A semana começou de forma emblemática nos mercados. Enquanto o S&P 500 renovava o recorde de alta, impulsionado pelas ações de tecnologia, o Ibovespa descia mais um degrau, atingindo o menor nível desde meados de dezembro. Já o dólar deu um salto e encostou de vez na marca de R$ 5,00.
Há quem diga que o motivo foi o bilionário plano do governo para a política industrial, o que elevou as incertezas com a questão fiscal. Mas como dito ontem, o cenário não mudou e o pano de fundo continua o mesmo. O principal fator que move os mercados é a expectativa de juros mais baixos no mundo neste ano, com a taxa Selic a reboque desse movimento.
O problema é que a recente piora nas taxas das Treasuries e também dos bônus europeus começa a contaminar os ativos emergentes. Os investidores - estrangeiros, principalmente - ajustam o portfólio à perspectiva de que, talvez, o Federal Reserve não inicie o ciclo de cortes tão cedo nem adote um ritmo tão acelerado na queda.
Tecla SAP
Esse ajuste no rendimento (yields) dos títulos soberanos favorece as big techs. Vale lembrar que foram exatamente esses papéis que lideraram os ganhos durante a crise da covid-19 em meio à tese de investimento de crescimento (growth) e, depois, foram os mais afetados à medida que a pandemia ficava para trás.
Ou seja, por mais que se tente emplacar que os ruídos políticos estão descolando os negócios locais do rali no exterior, o fato é que o Brasil está refém do ambiente externo. E isso significa que os mercados domésticos estão sentindo de forma mais negativa a piora das condições globais, à medida que os juros aqui caem, mas lá fora não.
Afinal, o Comitê de Política Monetária (Copom) já contratou a manutenção dos cortes na taxa básica para as duas próximas reuniões, sendo a primeira já na semana que vem e a outra, em março. É aí que o fator fiscal entra na equação, somada à previsão de desaceleração do crescimento econômico no mundo.
Portanto, a grande questão é: o que está prestes a mudar - os fundamentos da economia ou as expectativas do mercado e os níveis de preços? Afinal, as apostas de juros mais baixos no mundo continuam elevadas, mas a narrativa dos investidores está ficando ultrapassada há algum tempo.