O mercado de açúcar fechou a semana com queda acentuada no julho/2014 de quase 100 pontos (22 dólares por tonelada) encerrando a 16.95 centavos de dólar por libra-peso, numa clara indicação de que ninguém quer receber açúcar contra o vencimento julho/2014 (que expira na segunda) devido à fraca demanda no mercado internacional.
Confesso que queimei a língua: o enfraquecimento do spread julho/outubro no apagar das luzes do pregão de sexta-feira mostra o quão fraco está o mercado físico de açúcar forçando o detentor de posições compradas no julho a revende-las abrindo nova posição no vencimento seguinte pagando um custo equivalente a 36.5% ao ano. Foge-me ao senso matemático ver o spread refletir um carregamento tão alto nos três meses que separam o vencimento julho do vencimento setembro, com 147 pontos. Em setembro de 2008 o vencimento outubro/2008 negociava 12,06 enquanto o março/2009 cravava 14.26 centavos de dólar por libra-peso.
Falta de demanda no curto prazo? Tem-se o ônus de rolar uma posição mais cara comprando os 90 dias de tempo até o próximo vencimento com esperanças renovadas de melhora nos níveis atuais de preço. Pode o outubro virar o julho (ou seja, cair nos níveis que o julho se despede da tela)?
Os traders encaram a dura realidade da dicotomia com a qual convive o mercado. De um lado o superávit que paira sobre ele e se soma a completa falta de atividade na exportação e, de outro, a perspectiva de que 2015 teremos déficit. A curva de preços mostra bem isso. Compare-se por exemplo como estava o spread maio/2015 com maio/2016 no início de maio deste ano com o fechamento de sexta-feira, por exemplo. Houve uma apreciação de quase 4 dólares por tonelada.
Dan Gardner, jornalista canadense e autor do livro Future Babble (sem tradução para o português) conta uma intrigante história sobre a importância em se fazer as pequenas coisas com empenho pois elas podem alcançar rapidamente proporções gigantescas e imprevisíveis. Uma espécie de teoria do caos ligada aos assuntos humanos que ele chama de “fator mordida de macaco”.
Na história que narra no livro existem na verdade dois macacos. O primeiro macaco ataca o cão pastor alemão de um homem, que tenta separar a briga dos animais. Nisso surge um segundo macaco que saltou e mordeu o homem. A mordida infeccionou e como não havia antibióticos naquela época (o fato ocorreu em 1920 e os primeiros antibióticos surgiram na II Guerra), o homem morreu.
Uma tragédia sem importância se o homem morto não fosse o Rei Alexandre, da Grécia, cujo poder político era mais simbólico do que real. A morte do Rei, no entanto, trouxe consequências políticas na linha sucessória (ele era casado com uma plebeia) e fez com que o antigo monarca exilado, Constantino I, retornasse ao país depois de um referendum popular. O novo governo grego teve uma acachapante derrota numa malsucedida ação militar na guerra contra a Turquia que resultou na morte de 250.000 pessoas. Ou seja, “um quarto de milhão de pessoas morreu por causa de uma mordida de macaco”, comentou Churchill anos depois.
A história está repleta desses acontecimentos fortuitos que no momento que ocorrem pouca atenção lhes é dada e eles resultam numa complexa e completa virada de cabeça para baixo do status quo. Dá até mesmo para se traçar um paralelo com a recente história do setor sucroalcooleiro e de como a sucessão de acontecimentos (nada fortuitos) podem levar silenciosamente um setor que gera US$ 40-42 bilhões de riquezas ao ano para seu ocaso.
Lula e Dilma encarnam os babuínos que morderam o monarca. No primeiro mandato do governo petista o então presidente encenava mais uma de suas óperas bufas exortando o setor a investir na produção que tornaria o país, seguindo sua tendência megalômana de ver seu próprio umbigo, na Arábia Saudita do combustível limpo. Embora a iniciativa privada não tivesse ninguém do governo lhe apontando uma arma na cabeça para que investissem em novas unidades industriais, o fato é que o incentivo oficial dava sustentação aos empresários para que pesados investimentos fossem feitos.
Com o surgimento do pré-sal, Lula deu as costas para o setor. A perspectiva dos preços internacionais do petróleo, que se dizia em 2007, poderia chegar a 200 dólares o barril e faria do etanol uma solução viável, chegou na verdade a US$ 38 o barril. O tsunami de investimentos sem lastro técnico trouxe muito do resultado pobre que hoje vemos aí. Usinas fechando, outras em recuperação judicial, todas tirando água de pedra, sobrevivendo aqui e ali.
Mais quatro anos de governo petista serão mais do que suficientes para dizimar o setor. Veja, por exemplo, o que está acontecendo com a Petrobras. A política intervencionista do governo, visando as eleições de outubro e a perpetuação no poder sangra o caixa da estatal. O valor de importação do petróleo hoje representaria, a valores de mercado, uma gasolina a R$ 3,1800 o litro no posto. A defasagem é de 10-12 % em relação ao mercado internacional. Por outro lado, se tivéssemos praticando a boa e saudável economia de mercado, com os preços livres, o etanol poderia ser comercializado a R$ 2,2300 o litro.
Estaríamos nós no limiar de uma tragédia que ainda não percebemos?
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