O mercado financeiro espera nesta semana a confirmação das expectativas criadas nos últimos dias, de novos estímulos fiscais, nos Estados Unidos, e monetários na zona do euro, bem como do início da vacinação contra a covid-19 no mundo. Essa perspectiva sustenta os ativos internacionais, com a liquidez global ainda mais volumosa e o otimismo com a recuperação econômica em 2021 conduzindo o apetite por risco.
Porém, o recente rali faz uma pausa, em meio às renovadas tensões entre EUA e China, ao mesmo tempo em que o impasse em torno do Brexit entra em semana decisiva, o que pesa no pregão europeu. Os índices futuros das bolsas de Nova York amanheceram com leves perdas, monitorando o sinal negativo vindo da Ásia, onde relatos de que Washington pode sancionar autoridades chinesas pesaram nos negócios.
Hong Kong liderou as perdas, caindo pouco mais de 1%, ao passo que Xangai recuou um pouco menos (-0,8%), digerindo a notícia de que a Casa Branca prepara sanções econômicas contra mais uma dezena de autoridades chinesas, em resposta à dissidência em Hong Kong. O movimento pode se seguir ao aumento nas restrições de vistos nos EUA para membros do Partido Comunista Chinês (PCCh), anunciadas na semana passada.
Com isso, ficam relegados os dados de novembro da balança comercial chinesa. As exportações aceleram o ritmo e cresceram 21,1%, em base anual, ante alta de 11,4% em outubro, graças à robusta demanda externa. A previsão era de aumento menor, de +12%. Já as importações avançaram 4,5% no mês passado, praticamente mantendo o ritmo do mês anterior (+4,7%), mas ficando abaixo do esperado (+5,3%).
Como resultado, o superávit comercial chinês foi de US$ 75,4 bilhões em novembro, de US$ 58,4 bilhões em outubro. Ainda assim, os números não embalam as commodities, com o petróleo caindo, após cinco altas seguidas. Os metais básicos também recuam. Já o dólar ganha terreno, recompondo fôlego antes de uma nova rodada de estímulos nos EUA, enquanto o juro projetado pela T-note segue próximo a 1%, na máxima em nove meses.
Dois Poderes
No Brasil, o “teto dos gastos” impede o governo de prorrogar o auxílio emergencial aos mais vulneráveis à pandemia, ao passo que o acúmulo de sinais de pressão inflacionária inibe o Banco Central de agir. Além disso, a aposta em poucas fabricantes deixa o país para trás na corrida das vacinas. Combinados, população com menos renda para consumir e atividade sob impacto da disseminação do coronavírus afetam o desempenho da economia.
Mas é o risco fiscal que preocupa. Com isso, o noticiário em Brasília concentra as atenções dos investidores. O destaque fica com a decisão do STF ontem à noite de vetar a possibilidade de reeleição dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre. Em um placar apertado, 6 x 5, a Suprema Corte decidiu por maioria simples que a Constituição proíbe um segundo mandato consecutivo nas Casas Legislativas.
A decisão do STF é importante porque pode definir o andamento da pauta de votações no Congresso. Com Maia fora da disputa, o Palácio do Planalto pode ter vida fácil na Câmara e deve reforçar o apoio à candidatura do deputado Arthur Lira. O presidente Jair Bolsonaro articula com o Centrão, em troca de postos cobiçados no segundo escalão. No Senado, ainda é preciso construir apoio em torno de um nome forte.
Em jogo, estão a agenda de reformas, com a tributária sendo a próxima da fila, e a PEC Emergencial, que flexibiliza os mecanismos de ajuste fiscal e ainda deve propor a criação de um programa de transferência de renda a substituir o Bolsa Família. A votação dessa matéria permite a aprovação do Orçamento para 2021, dando ao governo gatilhos para conter os gastos. A redução de jornada e salários de servidores está na PEC administrativa.
Inflação, atividade e BCs na semana
Está carregada a agenda econômica desta primeira semana cheia de dezembro, principalmente no Brasil, que traz dados de inflação, atividade e decisão sobre a Selic em destaque entre hoje e sexta-feira. A começar pelo relatório de mercado Focus, do Banco Central, que sai logo mais (8h25), e deve trazer novidades nas estimativas das principais variáveis domésticas, neste e no próximo ano.
A sequência de melhora nas revisões para a queda do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano deve ser quebrada, após o ritmo da recuperação aquém do esperado no terceiro trimestre deste ano manter a atividade abaixo dos níveis pré-pandemia. Com isso, o “carregamento estatístico” para 2021 tende a ser menor, reduzindo a previsão de crescimento acelerado da economia doméstica.
Além disso, após o governo antecipar o reajuste na conta de luz esperado apenas para 2021, com a vigência da bandeira tarifária vermelha patamar dois neste mês, a projeção do mercado para a inflação oficial (IPCA) neste ano deve subir mais uma vez, pela décima sétima semana seguida. Com a “manobra”, a previsão para o IPCA no ano que vem deve parar de piorar, interrompendo seis semanas seguidas de alta na estimativa.
Aliás, o resultado efetivo do IPCA em novembro será conhecido amanhã e deve continuar mostrando um acúmulo de pressão inflacionária, com o resultado acumulado em 12 meses seguindo acima da meta perseguida para o ano, de 4%. Ainda assim, os dados devem ter pouco efeito sobre a decisão de juros do BC (Copom), no dia seguinte. A autoridade monetária insiste que tal movimento é temporário e que a âncora fiscal não mudou.
Ainda na agenda doméstica, saem dados sobre a atividade, com o desempenho do varejo (quinta-feira) e do setor de serviços (sexta-feira) em outubro lançando luz sobre a velocidade da economia brasileira na reta final do ano. Lá fora, dados de inflação ao consumidor (CPI) e ao produtor (PPI) na China, amanhã, e nos EUA, quinta e sexta-feira, dividem a atenção com a decisão de política monetária do Banco Central Europeu (BCE).
O anúncio será feito na quinta-feira e a expectativa é de adoção de novos estímulos com o BCE podendo aumentar o tamanho ou prolongar o prazo do programa de recompra de títulos e/ou de incentivo a empréstimo de longo prazo (TLTRO). Seja qual for a decisão, a expectativa recai na entrevista coletiva da presidente do BCE, Christine Lagarde, que acontece na sequência.
Confira a seguir os principais destaques desta semana, dia a dia:
*Horários de Brasília
Segunda-feira: A semana começa com as tradicionais publicações do dia, a saber, o relatório de mercado Focus (8h25), do Banco Central, e os dados iniciais da balança comercial em dezembro (15h). Antes, sai o IGP-DI de novembro (8h), que deve seguir com taxas mensais salgadas, acumulada alta de quase 25% em 12 meses. No exterior, o calendário econômico está esvaziado, trazendo apenas os dados sobre o crédito ao consumidor nos EUA em outubro (17h).
Terça-feira: Dados de inflação estão em destaque. No Brasil, sai o índice oficial de preços ao consumidor (IPCA) em novembro, enquanto na China serão conhecidos os preços no atacado (PPI) e no varejo (CPI), também referente ao mês passado. A zona do euro anuncia o índice ZEW de sentimento econômico, a taxa de desemprego e a leitura final do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre. Já nos EUA, saem apenas os dados revisados sobre o custo da mão de obra e da produtividade.
Quarta-feira: A decisão de juros do Comitê de Política Monetária (Copom) é o destaque do dia, mas a agenda doméstica traz também a primeira prévia deste mês do IGP-M e dados preliminares do fluxo cambial. Lá fora, merece atenção o relatório Jolts sobre as contratações e demissões nos EUA em outubro.
Quinta-feira: Os números do varejo brasileiro em outubro dividem a atenção com o levantamento atualizado da safra de grãos, enquanto no exterior o foco fica na decisão de juros do Banco Central Europeu (BCE), que será acompanhada de uma entrevista coletiva da presidente, Christine Lagarde. Nos EUA, é a vez dos dados sobre a inflação ao consumidor (CPI) no mês passado.
Sexta-feira: Mais um indicador sobre a atividade doméstica, desta vez, no setor de serviços em outubro, será conhecido hoje. Lá fora, saem os preços ao produtor nos EUA (PPI) em novembro e a prévia deste mês da confiança do consumidor norte-americano.
*Aviso: a partir de 14/12/2020, A Bula do Mercado será semanal, publicada apenas às segundas-feiras. Em 11/01/2021, os textos voltam a ser diários.