A leitura do IPC, o índice de preços ao consumidor dos EUA, não agradou o mercado que esperava uma deflação em agosto e uma desaceleração maior na taxa acumulada de 12 meses, com leitura de 8,3% ante expectativa de 8,1%.
Após a divulgação, os principais índices das bolsas americanas entraram em território negativo, enquanto o VIX, conhecido como o índice do medo, ganhou mais de 6% e o dólar, mensurado pelo DXY, se fortaleceu.
O motivo para o cenário descrito acima está na mudança das expectativas do mercado quanto aos próximos passos do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, para a decisão dos juros. Juros mais altos desfavorecem o mercado de ações, favorecendo o mercado de títulos públicos e, consequentemente, fortalece a moeda americana, levando a maiores pressões de desvalorização para moedas de economias emergentes, como o real.
Para entender melhor as expectativas do mercado quanto à política monetária dos EUA, ontem, o Monitor da Taxa de Juros do Federal Reserve do Investing.com mostrava uma probabilidade de 89% para a alta de 0,75 ponto percentual (p.p.) e de 11% para 0,50 p.p para a reunião do Fed que acontece na próxima semana.
Contudo, após a divulgação do IPC o cenário mudou drasticamente: agora, saiu de cena apostas para alta de meio ponto percentual e cresceu a expectativa de um aumento de 1 ponto percentual, que enaltece um cenário de taxa de juros nos EUA de 4% no fim do ano. Embora as chances de aumentar 75 pontos-base se mantêm majoritária, a probabilidade de alta de 100 pontos-base chegou a 23%.
Em outras palavras, o cenário corrobora com uma política de aumento de juros na economia americana de forma mais intensa do que a imaginada no início do ano, quando se levantava a hipótese da inflação transitória. Hoje, ainda que foram observados vetores baixistas derivados de itens voláteis como a energia, o grupo de serviços, aluguel e saúde aceleraram em relação ao dado de julho.
Ou seja, a composição da inflação dos EUA ainda se mantém em um cenário negativo, fortalecendo a tese que o Fed deverá manter a escalada dos juros pelo menos na mesma magnitude observada nas duas últimas reuniões, 0,75 p.p. mantendo o tom hawkish e, sem dúvida, deverá reforçar seu objetivo de controle da inflação, esse a qual deverá levar ao que hoje já se discute: “higher for longer”, em outras palavras, manutenção dos juros em níveis restritivos por um longo tempo.