A (inevitável) queda do último pilar
Há um ano conversamos aqui sobre a iminente queda do último pilar econômico, com a crise fatalmente chegando ao mercado de trabalho.
Com a taxa de desemprego abaixo de 5%, fui alvo de insultos.
Eis o que temos hoje:
Mesmo a taxa de desemprego não sendo a referência mais precisa, por uma série de vieses do indicador que abordamos em M5Ms passados, fato é que a crise bateu forte no mercado de trabalho.
Taxa de desemprego atingiu 6,2% em março, superando as projeções e marcando seu maior nível em quatro anos.
A rápida deterioração dos indicadores de emprego coloca as projeções para o fim do ano entre 7,5% e 8% de desemprego.
O ajuste fiscal, que recém começou, passa a pesar no social.
Vamos ver até quando ele dura...
Meio Brasil (ou, uma maçã)
O ambiente dos mercados é mais ameno nesta terça-feira. Não (necessariamente) por novas promessas de impressão de dinheiro pelos Bancos Centrais, mas, sim, pela robustez dos resultados da gigante Apple.
Veja que curioso: com um up em suas receitas graças à venda de Iphones na China, a companhia da maçã quebra recorde atrás de recorde.
Em resposta, seu valor de mercado bateu em US$ 772 bilhões, o equivalente a R$ 2,3 trilhões, ou metade do PIB do Brasil (!!!).
É cerca de 1% do valor de mercado de todas as Bolsas do mundo somadas, que gira em torno de US$ 72 trilhões.
Sua posição de caixa chegou a US$ 194 bilhões, gerando um problema de alocação de caixa que certamente uma Petrobras e tantas outras gostariam de ter...
O problema de US$ 194 bilhões
Por que o caixa da Apple pode ser um problema?
Ao comprar as ações de uma empresa, em tese você está colocando o seu dinheiro para trabalhar a partir da operação dessa empresa. Fosse empregar o seu dinheiro em uma companhia que deixará ele parado no caixa, melhor fazer uma aplicação convencional diretamente, sem se expor ao custo (risco) desse intermediário, não?
A Apple está endereçando isso da seguinte forma: vem ampliando os seus dividendos e realizando grandes programas de recompra de ações.
Agora, a posição de caixa + equivalentes de caixa de todas as empresas brasileiras listadas em Bolsa soma o equivalente a R$ 400 bilhões, menos do que o caixa da Apple, mas significativo.
Pode ser um sinal de maior disciplina na alocação de capital, ou de falta de confiança do empresário para investir.
Quem aqui está ampliando dividendos ou lançando programas de recompra de ações de grande relevância?
US$ 2,3 trilhões não é caro demais?
Depende...
Se tomarmos por base o quanto a Apple tem gerado de valor para os seus acionistas, não é não. A empresa não carrega uma parcela de dívida relevante, tem essa enormidade de caixa, e, tomando por base os seus lucros, negocia hoje a uma relação da ordem de 16x preço/lucro, nada surreal para o universo de consumo/tecnologia - ao contrário, é mais barata do que a média da Nasdaq e do que a média de ações de consumo e tecnologia negociadas no Brasil.
Lembrando que uma empresa pode valer zero na Bolsa e não necessariamente ser barata.
A título ilustrativo, ainda que suas ações estivessem a R$ 0, uma PDG ou uma Petro ainda carregariam dívida líquida de, respectivamente, R$ 7 bilhões e R$ 282 bilhões.
A invasão dos importados (na Bolsa)
A boa notícia da terça-feira foi o ofício circular da BM&FBovespa ampliando o programa de BDRs não patrocinados, o que deve elevar o volume de papéis à disposição do investidor brasileiro.
Para os menos familiarizados, os BDRs são recibos de ações de companhias estrangeiras negociados na Bolsa local, com um gatilho adicional em períodos de desvalorização cambial – como este.
Para o pequeno investidor, porém, até então o acesso aos BDRs era um tanto complicado... Só era acessível ao investidor qualificado, aquele com mais de R$ 300 mil disponível para investir.
A partir de julho, no entanto, com a nova regulamentação da indústria de fundos, não será mais necessário ser um qualificado para fazer essas aplicações via fundos de BDRs. A partir dessa data, o valor inicial partirá de R$ 10 mil, em linha com produtos que Caixa e Bradesco já haviam anunciado.
Está vendo?
Podemos ter exposição à Apple na Bolsa brasileira, e não somente via ações da Renar Maças (RNAR3).