem ainda mais para emprestar dinheiro ao Brasil, e “precifiquem” esse risco onde podem – incluindo no valor da nossa moeda. Assim, o real perde valor - ou “o dólar sobe”.

E se o real não tivesse perdido valor?

Uma moeda desvalorizada impacta os preços internos. Não somente porque 30% de tudo o que consumimos aqui é importado (direta ou indiretamente), mas também porque diversos preços são comercializados no mundo, com base no dólar, em especial as commodities – como alimentos e matérias primas. Assim, quando o dólar sobe aqui, o pão fica mais caro, pois importamos a farinha; a gasolina fica mais cara, pois importamos petróleo refinado; a carne fica mais cara, pois é negociada no mercado internacional, e nenhum produtor optará por cobrar menos para vender internamente. Em economia, chamamos esse efeito de pass through.

Chegamos à seguinte questão: tirando o dólar, ainda teríamos inflação alta? A resposta é: sim. Quanto? Difícil dizer. Em uma conta rápida, se o real valesse o mesmo que meados do ano passado, teríamos inflação perto de 9,7% ao ano (ao invés dos 10,7% de hoje) [1]. Só na gasolina, 20% da alta do ano veio do câmbio.

Até quando essa onda inflacionária deve durar? Também é difícil dizer. Mas uma coisa é certa: Com um passado de gastos do governo sempre crescendo sem priorização, e descontrole inflacionário (sempre com fundo fiscal), precisaremos de uma dose bem mais amarga do remédio dos juros por aqui para sossegar os preços, do que nossos migos que falam inglês.

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