Vamos vivendo num turbilhão de emoções. Em ano eleitoral, toda semana vão surgindo novidades no campo político, ainda mais diante de um pleito totalmente indefinido e aparentemente negativo para os interesses do mercado financeiro.
Sim, porque, ao que parece, por ora, vai se desenhando uma polarização entre extremos, na leitura do mercado uma “eleição binária”, entre candidatos radicais, com chances concretas de um segundo turno com Jair Bolsonaro do PSL contra Ciro Gomes do PDT ou Fernando Haddad do PT, este herdando votos do ex-presidente Lula. Candidatos mais equilibrados, mais ao centro, pendendo para um lado ou outro, como Marina Silva da Rede e Geraldo Alckmin do PSDB e os nanicos, João Amoedo, Álvaro Dias e Henrique Meirelles, vão ficando pelo caminho.
Isso se reflete no comportamento dos ativos. Na semana passada o dólar chegou a R$ 4,20 em alguns momentos, numa valorização cambial de 26,6% no ano, na maior cotação desde o lançamento do Plano Real em 1994. No mercado de risco, os títulos de proteção contra calotes deram uma esticada. O CDS (Credit Swap Default) passou de 140 pontos em janeiro para 280 pontos agora e o “risco País”, pela EMBI do JP Morgan, foi a 334 pontos, 11 pontos de alta no mês e 94 no ano. Em paralelo, a bolsa de valores perdia tração, tendo rompido o piso de 75 mil pontos. No mercado futuro de DI, as taxas mais longas davam uma esticada, com às de janeiro de 2021 indo a 10%.
Na interpretação do mercado, receio maior no momento é de que o candidato, por enquanto, mais simpático, Jair Bolsonaro, não encontre condições físicas para enfrentar a dura campanha de segundo turno, bem mais intensa, outra eleição. Estariam então as portas abertas para um dos dois candidatos de esquerda crescer, neste caso, Haddad ou Ciro. O que sairia daí? Ninguém sabe.
Interessante observar também que o BACEN vem optando por observar a cena, não intervindo no mercado cambial, acertado ao nosso ver, dada a pouca racionalidade do momento. Há de se considerar, no entanto, que o patamar de R$ 4,20 não pode ser visto como limite. Há espaço para novas depreciações cambiais, até porque se o retorno da esquerda se confirmar será um salto ainda mais perigoso no escuro. Mesmo assim, o mercado tenta enxergar uma saída, tenta alguma racionalidade. Muito se comenta, inclusive, que a opção Fernando Haddad seria mais palatável do que a de Ciro, dado seu temperamento mais intempestivo. Fernando Haddad parece-nos mais apaziguador, mais moderado. O problema é que o resto do PT não é e não sabemos até aonde pode ir esta turma.
Na economia, o que se tem é a paralisia da atividade, com a economia à “meia bomba”, “de lado”, a inflação pelo varejo controlada, mas pelos IGPs totalmente acelerada, dado o impacto do câmbio depreciado sobre os bens tradeables. Saiu o IGP-10 de agosto na semana passada, que acabou em 1,2%, com o IPA a 1,7%. Em 12 meses já passava de 9,6%. Ao final do ano deve fechar, em convergência com outros IGPs (IGP-M e IGP-10), em torno de 8%. Neste debate, importante observar o tempo em que o dólar irá manter acima de R$ 4,10, o que, em algum momento, deve se refletir em repasses para o varejo. Estes só não acontecem neste momento dada a paralisia da economia, o que inibe pela falta de demanda.
Isto talvez explique a manutenção da Selic nos atuais 6,5% até o fim deste ano, mas dado o momento político turbulento nos futuros mais longos já crescem as apostas dos que acreditam numa taxa Selic em 10%.
No mercado de trabalho o ambiente ainda é muito indefinido, com a taxa de desocupação em torno de 12% da PEA, mas mostrando elevada informalidade, muito emprego por conta própria no chamado desalento, com muitas pessoas desistindo de procurar emprego, algo em torno de 4,3 milhões. De certa forma, esta situação acaba contribuindo para empacar na geração de empregos mais qualificados e no desempenho das vendas do varejo, este também de lado, pelo elevado endividamento das famílias. O mesmo estado de prostração acontece na Indústria e no setor de Serviços, todos mostrando indicadores anêmicos e sem muito viés de reação. No caso da Indústria um agravante é a crise na Argentina, com forte depreciação do peso e piora fiscal, impactando nas nossas exportações de automóveis.
É no front fiscal, no entanto, que as preocupações são maiores. Estudos em variadas fontes indicam que seria necessário um aporte de mais de R$ 500 bilhões em ajustes para reverter o déficit primário atual, em torno de 1,3% do PIB, para um superávit em torno de 2%, talvez necessário para estabilizar a trajetória da dívida bruta, pela apuração mais recente, de julho, em 77% do PIB. Se nada for feito, esta acabará passando de 80% em 2019, com as agências tendo que rebaixar ainda mais a nota de crédito do País.
Sendo assim, na agenda de qualquer candidato que assumir, o desafio do ajuste fiscal terá que ser prioridade, com a reforma da Previdência como providência número um. Será que os candidatos radicais de esquerda estarão à altura deste desafio?
TRAJETÓRIA DA DÍVIDA BRUTA (% PIB)