O mercado futuro de açúcar em NY SB fechou esta sexta-feira com o vencimento julho/2014 cotado a 17,91 centavos de dólar por libra-peso, uma alta de quase 16 dólares por tonelada em relação à semana anterior. O fechamento semanal dos demais meses de vencimento ao longo da curva que se estende até março de 2017 demonstra que existe uma predisposição dos participantes do mercado em começar a olhar com mais atenção os vencimentos mais longos em função do eventual recrudescimento do déficit mundial.
2013 foi um ano muito ruim para as commodities, e agora parece que vamos ver uma recuperação este ano. Liderado, principalmente pelo café, e pelos grãos, o novo humor do mercado de commodities contamina também o açúcar. Os fundos inquestionavelmente estão despejando mais dinheiro nas commodities, em volume não visto há pelo menos 18 meses. E, no açúcar, estão comprados nada menos que 108,000 lotes, um volume equivalente a quase 5,5 milhões de toneladas.
Nesta semana cheia de eventos em NY, falou-se aos borbotões sobre El Niño, transformado em ser mitológico criado para alegrar os produtores em momentos de vacas magras. Tem gente que aposta até o dia que o “salvador” surgirá. Brincadeiras à parte, tanto a Agência Australiana de Meteorologia quanto o Serviço de Meteorologia dos Estados Unidos acreditam que a possibilidade de ocorrência do fenômeno do El Niño é alta. No Brasil, no que se refere à cana, o efeito seria de chuvas que podem atrasar a moagem e a diminuição do nível de sacarose na cana. Um dia de chuva no Centro-Sul representa entre 2,25 e 2,50 milhões de toneladas de cana que deixam de ser moídas.
Por outro lado, o espasmo de preços ocorrido na semana passada foi motivado pela queda na moagem no Centro Sul na segunda quinzena da safra. Extrapolaram o número como se ele fosse manter-se até o final. O mercado precisava de alguma noticia alvíssara e se abraçou com essa mesmo. No mercado físico, no entanto, o comprador faz cara de paisagem e as ofertas de compra continuam com descontos amargos. Em situações dicotômicas como essa é preferível fixar as vendas aproveitando a subida repentina de preços ou pelo menos trabalhar com ordens de stop flexível (muda-se o nível do stop em linha com o mercado ascendente).
Um respeitado executivo do mercado, segundo ele, meu leitor assíduo enquanto disputa sua partida matinal de golfe aos sábados, precisamente entre o buraco 8 e 9, horário em que o comentário aparece em seu iPhone, me questionou, num dos inúmeros coquetéis que ocorreram ao longo da Semana do Açúcar em NY, por que é que eu sou tão altista. Existe uma diferença entre ser altista e construtivo, baseando-se nos fundamentos do mercado. Acho que poucos duvidam que o mercado de açúcar em NY tenha muito mais espaço para subir do que para cair.
Meus argumentos são o produto dos ingredientes que temos adiante e formam um contorno construtivo para o mercado: a) uma safra que pode chegar até 575-580 milhões, 3% menor que o ano passado; b) o limite de capacidade instalada no setor próximo de 620-640 milhões de toneladas; c) o crescimento no consumo de combustível da ordem de 8%, quase na totalidade representado pelo etanol; d) reajuste do preço da gasolina após as eleições; e) safra mais alcooleira, portanto menos açúcar disponível; f) crescimento do consumo mundial de açúcar pouco acima de 2% ao ano; g) déficit crescente entre a produção e consumo mundiais; h) a falta de novos investimentos e a estagnação do setor. Se esses ingredientes combinados são insuficientes para que haja subida de preços nos próximos dois anos pelo menos, então não sei o que precisaríamos para isso.
Mas, afinal, para onde pode ir o mercado? É mais fácil ser altista com o mercado a 16 centavos de dólar por libra-peso do que 30 centavos de dólar por libra-peso. Ainda é cedo para falarmos o tamanho da safra de cana. Embora a grande maioria trabalha com um numero ao redor de 575-580 milhões de toneladas, é bom lembrar que o ano passado nessa mesma época poucos acreditavam que chegaríamos no final com 595 milhões. Acredito que uma eventual quebra maior da safra no Centro-Sul (menor que 570 milhões de toneladas) ainda não está refletida nos preços. Ou seja, podemos ter fortes variações no vencimento outubro/2014.
O vencimento julho/2014 fechou a semana cotado ao equivalente a R$ 912 por tonelada FOB. Nos últimos dois anos, o valor máximo que açúcar negociou foi a R$ 1.118 por tonelada. E a média nesses dois anos, pelo critério de fechamento de NY e fechamento do dólar pelo Banco Central, é de R$ 896 por tonelada. Alguém tem dúvida que pelo cenário que se delineia esse valor máximo em reais será ultrapassado caso se confirmem a conjunção dos argumentos apresentados acima? Se usarmos o valor máximo alcançado em julho/2012 dividido por um dólar de 2,2200 chegamos a 22 centavos de dólar por libra-peso em NY. Quem duvida?
Consumidores finais de açúcar devem olhar com muito cuidado a curva de preços porque é possível que tenhamos, a partir do segundo semestre de 2014, um par de anos, pelo menos, de preços mais robustos.
Dilma, sempre ela, com sua inequívoca capacidade de falar disparates, disse numa apresentação que está na internet que a Índia tem “um trilhão de habitantes”, até ser corrigida pela sua desesperada assessoria. Sua confusão com números faz-nos corar de vergonha. A possibilidade de ter essa pessoa governando (?) o país por mais 4 anos me dá vontade de mudar de sistema solar.
Boa semana a todos.