Quando Todos Estão do Mesmo Lado
O presidente do Banco Central Europeu há algum tempo tem afirmado que a entidade iria usar medidas necessárias para estimular inflação na região. Falou tanto que os investidores montaram apostas pesadas no enfraquecimento do Euro, na valorização de ações europeias e dos títulos de dívidas soberanas.
Na quinta-feira Mario Draghi entregou menos do que dava a entender que faria e a corrida para reverter posições derrubou o mercado acionário europeu, com o DAX caindo mais de 3% no dia, e fez o Euro oscilar para cima mais de 3% também, se comportando quase como uma moeda de um país emergente.
A criação de postos de trabalhos nos Estados Unidos em novembro e a revisão de outubro reforça a crença do mercado de que o FED aumentará os juros no fim da sua reunião no próximo dia 16. Por outro lado, a atividade econômica ainda não dá sinais tão robustos, demonstrada no dado do ISM de não-manufaturados que teve uma queda de 3.1 pontos.
A reversão de ganhos do dólar americano foi boa notícia para os índices das commodities que após fazerem novas mínimas recuperaram – ao menos momentaneamente. A performance só não foi melhor em função da Opep ter aumentado o teto de produção de petróleo por seus membros em um momento e que os estoques estão inchados, empurrando desta forma o WTI para baixo de US$ 40,00 o barril – pobre Petrobras (SA:PETR4).
O café conseguiu ser menos influenciado pelas oscilações fortes, mas sem dúvida se beneficiou da firmeza do real brasileiro que valorizou em reação ao aceite do pedido de impeachment de Dilma e do movimento do dólar contra as demais moedas.
Nova Iorque subiu 2.48% na semana com os fundos cobrindo uma parcela de suas vendas futuras e encontrando vendas relativamente leves das origens. Os produtores de suaves que estão em plena colheita devem ter aproveitado o movimento, enquanto no Brasil o ritmo de vendas vai diminuindo com a proximidade do fim do ano.
Londres também teve um fechamento semanal bom, pegando carona no movimento do arábica e dos diferenciais de reposição firmes que refletem a falta de interesse de venda dos vietnamitas nos atuais patamares. A Vicofa, associação de café e cacau do Vietnã, estima que a produção de 15/16 deverá ser 10% menor do que no ciclo anterior, totalizando 18 milhões de sacas. A colheita avança com quase 40% completo até agora.
As exportações brasileiras em novembro segundo o ministério do comércio foram de 3.116.107 sacas, dando sinais que os números da Cecafé não devem arrefecer no mês ainda – principal argumento dos baixistas, que convenhamos tem razão, por ora, já que o destino é abastecido e mantém cafés lá fora diminuindo a janela de um suposto aperto para o primeiro semestre de 2016.
Tecnicamente a semana foi de reversão da baixa para o contrato “C”, que tendo os fundos ainda com uma posição bruta vendida razoável pode acelerar os ganhos no curto prazo para próximo de US$ 130 centavos por libra – eventualmente até um pouco mais.
O mercado já descontou todas as notícias negativas, com os vendidos agora depositando suas esperanças em uma pressão vendedora das origens e/ou uma renovada aposta de valorização do dólar. O exemplo clássico de um “crowded-trade” (trade onde todos se posicionam olhando para a mesma direção) foi o que vimos com o euro nesta semana. Embora o café não esteja na mesma magnitude ao menos os altistas são escassos e quem está baixista obviamente não está comprado e sim vendido…
Uma excelente semana e muito bons negócios a todos,
Rodrigo Costa*
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting