Jogo da Imitação

Publicado 18.06.2015, 20:05
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Na asa do vento

Como diria João do Valle - ok, eu também prefiro a versão do Caetano: “A ciência da abeia, da aranha e a minha muita gente desconhece. Muita gente desconhece, olará, viu? Muita gente desconhece.”

Não sou lá muito fã da metalinguagem. Hoje, porém, permitirei-me o texto falará um pouco de si mesmo.

“Ai, como a Empiricus consegue ter ideia nova todo dia? Deve ser difícil isso, né? Escrever algo interessante a cada 24 horas.”

A resposta é bastante simples: muitas vezes, a ideia não é nossa. Há muita gente inspiradora por aí. Não é isso que fez a Apple ao replicar conceitos e instrumentos da Xerox? E não é isso que a Microsoft fez/faz com a Apple?

Back to the future

Instiga-me fortemente, por exemplo, as visões do gestor Ray Dalio e do megainvestidor Marc Faber sobre ouro. Ambos têm sido bastante taxativos.

O primeiro diz algo assim: “ora, meu caro, só há uma razão para você não ter algo de ouro: você não conhece ou não estudou história econômica. O metal precioso sempre foi, em maior ou menor grau, um tipo de moeda, servindo de reserva de valor, unidade de conta e meio de troca. Deve, portanto, fazer parte de todos os portfólios como ferramenta de diversificação. Você pode ter muito ou pouco, mas alguma coisa precisa ter. Eu, pessoalmente, tenho muito.”

E o Marc Faber alerta de forma explícita: “2015, ou talvez 2016, pode ser o ano em que a credibilidade dos Bancos Centrais estará ferida de forma indelével, como reconciliação a toda a distorção que criaram nos mercados e nas economias desde 2009. Compre ouro como seguro contra um enfraquecimento das autoridades monetárias e sua concepção de moeda fiduciária.”

A propósito, o ouro beneficia-se dos comentários pombásticos de Janet Yellen ontem e sobe 2% no mercado internacional hoje, para US$ 1.200/onça, patamar em que parece sentir-se mais confortável.

Meu maior pesadelo

Outra visão que tenho gostado é de Michael Hartnett, do Bank of America Merrill Lynch. Ele tem alertado sobre a necessidade do Fed enterrar o fantasma de 1937, quando o aperto monetário conduzido à época levou a uma queda subsequente de 50% das ações norte-americanas.

Enquanto uns preocupam-se com a repetição da dinâmica, Hartnett aponta as diferenças entre as situações, citando que, diferentemente do observado na década de 30, o desemprego está caindo e a inflação começa a aumentar. Assim, os riscos à economia e aos mercados da postergação do aperto monetário, cada vez mais, parecem superiores aos riscos de antecipação.

Início da Segunda Guerra Mundial

Há tempos, defendo que os mercados devem se preocupar mesmo é se o Fed for obrigado a atrasar a subida de juro. Pois aí teríamos um cenário efetivamente complicado, ligado à ideia de estagnação secular. E como poderíamos reanimar as economias se os juros já estão zerados?

Ademais, as semelhanças entre o momento atual e a década de 30 parecem substanciais. A crise de 2008 encontra um único paralelo na história: 1929. Também agora volta o papo de secular stagnation, retomando a cunhagem do termo por Alvin Hansen, em 1938, e somente nesses dois períodos houve expansão tão rápida do balanço do Fed, de 5% para 25% do PIB.

Meu maior medo não é de que o Fed venha, em 2015, a repetir 1937. O maior pesadelo seria o mundo repetir 1939.

Abeia, Baleia e Pitangueiras

Claro que eu também gosto e reverencio a visão do Luis Stuhlberger - e é evidente que não há cópia aqui, pois não podemos copiar o que veio depois. “Flertando com o abismo” me parece primo-irmão do nosso O Fim do Brasil ou, se preferir, dos 10 Anos de Recessão, ainda que seja a versão “mansão na praia da Baleia” para meu apartamento de dois quartos nas Pitangueiras - ok, eu não tenho apartamento nas Pitangueiras, mas sempre quis ter; saudades do Avelinos.

Daí, o dólar, depois de subir 20% no ano, cai 5% em julho e já há matérias: “fundos macro caem em julho com recuo do dólar.”

Esse é o mercado de filisteus em que vivemos, em que todos sabem da necessidade de ignorar retornos de curto prazo, totalmente dependentes da aleatoriedade, e focar em períodos dilatados de tempo. À primeira desconfortável imposição da impiedosa marcação a mercado, lá estão os abutres cobrando imediatismo.

Às favas com os curto-prazistas, que só fazem pagar corretagem e são iludidos pelo acaso. A Carteira Empiricus continuará focada em retornos consistentes e absolutos, no longo prazo. E é isso, junto a outras coisas, claro, que faz com que ela esteja voando em 2015 e desde seu princípio - ah, sim, ela continua apostando no dólar, pesado.

Cópia de mim mesmo

Não escondo meu esporte favorito: imitar a mim mesmo. Sigo à risca os ensinamentos de James Hillman: jamais traia sua alma. Se você o fizer, ela vai se vingar de você. Mantenha-se leal às suas convicções e às paixões, sem vergonha de declará-las por ai.

Anuncio aos quatro cantos, respeitosamente, meu encantamento com a ministra Kátia Abreu. Ela está simplesmente on fire e pode representar um novo paradigma para o setor agrícola brasileiro, abrindo mercados e mudando a lei de acesso estrangeiro às terras. Frigoríficos e agrícolas listadas em Bolsa agradecem. JBS e Marfrig (SA:MRFG3) não me convencem, mas Minerva (SA:BEEF3) pode virar uma pequena jóia. BrasilAgro sempre foi barata, mas agora pode ter encontrado o ambiente necessário para ser percebida.

Hoje também é dia de reverenciar Ribamar Oliveira. No meu entendimento, o melhor articulista sobre setor público no Brasil - sua competência está no mesmo nível dos mais brilhantes economistas da área.

E, por fim, um brinde à maior das minhas paixões profissionais: as ações. Podemos flertar com o abismo, ter 10 Anos de Recessão ou, metaforicamente, encontrar O Fim do Brasil. Não importa. Sempre haverá boas empresas sendo negociadas a preços bastante atrativos. Aqui está uma boa lista para você.

Se você se aproveitar dessas distorções entre preço e valor e focar em assimetrias interessantes, estará rico no longo prazo. Confie nisso. Confie em si mesmo.

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