FLRY3: Ações da Fleury viraram Black Friday?
Na contramão de uma política monetária que busca conter a inflação e estabilizar a economia, o governo federal, por meio da Caixa Econômica Federal, anunciou recentemente uma medida que reacende velhos temores econômicos: o aumento da linha de crédito imobiliário de 70% para 80% do valor do imóvel financiado. Em um cenário em que a taxa Selic permanece em 15%, essa decisão é, no mínimo, contraditória — para não dizer perigosa.
Segundo o próprio presidente interino do Banco Central, Gabriel Galípolo, há uma preocupação clara com os efeitos que essa expansão de crédito pode provocar. O Brasil ainda lida com uma inflação estruturalmente resistente, e medidas de estímulo ao consumo via crédito demasiado e facilitado vão na direção oposta da desejada estabilidade. Mais crédito significa mais consumo, mais pressão sobre os preços — e, consequentemente, manutenção da Selic em patamares elevados por mais tempo.
Não se enganem! O que parece ser uma ação "social" — facilitar o acesso à casa própria — pode, na prática, gerar desequilíbrios graves. Estamos diante de uma repetição de estratégias que, em outros contextos, já se mostraram desastrosas. Alguém se lembra de um dos mais notórios economistas da era do subprime, Peter Schiff? Ele foi um dos poucos que previram a crise imobiliária americana em 2008 e, frequentemente critica esse tipo de política expansionista. Segundo Schiff, ao subsidiar excessivamente o crédito à população, governos criam bolhas artificiais, sustentadas por uma ilusão de poder de compra que, quando confrontada com a realidade da economia, desaba em crise e empobrecimento.
No Brasil, a Caixa Econômica Federal é a principal instituição financeira no setor de crédito imobiliário. Seria natural, portanto, que ela exercesse o papel de “competidora reguladora” — ou seja, uma operadora que, ao praticar juros menores, forçasse os bancos privados a seguirem o mesmo caminho, criando um ambiente competitivo benéfico ao consumidor. Mas não é isso que acontece.
Pelo contrário: a Caixa é frequentemente percebida como a "melhor opção" de financiamento imobiliário, mas, ao analisar com lupa, percebe-se que ela frequentemente oferece taxas pouco vantajosas, cláusulas de contrato rígidas e prazos que, somados ao novo percentual financiável, colocam o comprador em risco de inadimplência — especialmente em um contexto de juros altos. O aumento para 80% do valor do imóvel financiado é mais um passo nesse caminho. Ao facilitar demais o acesso ao crédito, o banco fomenta uma demanda artificial no setor imobiliário, o que pode aquecer os preços dos imóveis sem lastro na renda da população — classicamente, um vetor inflacionário.
Não é difícil prever o desdobramento: com mais crédito, os imóveis sobem de preço, a inflação ganha fôlego e o Banco Central se vê forçado a manter a taxa Selic em patamar elevado, encarecendo ainda mais o crédito e travando o crescimento econômico sustentável. Um verdadeiro tiro no pé!
Com isso, acredito que a Caixa precisa repensar seu papel. Ao invés de ser um braço do governo para facilitar artificialmente o acesso ao crédito, deveria assumir sua posição estratégica como reguladora informal do mercado imobiliário. Isso significa oferecer os menores juros possíveis, dentro de uma lógica sustentável, forçando os concorrentes privados a reduzirem suas margens de lucro — e não ser usada como instrumento de populismo econômico de curto prazo.
É preciso reconhecer que o crédito é importante para o desenvolvimento, mas ele deve ser saudável, sustentável e estar alinhado com a política monetária do país. A desconexão entre o incentivo ao crédito e os juros básicos da economia apenas alimenta uma inflação persistente — e, como já vimos na história recente, a conta sempre chega.
Minha conclusão: Preparem-se para mais inflação
Ao aumentar a fatia financiada dos imóveis para 80%, a Caixa envia um sinal perigoso ao mercado: o de que o crédito fácil segue sendo a
solução mágica para os problemas estruturais do país. Mas não é! É, na verdade, um convite a novas pressões inflacionárias, à manutenção de juros altos e, inevitavelmente, ao sufocamento de quem mais precisa de crédito — justamente a população que se pretende ajudar.
Portanto, caso não haja uma correção de rota, preparem-se: vem mais inflação por aí!
Bons trades!