A semana que antecede o feriado de Carnaval tem entre os principais destaques da agenda econômica a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que na estimativa da maioria dos analistas deve promover, na quarta-feira, novo corte na Selic de 0,25 ponto percentual, baixando o juro básico para 6,75% ao ano, o menor da história. Também no radar estão a divulgação, na quinta-feira, do IPCA, inflação oficial usada pelo Banco Central (BC) em seu sistema de metas e, na terça, do IGP-DI, ambos relativos a janeiro e sinalizando ligeira desaceleração no mês, segundo projeções do mercado.
Ainda que o comunicado do Copom possa manter aberta a possibilidade de corte na próxima reunião, em março, pode ser dado algum sinal de cautela adicional, por conta da evolução recente do mercado internacional (confira abaixo), avalia a equipe de analistas do Banco Votorantim. Também devem se destacar na agenda econômica apresentação, na sexta-feira, de pesquisa do IBGE sobre as vendas no varejo referentes a dezembro, além de dados de produção de veículos, papelão ondulado e do tráfego de veículos nas estradas.
Negociações para a reforma da Previdência no foco das atenções
No cenário político, a reforma da Previdência deve estar no foco das atenções da semana. Nesta segunda-feira, de acordo com notícia publicada pelo portal G1, Rodrigo Maia deverá oferecer um jantar a lideranças partidárias para a base aliada do governo, oportunidade para se calcular o número de deputados que apoiam a reforma. Segundo o líder do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-CE), as bancadas serão ouvidas nos próximos dias.
Na última sexta-feira, em entrevista coletiva à imprensa, o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, admitiu a possibilidade de se aceitar pequenas alterações na reforma para garantir a aprovação, mas disse que as mudanças não vão resultar em uma proposta “desfigurada”. Entre pontos que não seriam negociáveis estariam, por exemplo, a idade mínima de aposentadoria de 65 anos para homens e 62 anos para mulheres (a vigorar após fase de transição) e a unificação do limite da aposentadoria paga pelo INSS a trabalhadores da iniciativa privada e servidores públicos.
Eleições 2018
Já no campo eleitoral, a expectativa é de lançamento da pré-candidatura de Fernando Collor (PTC-AL) à presidência da República, em discurso que ele fará na tribuna do Senado nesta terça-feira (6/2). Ainda no campo das pré-candidaturas, Geraldo Alckmin (PSDB) deve continuar centralizando atenções nos próximos dias, especialmente por conta das articulações de bastidores.
Segundo noticia a coluna do Estadão (edição de 3/2), o presidente Temer teria comentado a um tucano contrariedade com o apoio de Alckmin ao seu vice, Márcio França (PSB), para sua sucessão ao governo paulista, dentro da estratégia de ter apenas um palanque no Estado. Temer teria dito que esse posicionamento prejudica o apoio do MDB à candidatura do governador paulista à presidência, justificando que seu partido lançou a candidatura de Paulo Skaf ao Palácio dos Bandeirantes, além de ter João Doria como segunda opção, caso o presidente da Fiesp não suba nas pesquisas.
Indicadores mostram atividade e vendas do varejo na zona do euro
Na agenda internacional, a semana traz alguns indicadores de atividade importantes. Na Europa, destaca a equipe do Votorantim, o foco será sobre a rodada de PMIs (indicador de negócios que reflete atividade de transformação e aquisição de bens e serviços na economia) e vendas no varejo na zona do euro, além de produção industrial na Alemanha e França e decisão de política monetária do Reino Unido, na quinta-feira.
Trajetória da taxa de juros, principalmente dos EUA, preocupa Já nos EUA, o destaque, na segunda-feira, será o ISM (que mede a atividade industrial) e o discurso de alguns membros do Fed (Federal Reserve, banco central americano). Na semana passada, o comitê de politica monetária do Fed (Fomc) fez sua primeira reunião no ano e a última sob o comando de Janet Yellen, decidindo por unanimidade manter a taxa básica de juros (FFR) em 1,50%.
A autoridade monetária americana, lembram em relatório os analistas do banco Fator, avaliou que a economia e a inflação estão um pouco melhores (a primeira mais robusta e a segunda mais perto da meta) e avisou que, se as coisas continuarem como estão, altas “adicionais” nos juros podem ocorrer. Não ficou claro, no entanto, se tais altas são adicionais às que levaram ao nível atual ou se em relação às três elevações indicadas pela mais recente divulgação de expectativas do comitê. Para a equipe do Fator, o risco de quatro altas dos juros americanos em 2018 cresce, podendo vir a ser “a má notícia do ano, da década”.
Crescimento da aversão a risco: impacto contido sobre ativos brasileiros
Para os analistas do banco Votorantim, a forte alta nos juros dos títulos soberanos no mundo, especialmente nos EUA, destaque da semana anterior, é movimento que ocorre desde o início do ano e reflete o otimismo com o ritmo de crescimento da economia global, impulsionado pelos dados de mercado de trabalho americano, forte criação de vagas e inflação de salários atingindo o maior valor desde a crise financeira. Tal receita fortaleceu expectativas de alta de juros. Como resultado, alertam os analistas em seu relatório, houve forte aumento da aversão a risco, “ainda que os impactos sobre os ativos brasileiros tenham sido relativamente contidos”.
Projeções apontam para queda de 0,25% na Selic em fevereiro
Na avaliação de analistas do Departamento de Pesquisa Macroeconômica do Banco Itaú Unibanco (SA:ITUB4), dados recentes continuam a mostrar um ambiente de inflação baixa e expectativas ancoradas, em um contexto de recuperação gradual da atividade econômica, que vem se tornando cada vez mais disseminada. “Esperamos que o Copom anuncie um corte de 0,25 ponto percentual após a reunião em 6 e 7 de fevereiro”, destacam, em relatório.
Acrescentam que esta redução de magnitude do corte não seria surpreendente dada a comunicação recente do comitê, segundo a qual, se o cenário básico evoluísse conforme esperado, seria adequado reduzir moderadamente o ritmo de flexibilização monetária em relação aos 0,50 ponto feitos na última reunião.
Mais adiante, diz a equipe do Itaú Unibanco, a decisão de março ainda deve ficar em aberto. “Mas acreditamos que, mesmo que as expectativas de aprovação da reforma da previdência neste início de ano sejam frustradas, as autoridades podem considerar apropriado um pouco mais de estímulo, dada a magnitude da ociosidade estimada, o balanço de riscos em torno do cenário base (que pode ser influenciado pela recente apreciação do Real) e o ritmo lento de convergência da inflação para a meta”. Diante dessa análise, a equipe mantém a visão de que o fim do ciclo só virá em março, com um corte final de 0,25 ponto percentual, levando a taxa Selic para 6,5% ao ano.
Espaço para nova redução da taxa em março
O Banco Fator também destaca que a expectativa é que o comitê reduza novamente a taxa Selic em 0,25 ponto percentual, para 6,75%. As condições favoráveis à redução da Selic para abaixo da taxa “neutra” se mantêm, segundo os analistas, por conta de fatores como elevada ociosidade, margem para importações, câmbio comportado, preços de alimentos na recuperação esperada, preços dos serviços disciplinados pela baixa inflação passada e preços administrados em trajetória suave. “Assim, a política monetária pode se manter “estimulativa” por mais tempo; ademais, a expectativa na curva e nas pesquisas é de queda adicional, havendo quem, como nós, enxergue espaço para corte adicional, com a Selic indo a 6,50%”, ressaltam.
“Esperamos que o Banco Central continue cortando a taxa – desta vez em 0,25 ponto percentual, para 6,75% – um novo recorde (taxa baixa)”, diz relatório do time de economistas e estratégistas do BNP Paribas (PA:BNPP). Espera-se, segundo essa análise, que uma combinação da inflação abaixo do alvo e uma recuperação do crescimento induzam o BC a continuar cortando. “Ainda vemos espaço para mais um corte; projetamos a taxa terminal em 6,50%, com corte final de 0,25 ponto em março”, diz a equipe.
“Esperamos que o BCB reduza a taxa de referência Selic em 0,25 ponto, para 6,75% ao ano, uma vez que a inflação subjacente permanece estável em 3,5% ao ano e projetamos um processo muito gradual de normalização para metas do BCB no período 2018-2019”, diz em relatório o UBS.
IGP-DI e IPCA: analistas estimam que variação mensal deve registrar desaceleração
O IGP-DI, lembram os analistas do banco Fator, teve desaceleração para taxa de 0,74% sobre o mês anterior em dezembro, enquanto a deflação interanual cresceu para 0,42%. O resultado mensal contou principalmente com um corte no IPC-DI (0,21%), causado pela deflação no custo da habitação (- 0,33%). “Em janeiro, esperamos que a desaceleração do IPA (Índice de Preços no Atacado) agropecuário, vista também no IGP-M, cause uma nova desaceleração no IGP-DI para 0,58% na variação mensal. O resultado sobre janeiro de 2017 deve reduzir a deflação para – 0.27%”, projeta a equipe.
Já para a inflação oficial de janeiro, medida pelo IPCA — que encerrou 2017 em 2,95%, abaixo da meta de 3% do Banco Central, os preços dos alimentos foram os grandes reesposáveis por manter a taxa em baixa durante o ano. Contudo, frisam os analistas, este efeito, em período mais recente, já começa a se dissipar e a deflação anual deste grupo desacelera constantemente. Deste modo, esta pressão exógena de baixas nos preços não pode ser esperada para 2018, ano no qual o IPCA deve voltar a crescer. “Nossa expectativa para o resultado de janeiro é de leve aceleração para 2,96% no ano, sétimo mês seguido abaixo de 3%. Na variação mensal, apesar da aceleração no preço dos alimentos, esperamos uma queda no IPCA para 0,39%, causada por habitação, com queda no custo da energia (bandeira verde), e vestuário”, completam.
Alta de alimentos e gasolina compensada por queda nos preços de energia elétrica
Os analistas do UBS estimam variação mensal de 0,41% para o IPCA de janeiro e 3% no ano. O time do BNP Paribas espera que a inflação mensal tenha desacelerado para 0,39% em janeiro. “Mais uma vez, espera-se que a pressão ascendente provenha principalmente de alimentos e preços da gasolina, mas uma queda nos preços da eletricidade deve mais do que compensar.” Em termos anuais, dizem em relatório, “esperamos uma tendência ascendente constante. Observamos que a inflação está acelerando até 3,8% durante o ano, mas devendo terminar em cerca de 3,5% em 2018 – ainda abaixo do alvo de 4,5%”.
Vendas do varejo: sinais de desaceleração em dezembro
O desempenho do varejo restrito, durante os meses de 2017, parece desacelerar no final no ano, destaca o banco Fator, mas acrescentando que, ao comparar as vendas com os valores de 2016, nota-se uma recuperação. “Desta maneira, avaliamos que, apesar de o setor estar em um nível superior ao do ano anterior, em 2017 a recuperação do consumo, e, portanto das vendas no varejo, ainda não é consistente”, analisam, lembrando que houve contração nos trimestre terminados em outubro e novembro, sobre os períodos imediatamente anteriores.
A projeção da equipe Fator é de novas contrações na variação mensal, de 0,5% no varejo restrito e 3,4% no ampliado, enquanto na comparação interanual as vendas devem desacelerar para 3,5% e 5,7%, respectivamente.
Melhora em crédito e renda poderão impulsionar consumo
Segundo análise do BNP Paribas, as vendas no varejo estão andando de lado desde 2017, após uma forte recuperação no primeiro semestre daquele ano. A retomada de linhas de crédito e algumas melhorias no rendimento disponível real são os principais impulsionadores para a recuperação esperada no consumo em 2018. “Para dezembro, esperamos uma retração nas vendas reais (- 0,6%). Se confirmada, as vendas no varejo aumentarão 4,3% (interanual). A vendas no varejo ampliado (que incluem carros e gastos de construção) podem crescer em 5,4%, ajudadas pelas vendas de automóveis.”
Semana complicada para estimar tendência dos mercados de risco
A semana se apresenta como complicada para estimar a tendência dos mercados de risco no Brasil e no exterior, segundo avaliação do economista-chefe da Home Broker ModalMais, Alvaro Bandeira. No segmento externo, destaca o economista, aumentam os ruídos da intrincada novela de Donald Trump e os russos que persiste até hoje, com desdobramentos importantes sobre o relatório do FBI. Ele menciona ainda o pedido de urgência do Tesouro americano para elevação do teto da dívida, sob pena de voltar a paralisar o governo, já que existem recursos para financiá-lo até meados do mês de fevereiro. “Isso sem contar complicadas discussões sobre o NAFTA e, no plano mais geral, o protecionismo comercial que Trump está imprimindo”.
Bandeira lembra ainda que a mudança de postura de muitos bancos centrais pode redundar em alterações na política monetária e, com isso, desequilibrar o mercado de câmbio. “Vimos isso e seus efeitos na semana que passou com relação ao iene, e mudanças na política de compra de ativos pelo BoJ (BC Japonês)”.
Carnaval e articulação para votação da reforma: dificuldades locais
No segmento local, com a proximidade do Carnaval, ele prevê mercados paralisados até a metade da quarta-feira de cinzas. “Além disso, estaremos muito próximos das discussões sobre votação da reforma da Previdência na Câmara, onde o governo não dispõe dos votos necessários (308)”. Esse é, para o economista, o segundo “divisor de águas” do mercado, que terá que ser superado, já que aumenta cada vez mais o ceticismo dos investidores sobre a reforma.
“Lembramos que há quase unanimidade de líderes de que, se não for votada agora, a reforma ficará para o próximo presidente, o que seria danoso e uma péssima sinalização internacional”, analisa.
Na bolsa, cautela com a possibilidade de realização de lucros
Diante desse quadro geral, e buscando auxílio na análise técnica, a avaliação de Bandeira é que não se deveria perder o patamar do Ibovespa em 84.500 e 84.000 pontos, sob pena de o mercado acelerar realizações de lucro. “Na hipótese contrária de alta, precisaríamos manter patamar acima de 85.500 pontos, para ganhar novamente a faixa de 86.200 pontos, e depois buscar a casa de 87.000 pontos”, afirma. “Mas ficamos na dependência de manter o fluxo crescente de recursos canalizado para o mercado, o que parece a situação mais confortável”, finaliza o economista.