Só Acaba Quando Termina
Ontem, na reunião semanal dos analistas aqui da casa, a brincadeira foi tentar adivinhar o que aconteceria no famigerado julgamento do TSE.
Temer pode ser absolvido, cassado ou, ainda, um dos membros do Tribunal pode pedir vista e a coisa se enrolar por mais algumas semanas e, talvez meses.
Por mais que a brincadeira tenha sido divertida, tentar prever qual desses cenários vai se materializar é um exercício absolutamente fútil. Ninguém sabe o que vai acontecer – talvez nem os próprios Ministros do TSE saibam, porque cada um, em tese, só sabe do seu voto.
Há momentos em que o melhor a fazer é aceitar sua condição passiva e simplesmente montar uma carteira que te permita sobrevier ao pior – diversificação, seguros, bons ativos, blá blá blá.
Eu sei que sou chato, mas é nisso que eu (e todos aqui da Empiricus) acredito.
Pode parecer loucura, mas aceitar que o futuro é imprevisível te dá até um certo alívio – “O que não tem remédio, remediado está” é uma frase quase tão boa quanto “Tudo vai dar certo no final. Se não estiver certo, é porque não é o final.
Libertador: se não há nada que você possa fazer, não se critique tanto pelos seus erros, mas também não se ache o máximo porque acertou.
"Whatever you do, don't congratulate yourself too much, or berate yourself either. Your choices are half chance. So are everybody else’s.”
Saia de casa sempre como se a previsão fosse de chuva, neve, sol, enchente e relâmpagos ao longo do dia – o que, em São Paulo, muitas vezes é verdade.
Três Verdades e Nenhuma Mentira
Felipe, o careca que entende tudo de previsão do tempo, nunca sai de casa sem uma galocha, um guarda-chuva e um colete salva-vidas.
O portfólio dele sempre tem uma put (sem a), uma ação descorrelacionada e instrumentos variados de renda fixa. Ele sabe que as previsões no mercado financeiro erram mais do que as previsões de tempo em dia de corrida em Interlagos.
Além disso, ele preparou um vídeo muito legal falando sobre as três verdades que os bancos e a mídia financeira não querem que você saiba!
Dá uma olhada aqui, recomendo fortemente!
Maior Grau de (in)Certeza
Já faz quase 20 dias do fatídico 18 de maio e, depois do grande susto, os mercados ficaram praticamente parados – há até uma certa complacência, um silêncio preocupante.
Aquele feriadão morno, sem brigas. Até que você chega em casa na terça à noite e dá de cara com as gavetas dela (dele) vazias.
Em cima da mesa, um bilhete.
Abro o jornal hoje: "A volatilidade vem cedendo rapidamente, o que oferece maior grau de certeza.”.
“Maior grau de certeza”.
Os caras ainda não entenderam nada!
A volatilidade nas mínimas sinaliza MAIS incerteza e não MENOS – com algumas exceções, antes de todo grande crash as volatilidades estavam nas mínimas, foi assim no dia 17 de maio, foi assim antes da quebra do Lehman e foi assim antes do estouro da bolha “pontocom”.
É como sobrevoar um lago por cima e, pela placidez da superfície, imaginar que nada ocorre embaixo d’água.
Volatilidade e VaR não são boas medidas de risco pura e simplesmente porque assumem que os mercados têm distribuição normal de retornos. Qualquer análise estatística vai te mostrar dezenas de eventos fora da curva de Gauss.
Ao invés de ajustar o modelo e parar de assumir distribuição normal, os jênios (sic) de análise de risco descartam os outliers e seguem a vida como se todos os grandes crashes não tivessem ocorrido – vamos torturar os dados para explicar o modelo.
Não deveria ser o modelo que explica os dados?
Mas, tudo bem, no dia 19 de maio o cara te manda uma carta. Nela, tenta te explicar porque o fundo quebrou – é bom começar a rezar para seu filho passar na USP, porque a grana da faculdade virou pó junto com o Governo Temer.
Um Zibilhão de Toneladas
Foram muitas respostas à pergunta de ontem sobre o estoque de minério de ferro na China. A Mari, que trabalha um bocado e aparece pouco, pelo menos por enquanto, compilou todas as respostas em um gráfico bem bonitinho.
Fontes: Leitores do M5M e Mariana Orlandi.
Antes de mais nada: você são uns lindos! Quase 8 por cento das respostas afirmam que os chineses vão construir a Estrela da Morte em tamanho real!
Tamo junto, meu povo!
Mas, por mais que 135 milhões de toneladas de minério seja coisa pra cacete, as estimativas oficiais (sim, foram feitas) são de que seriam necessárias 1,083 x 1015 de toneladas de aço para construir a criança – ou seja, mais de um zibilhão de toneladas. Ao que parece, o custo seria equivalente a 13 mil vezes o PIB mundial e o empreendimento teria impactos catastróficos sobre o meio ambiente.
Por mais legal que seria, ainda acho que não chegou a hora.
O Estádio do Flamengo é uma boa, mas, ao que parece, os planos chineses são um pouco mais ambiciosos – a Allianz (DE:ALVG) Arena, em Munique, consumiu “apenas” 22 mil toneladas de aço. A torcida do mengão é grande, mas não parece ser o caso.
Construir uma Ilha seria ótimo, imaginem uma ilha cheia de dinossauros… pensando bem, melhor deixar pra lá.
A maior parte dos nossos leitores (34 por cento), estão convictos de que a China está se preparando para uma guerra. Pode até ser, mas, guerra contra quem? Me parece pouco provável que os chineses fossem se meter com os EUA, dos quais importam quase tudo e para os quais exportam um monte de coisas.
Sim, é verdade que é impossível prever começos de guerras e tudo o mais (Taleb dedica boa parte do “A Lógica do Cisne Negro” falando de como ninguém esperava que a guerra no Líbano ia acontecer e, bem, ela aconteceu).
Mas, pode até ser uma questão de desejo pessoal, não me parece que a China teria interesse em entrar em uma grande guerra com ninguém.
Muita gente (13 por cento) falando em controle de mercado: fazer pressão sobre as mineradoras, segurar preços e tudo mais. Pode até ser, mas 150 milhões de toneladas, apesar de um grande estoque, equivale a mais ou menos 2 meses das importações chinesas – esse estoque teria que aumentar bastante para que conseguir “quebrar” as mineradoras ou ter um impacto mais permanente sobre preços.
Assim, a explicação que me parece mais razoável é que os chineses estão estocando minério para tocar o projeto de construção da Nova Rota da Seda (New Silk Road).
Além de ser um belo nome para uma fase do Mario Kart, a New Silk Road é um antigo projeto chinês para conectar a Ásia, a Europa Central e Oriental e parte do Noroeste da África via rotas marítimas e estradas de ferro – na verdade, o projeto inteiro se chama “One Belt, One Road” e pode ser visualizado nesse mapinha que roubamos copiamos do Tyler Durdeen.
Fonte: www.zerohedge.com
O projeto faz parte do plano chinês de se tornar cada vez mais relevante como player global e coordenar, com outros países, a produção de bens como aço, por exemplo.
A empreitada poderia custar mais de 1 trilhão de dólares (bem menos do que uma Estrela da Morte) e consumiria cerca de 150 milhões de toneladas de aço – um número bem próximo do atual estoque nos portos chineses.
Recebemos até um e-mail de um assinante que mora na China falando que esse seria, de fato, o destino do estoque:
"Aqui na China muito se fala sobre a construcao de uma ferrovia conectando a China com a Europa. Dizem ainda que o tracado saira da China, passara na India, por varios paises "istao" e por fim na Russia para enfim chegar a Europa.
Segundo os chineses, o unico nao interessado eh a India, que ve na China um concorrente de peso para produtos manufaturados.”Se esse será mesmo o destino de todo esse ferro, saberemos somente no futuro. Ainda há tempo de torcer pela construção da Estrela da Morte!