Há muita coisa acontecendo no mundo, e os investidores estão abandonando o apetite ao risco, com rápida guinada para maior proteção de seus investimentos. Essa parece ser a tônica de curto prazo para os mercados de risco.
Com efeito, existem muitas especulações em relação à expansão da inflação mundial, e Bancos Centrais em todo o mundo, com destaque para os de países desenvolvidos, discutem abertamente sobre a retirada de estímulos (tapering). O movimento foi iniciado pelo FED americano, mas criou ramificações pelo BCE (BC europeu), com muitos membros querendo reduzir a compra de ativos, mas também pelo BOE (BC inglês) e outros. A Austrália, por exemplo, na semana passada, manteve a taxa de juros estabilizada no nível mínimo de 0,25%, mas declarou que vai iniciar a redução de compra de ativos.
Alguns Bancos Centrais de países emergentes optaram por elevar juros, caso do Brasil, da Turquia e Rússia. Alguns querem produzir alguma distensão como o PBOC, da China, e o BOJ, do Japão. Mas todos, sem exceção, estão preocupados com a escalada da inflação e com muitas dúvidas se isso seria uma variação temporária por desequilíbrios em setores da atividade e por insumos para a indústria, fruto da reabertura econômica. Porém, é fato que a inflação tem surpreendido em alta, numa situação inusitada para Bancos Centrais lidarem com a política monetária e governos com a política fiscal. Aqui, acreditamos que boa parte da inflação seja transitória.
A desaceleração recente mostrada pela China mexe com os preços das commodities no mercado internacional, e até a Opep+ segue em dúvida sobre o equilíbrio do preço do petróleo e seus derivados. No fim de semana passado, Arábia Saudita e Emirados Árabes conseguiram formatar um acordo para ampliação da produção e da oferta de óleo, aumentando em 400 mil barris/dia, mas ainda longe do corte anteriormente realizado.
Deveríamos ter começado a expor pela covid-19 e o espectro assustador da variante Delta, que vem aumentando o número de infectados recentemente. Falei em situação inusitada para os Bancos Centrais, por ser uma crise sanitária e não do sistema financeiro (mas pode vir a se tornar). Felizmente, essa infecção parece ocorrer entre os não vacinados, enquanto as hospitalizações e os óbitos seguem em queda. Mas é preciso muito cuidado com a reabertura dos países. Por aqui, já foram computados 97 casos de infecção pela variante Delta. Somente 42% da população recebeu alguma dose da vacina e estamos procedendo a reabertura e o contato social.
Pois bem, tudo isso trouxe de volta a percepção de proteção dos investimentos, ainda que numa postura de curto prazo. Isso acabou por desequilibrar mercados acionários, câmbio e juros, o que tem agregado enorme volatilidade aos preços dos ativos. Convém juntar a isso os resultados de empresas referentes ao segundo trimestre de 2021, que mexem pontualmente com a precificação dos ativos.
Se isso é verdade para o mundo e nos afeta em até maior intensidade, por aqui também temos nossos problemas, que não são poucos, e que tornam os mercados ainda instáveis. Temos números difíceis de administrar nas nossas contas públicas, com os três poderes sem se entenderem, o que inibe alterações significativas. Temos eleições majoritárias em fins de 2022, que começaram a ser discutidas precocemente e adiam reformas e ajustes de medidas. Um presidente buscando ser reeleito e o risco de adoção de medidas populistas.
O Brasil tem pressa e precisa de reformas estruturantes para equacionar a saída da pandemia e retomar os investimentos. Precisa de segurança jurídica para conseguir atrair investidores internos e externos, além de parcerias perenes. Precisa equacionar melhor o tamanho do Estado brasileiro sem retrocessos, mas tudo isso fica imensamente complicado com a postura beligerante impressa pelo presidente, um Congresso visceral preocupado com eleições e com ampliar recursos para gastança e um judiciário assoberbado por muitas demandas, que num ambiente de concórdia não teria sentido.
É fato que precisamos planejar o Brasil dos próximos 20 anos e acelerar os ajustes. Mas os deuses estão em conluio contra. Nesse ambiente, os investidores aderem ao ditado popular que diz: “prudência e canja de galinha nunca fizeram mal para ninguém” e, ainda que baratos, os mercados não evoluem.