Na asa do vento
Como diria João do Valle - ok, eu também prefiro a versão do Caetano: “A ciência da abeia, da aranha e a minha muita gente desconhece. Muita gente desconhece, olará, viu? Muita gente desconhece.”
Não sou lá muito fã da metalinguagem. Hoje, porém, permitirei-me o texto falará um pouco de si mesmo.
“Ai, como a Empiricus consegue ter ideia nova todo dia? Deve ser difícil isso, né? Escrever algo interessante a cada 24 horas.”
A resposta é bastante simples: muitas vezes, a ideia não é nossa. Há muita gente inspiradora por aí. Não é isso que fez a Apple ao replicar conceitos e instrumentos da Xerox? E não é isso que a Microsoft fez/faz com a Apple?
Back to the future
Instiga-me fortemente, por exemplo, as visões do gestor Ray Dalio e do megainvestidor Marc Faber sobre ouro. Ambos têm sido bastante taxativos.
O primeiro diz algo assim: “ora, meu caro, só há uma razão para você não ter algo de ouro: você não conhece ou não estudou história econômica. O metal precioso sempre foi, em maior ou menor grau, um tipo de moeda, servindo de reserva de valor, unidade de conta e meio de troca. Deve, portanto, fazer parte de todos os portfólios como ferramenta de diversificação. Você pode ter muito ou pouco, mas alguma coisa precisa ter. Eu, pessoalmente, tenho muito.”
E o Marc Faber alerta de forma explícita: “2015, ou talvez 2016, pode ser o ano em que a credibilidade dos Bancos Centrais estará ferida de forma indelével, como reconciliação a toda a distorção que criaram nos mercados e nas economias desde 2009. Compre ouro como seguro contra um enfraquecimento das autoridades monetárias e sua concepção de moeda fiduciária.”
A propósito, o ouro beneficia-se dos comentários pombásticos de Janet Yellen ontem e sobe 2% no mercado internacional hoje, para US$ 1.200/onça, patamar em que parece sentir-se mais confortável.
Meu maior pesadelo
Outra visão que tenho gostado é de Michael Hartnett, do Bank of America Merrill Lynch. Ele tem alertado sobre a necessidade do Fed enterrar o fantasma de 1937, quando o aperto monetário conduzido à época levou a uma queda subsequente de 50% das ações norte-americanas.
Enquanto uns preocupam-se com a repetição da dinâmica, Hartnett aponta as diferenças entre as situações, citando que, diferentemente do observado na década de 30, o desemprego está caindo e a inflação começa a aumentar. Assim, os riscos à economia e aos mercados da postergação do aperto monetário, cada vez mais, parecem superiores aos riscos de antecipação.
Há tempos, defendo que os mercados devem se preocupar mesmo é se o Fed for obrigado a atrasar a subida de juro. Pois aí teríamos um cenário efetivamente complicado, ligado à ideia de estagnação secular. E como poderíamos reanimar as economias se os juros já estão zerados?
Ademais, as semelhanças entre o momento atual e a década de 30 parecem substanciais. A crise de 2008 encontra um único paralelo na história: 1929. Também agora volta o papo de secular stagnation, retomando a cunhagem do termo por Alvin Hansen, em 1938, e somente nesses dois períodos houve expansão tão rápida do balanço do Fed, de 5% para 25% do PIB.
Meu maior medo não é de que o Fed venha, em 2015, a repetir 1937. O maior pesadelo seria o mundo repetir 1939.
Abeia, Baleia e Pitangueiras
Claro que eu também gosto e reverencio a visão do Luis Stuhlberger - e é evidente que não há cópia aqui, pois não podemos copiar o que veio depois. “Flertando com o abismo” me parece primo-irmão do nosso O Fim do Brasil ou, se preferir, dos 10 Anos de Recessão, ainda que seja a versão “mansão na praia da Baleia” para meu apartamento de dois quartos nas Pitangueiras - ok, eu não tenho apartamento nas Pitangueiras, mas sempre quis ter; saudades do Avelinos.
Daí, o dólar, depois de subir 20% no ano, cai 5% em julho e já há matérias: “fundos macro caem em julho com recuo do dólar.”
Esse é o mercado de filisteus em que vivemos, em que todos sabem da necessidade de ignorar retornos de curto prazo, totalmente dependentes da aleatoriedade, e focar em períodos dilatados de tempo. À primeira desconfortável imposição da impiedosa marcação a mercado, lá estão os abutres cobrando imediatismo.
Às favas com os curto-prazistas, que só fazem pagar corretagem e são iludidos pelo acaso. A Carteira Empiricus continuará focada em retornos consistentes e absolutos, no longo prazo. E é isso, junto a outras coisas, claro, que faz com que ela esteja voando em 2015 e desde seu princípio - ah, sim, ela continua apostando no dólar, pesado.
Cópia de mim mesmo
Não escondo meu esporte favorito: imitar a mim mesmo. Sigo à risca os ensinamentos de James Hillman: jamais traia sua alma. Se você o fizer, ela vai se vingar de você. Mantenha-se leal às suas convicções e às paixões, sem vergonha de declará-las por ai.
Anuncio aos quatro cantos, respeitosamente, meu encantamento com a ministra Kátia Abreu. Ela está simplesmente on fire e pode representar um novo paradigma para o setor agrícola brasileiro, abrindo mercados e mudando a lei de acesso estrangeiro às terras. Frigoríficos e agrícolas listadas em Bolsa agradecem. JBS e Marfrig (SA:MRFG3) não me convencem, mas Minerva (SA:BEEF3) pode virar uma pequena jóia. BrasilAgro sempre foi barata, mas agora pode ter encontrado o ambiente necessário para ser percebida.
Hoje também é dia de reverenciar Ribamar Oliveira. No meu entendimento, o melhor articulista sobre setor público no Brasil - sua competência está no mesmo nível dos mais brilhantes economistas da área.
E, por fim, um brinde à maior das minhas paixões profissionais: as ações. Podemos flertar com o abismo, ter 10 Anos de Recessão ou, metaforicamente, encontrar O Fim do Brasil. Não importa. Sempre haverá boas empresas sendo negociadas a preços bastante atrativos. Aqui está uma boa lista para você.
Se você se aproveitar dessas distorções entre preço e valor e focar em assimetrias interessantes, estará rico no longo prazo. Confie nisso. Confie em si mesmo.