O otimismo de lá...
Às vésperas do início da temporada de resultados nos Estados Unidos, tínhamos S&P500 com valuation próximo à máxima histórica e mercados digerindo a iminente elevação de juros. Destacamos que um novo ciclo de alta dependia de espaço para revisar para cima as estimativas de lucros das empresas.
Pois bem, o que temos até aqui? 80 por cento das empresas que divulgaram números por lá até agora bateram o consenso de mercado. E a visão de que a atividade econômica por lá é suficientemente forte para comportar a alta de juros se disseminou amplamente.
A conjunção favorável de fatores impulsiona as bolsas no curto prazo. “Céu de brigadeiro”? A percepção de que nada pode dar errado é sempre demasiado arriscada, mas parece que o momento é mais propício para touros do que ursos.
Aproveite com moderação. E não esqueça o guarda-chuva em casa.
…reflete aqui
Otimismo global reflete por aqui. Em Brasília, p rosseguem esforços para fazer passar a PEC do Teto no segundo turno de votação. É importante conseguir boa margem, considerando tudo que ainda há por vir. Mercado, aliás, está acordando para o fato de a aprovação da emenda praticamente exigir o avanço de outras agendas — previdência, por exemplo.
Dólar muito próximo da mínima do ano. Movimento é atribuído ao fluxo da repatriação de recursos, mas já há quem aposte na continuidade da queda do movimento, agora em função do ingresso de estrangeiros.
Fundos com horizonte de longo prazo olhando para o Brasil são ótima notícia para projetos com retornos decentes e prazos mais dilatados de maturação. Infraestrutura agradece, ainda mais em um cenário onde a oferta local de recursos é mais escassa — BNDES tímido e fundos de pensão machucados, por exemplo.
Para onde vai?
Semana passada pedi, lá no Twitter, sugestões de temas para abordar por aqui (mandem mais, aliás!). Dentre os vários, um chamou especial atenção:
“Para onde caminha o juro real de equilíbrio do Brasil?”
—Andy R.
Fiz uma enquete no escritório: pareceu razoável a todos trabalhar, por ora, com algo entre 4 e 5 por cento.
Olho para os yields das NTN-Bs (também conhecidas, agora, por “Tesouro IPCA”). Já precificam mais ou menos 5,5, antes mesmo da aprovação do batalhão de reformas que temos pela frente. Ok — nossa hipótese parece passar pelo reality check.
E Selic? Imaginemos o Brasil-país-do-futuro, com inflação no centro da meta e ampla responsabilidade fiscal. 4,5 da inflação mais 4,5 de juro real e temos Selic de aproximadamente 9,2. Daí para baixo.
É a morte anunciada da indústria de Fundos DI, e em muito se equivoca quem pensa que só deve começar a buscar alternativas quando chegarmos lá.
O risco que não querem correr
Foi até engraçado ver a alegria com que o mercado recebeu, na sexta, a notícia do upgrade da nota da Moody’s para a Petro. Até pareceu que a análise da agência trouxe algo de novo.
Me coloco no lugar de muitos gestores de ações por aí: ficar para trás por conta de uma aposta pouco óbvia é compreensível (“perdoável” é outro departamento). Já com o risco de ficar sub-alocado em Petro, poucos parecem dispostos a arcar.
Atemo-nos a fundamentos: se o tema é choque de gestão, preferimos BBAS3 (SA:BBAS3) — que, aliás, tem dado só alegrias nas últimas sessões.
BMG: Por que?
O BMG levou uma bolada para casa por ocasião do encerramento da joint-venture que tinha com o Itaú (SA:ITUB4). Pelos 40 por cento que detinham, os mineiros levaram 1,4 bilhão de reais. Recursos vieram em boa hora, pois a situação do banco em termos de capital não era lá muito confortável até então.
Me surpreende, entretanto, a decisão de distribuir aos acionistas parte do bolo — 400 milhões, mais precisamente. Teriam eles melhores destinos para os recursos do que a própria instituição?
Mais estranho ainda é constatar que eles seguem ofertando CDBs a taxas astronomicamente altas nas corretoras — sinal de que o mercado segue indisposto com eles.