Que diferença uma semana pode fazer no ouro. Na sexta-feira passada, eu ressaltei a resiliência do metal em se firmar no patamar-chave de US$1800 por onça-troy, apesar do rali combinado no rendimento dos títulos do tesouro americano e no dólar.
Agora, enquanto escrevo, o contrato mais próximo do ouro negociado na Comex de Nova York está tentando voltar para a região dos US$1800, depois de perdê-la nas últimas duas sessões.
Gráficos: cortesia de skcharting.com
A queda sequencial entre quarta e quinta-feira, após o Federal Reserve revelar a nova era de política monetária mais rígida nos EUA – o que não é nada bom para o ouro –, varreu quase US$60, ou 30%, do valor do seu contrato futuro.
O movimento desfez duas semanas de trabalho intenso dos investidores, na tentativa de fazer o metal voltar ao patamar de US$1900 no curto prazo, o que poderia ensejar alvos acima de US$2000 no longo prazo.
Embora a região de 1800 ainda estivesse bem perto de onde o metal estava sendo negociado na sexta-feira, quando atingiu a máxima intradiária de US$1.798,30, o maior problema era superar a forte resistência a 1830-1835.
Somente na segunda-feira o ouro quebrou esse impasse, atingindo a máxima de 1854, diante do temor de uma inflação maior nos EUA, já que o metal é considerado como uma proteção contra pressões de preços na economia.
Agora, aquela resistência pode se consolidar ainda mais, depois do estrago causado pelo Fed.
“O ouro está há meses consolidado na faixa de 1785 a 1835”, disse Phillip Streible, estrategista de metais preciosos da Blueline Futures, em Chicago. Ele disse ainda:
“Quando superou 1850 nesta semana, os investidores ficaram animados por supostamente terem aberto uma nova rota de alta. Bem, o Fed acabou provando que não era o caso. Os investidores do ouro vão ter que refazer seus planos”.
Streible, entretanto, disse que aproveitou a queda de quinta-feira para comprar, “na crença de que possa voltar para 1800.”
O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, após a reunião de política monetária de quarta-feira, não descartou a possibilidade de os juros nos EUA subirem todos os meses do ano, após a primeira elevação pós-pandemia, a partir de março.
O ouro sempre foi considerado como uma proteção contra a inflação, apesar de as altas de juros geralmente serem prejudiciais para o seu desempenho.
O Fed reduziu sua taxa de juros para quase zero após o aparecimento da Covid-19 em março de 2020 e a manteve nesse patamar por quase 20 meses. Powell e outras autoridades do Banco Central defendem que é necessário realizar uma série de altas de juros agora para conter as pressões de preços causadas pelos trilhões de dólares gastos durante a pandemia e pelos desarranjos gerados pela crise nas cadeias de fornecimento.
Antes da corrida de janeiro, o ouro enfrentou problemas para cumprir sua missão de hedge inflacionário, na medida em que o Índice Dólar e o rendimento dos treasuries dispararam na expectativa de elevações de juros. Isso aparentemente mudou quando o metal amarelo superou a resistência de 1835 há mais de uma semana e permaneceu acima desse patamar.
“O que houve, na verdade, foi um rompimento falso dos 1850, já que o Fed acabou adotando um tom muito mais duro do que muitos esperavam, o que fez com que o ouro recuasse para 1791”, declarou Sunil Kumar, analista técnico especializado em commodities.
Dixit afirmou que a leitura do estocástico semanal de 60/69 havia feito um cruzamento negativo abaixo da linha de 70, com o apoio do Índice de Força Relativa, mostrando o predomínio dos vendedores no mercado.
Ele disse ainda:
“A correção parece estar longe de acabar, já que o fechamento semanal abaixo de 1797 – nível correspondente à retração de 50% de Fibonacci, medida desde a mínima de 1678 de março de 2021 até o pico de 1916 – pode estender o viés baixista, com alvos em 1785, 1770 e 1753 inicialmente”.
Por outro lado, a leitura de 11/32 no estocástico diário estava se aproximando do território sobrevendido, disse Dixit.
“Isso pode iniciar uma reversão de curto prazo até meados da próxima semana, causando um repique nos preços para um reteste dos níveis de 1818-1825-1835”.
Apesar de o cenário de curto prazo não ser favorável ao ouro, alguns analistas continuam esperançosos de que o metal recobrará seu vigor até as máximas recordes neste ano, se a temática da inflação nos EUA continuar forte ao longo de 2022.
Em 2020, o ouro atingiu as máximas históricas acima de US$2100 na esteira das preocupações inflacionárias, já que os EUA começaram a acumular seu maior déficit orçamentário com o surgimento da Covid-19.
Mas outros opinaram que os desafios diante do ouro nessa nova fase da política monetária dos EUA “não devem ser subestimados”.
“O ouro está vulnerável a mais vendas técnicas agora que o nível de 1800 foi rompido, com 1760 se consolidando como suporte-chave”, disse Ed Moya, analista da plataforma online de negociações OANDA.
“A aversão ao risco pode atrair novos fluxos para o ouro, mas isso não vai acontecer antes que a liquidação termine".
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para dar diversidade às suas análises de mercado. A bem da neutralidade, ele por vezes apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.