Tenho uma confissão a lhe fazer. A newsletter de hoje era para ser outra. Era para ser uma tese de investimento que vinha trabalhando desde que fui escalado pelo Felipe para escrever o Day One de hoje. Mas ontem, ao fim do dia, acordamos para o fato de que nossos assinantes nos achariam loucos se não comentássemos sobre o momento que estamos vivenciando.
O Brasil está passando por um momento de convulsão. Não somente no mercado — e eu volto em breve para comentar sobre ele —, mas também na sociedade. Os brados requerem a atuação do governo para reimplantar o que nunca deu certo. Às favas com as reformas e com o futuro, o que importa é o agora. O ponto é que o agora sempre acaba e o que traz transtorno é o futuro.
Os fatos acontecidos recentemente expuseram a fragilidade do pacto econômico brasileiro. A casa foi construída sem alicerces robustos o suficiente para sustentar o segundo andar. E o retorno à prancheta torna-se cada vez mais urgente, sob pena de ser necessário reerguer até mesmo o primeiro andar. As reformas são necessárias e precisam ser implantadas, doa a quem doer.
É lógico que isso não significa que o país não tem jeito. Como o Felipe gosta de pontuar, a economia brasileira tem um caráter antifrágil. De tempos em tempos, ela se reinventa e fica mais forte, criando novas oportunidades para seus participantes, que se adaptam ao ecossistema conturbado do país e mantêm acesas as chamas da esperança.
Finda a reflexão, voltamos ao mercado financeiro. Os últimos pregões retrataram a expectativa em relação ao futuro: alta nos juros, desvalorização do real e da Bolsa. Os sinais ainda frágeis da economia continuam a levantar a questão-chave se o país tem potencial para crescer. Enquanto isso, ficamos agitados e esgotados ao ver nossos investimentos oscilarem bruscamente.
E a tensão hoje em dia é alimentada exponencialmente pelo afluxo de notícias e tuítes. Ontem mesmo, nas redes sociais, um brilhante gestor de fundos de investimento desenhava o cenário econômico com o dólar beirando os 6 reais. Os efeitos seriam mesmo catastróficos: inflação nas alturas, impressão de moeda, haircut da dívida e por aí vai. Sem contar a instabilidade institucional. Mas isso é um cenário, e, às vezes, eles devem ser utilizados para trazer os debates às mesas de negociação.
O que me parece de fato estar acontecendo é um movimento de correção bem condizente com um bull market. Em todos, as correções chegam. Esse movimento ocorreu nas bolsas americanas em fevereiro e, até meados de maio, a Bolsa brasileira havia passado incólume — boa parte devido às commodities. De lá para cá, assistimos às fortes desvalorizações e à reprecificação dos ativos de risco. A história agora parece simples: os candidatos de centro não decolaram nas pesquisas e as recentes complicações provocaram o turbilhão.
O sofrimento nos participantes do mercado é nítido. Vínhamos de momentos de euforia e de melhoras consistentes nos resultados e discursos das empresas. De repente, tudo parece ter sido jogado na lata do lixo. Talvez agora ainda não seja o pior momento da economia, mas muito provavelmente é o momento no qual o pessimismo com futuro atingiu seu ápice – ou está próximo disso. É aí que me atenho às bíblias e aos sacerdotes do value investing: o futuro ninguém sabe, mas compre quando todos, inclusive os especialistas, estão pessimistas.
Mercados iniciam o dia ainda preocupados com o front político. Os juros operam em forte alta, dólar futuro sobe mais 0,5 por cento, enquanto o Ibovespa futuro opera em queda de 0,8 por cento.
Lá fora, os índices futuros das bolsas americanas repercutem o bom cenário do setor de tecnologia e operam no território positivo.