Não tente prever: apenas prepare-se
Não tenho tatuagens e nunca considerei fazer uma. Acreditem: apesar do tom das coisas que escrevo, sou um sujeito bem careta. Ainda assim, a decisão do STF — que impede que tatuados sejam arbitrariamente impedidos de assumirem cargos públicos — me botou para pensar: se eu decidisse tatuar algo, o que seria?
Certamente, uma frase. Na parte interna do braço, bem visível a meus próprios olhos, para que dela jamais me esquecesse: “Não tente prever o futuro: apenas prepare-se para ele”. Desde muito cedo, gastei muito tempo e energia planejando como minha vida seria. Estabelecia metas, fazia resoluções de Ano Novo, fixava objetivos na esperança (ou “fé” seria palavra mais apropriada?) de ter a mais remota ideia do que seria de mim dali a dez anos. Transcorrida uma década, com muitos solavancos e mudanças de curso no caminho, percebo que i) nada saiu como planejado e ii) foi ótimo assim.
Longe de mim sugerir que você viva sem pensar no amanhã: pelo contrário, pense muito, mas sem perder de vista que você não faz a mais remota ideia de como ele efetivamente será. Encare sua ignorância acerca do futuro como uma limitação inerente à condição humana e apenas prepare-se da melhor maneira que puder. É assim que as coisas são.
Após anos analisando os mercados, enfim compreendi: por mais sedutoras que sejam minhas projeções para qualquer empresa, a única certeza que posso delas extrair é que são pouco mais do que elaboradas peças de ficção. Da mesma forma que, lá em 18/08/2006, eu não fazia a menor ideia de que estaria escrevendo estas linhas hoje, assumo minha total ignorância acerca do que agosto de 2026 me reserva. Incapaz de oferecer a resposta, mudo as perguntas: com base no que sei hoje, o que é mais razoável esperar? Assumindo que isso se concretize, qual o melhor curso de ação? E caso não ocorra, quais as melhores medidas a tomar?
Vale (SA:VALE5) para os investimentos e vale para a vida.
Testando paciência e sinalização
Não está fácil. Por aqui, mercados sinalizam novamente desconforto com as idas e vindas do governo interino. Pegou mal a revisão da estimativa do PIB de 2017 divulgada ontem, vista como manobra para acomodar (no papel) o orçamento do próximo ano sem medidas mais enérgicas no lado das despesas. Olha-se feio também para o adiamento, no Senado, da votação da DRU (Desvinculação de Receitas da União). Uma hora a paciência acaba… Mas sou insistente: continuo acreditando que, superado o período de interinidade, Temer terá espaço para ser mais duro.
Nos EUA, ainda repercute a divulgação da última ata do FED ontem, que dissipou os ruídos gerados por declarações de seus chefes regionais com relação à possibilidade de elevação de juros antes do esperado por lá. Pelo contrário, elevam-se agora apostas de que dados mais bem-comportados de inflação podem empurrar o encontro com o inevitável (uma hora, os juros virão…) para 2017. Melhor, só se os chefes regionais decidissem alinhar o discurso: em certos momentos, essa barafunda me lembra os tempos que que a Esplanada inteira dava pitaco em economia. Lembra? Até a Ideli Salvatti deve ter falado de Selic em algum momento..
Na Europa, bolsas repicam desde a mínima de duas semanas, incentivadas por apostas redobradas (re-re-redobradas?) na atuação dos bancos centrais para suportar a atividade econômica. Até quando?
Operando bolsa com Tonho da Lua
Long em Rutinha, short em Raquel
O Tonho da Lua teria sido um ótimo operador de bolsa. Passou a maior parte dos 201 capítulos de Mulheres de Areia repetindo convictamente que Rutinha era boa e Raquel era má. Tinha na mão um trade relativo totalmente contra o consenso e, como demonstrado no final, fadado a ser ganhador.
Um long & short perfeito depende de três fatores: i) uma distorção de valor entre dois ativos, ii) a falta de consenso no mercado com relação a (i) e iii) um evento catalisador que altere a condição (ii), faça o mercado se curvar e corrigir (i). Ao contrário do que defendem os apóstolos dos mercados eficientes, isso acontece toda hora.
Max é nosso Tonho da Lua. Semanalmente, ele e o Fernando trazem no Empiricus Long & Short as melhores ideias de investimento para quem está mais preocupado em buscar distorções de preços relativos do que apostar em alta ou queda do mercado. O track record está cheio — cheio mesmo — de resultados verdinhos.
E não se enganem: apesar da analogia, o maluco do escritório não é o Max. Imagino que, a essa altura, vocês já saibam quem de fato é...
Fuja do rolezinho
Desde o final de julho circulam rumores de que a JHSF (JHSF3 (SA:JHSF3)) estaria buscando compradores para seus ativos de shopping centers. Nominalmente, falava-se no fundo Blackstone oferecendo algo da ordem de 1 bilhão de reais por uma participação de 50 por cento nos ativos e, mais recentemente, a imprensa noticiou que a incorporadora estaria buscando compradores para o Shopping Metrô Tucuruvi.
Olhamos com reservas. Se, por um lado, entendemos a necessidade de levantar caixa por parte da empresa (por conta do endividamento elevado), por outro consideramos que os shoppings são, precisamente, os ativos de maior valor da companhia: não gostamos das operações de incorporação. O negócio, se concretizado, seria portanto entregar a carne e ficar com o osso.
Os boatos fizeram as ações subirem 80 por cento no final de julho, patamar no qual permaneceram na espera de novas notícias. Na segunda-feira, uma operação da Polícia Federal fez um rolezinho na sede da empresa, em meio a suspeitas de que esta teria sido favorecida na obtenção de empréstimos junto ao BNDES por intermédio do governador mineiro Fernando Pimentel.
Não gostamos do racional da venda dos shoppings, e menos ainda de empresas sob suspeita de irregularidades. Estamos longe, bem longe.
Cumprindo o combinado
Como antecipamos ontem, o Felipe comprou hoje 100 mil reais da ação da Oportunidade dos 400 por cento à qual faz menção no Contragolpe . Alinhamento de interesse: a gente vê por aqui.
Considerando o bom desempenho recente da ação, que vinha deixando alguns clientes reticentes sobre a viabilidade de comprá-la no patamar atual, acredito que não existe melhor resposta do que essa. E ainda complemento: no momento em que escrevo estas linhas (cerca de 12h45min), a ação está cotada abaixo do preço médio que ele fez.
Ou seja, ainda há chances de entrar, no mínimo, tão bem quanto ele.