O mercado futuro de açúcar em NY fechou a sexta-feira com o vencimento para maio/2019 cotado a 12.56 centavos de dólar por libra-peso, uma elevação de 38 pontos na semana, ou pouco mais de 8 dólares por tonelada. Somos da opinião que esta safra 2019/2020 vai disponibilizar açúcar mais tarde do que se imaginava e o mercado deverá reagir de acordo tão logo se solidifiquem essas percepções. O mercado começa lentamente a desenhar uma correção.
Não está se afirmando aqui que o cenário é altista, mas sim que existe um exagero na recente baixa que seguiu curso semelhante em outras commodities do grupo soft (café, por exemplo) e, também, menor cana a ser moída e ATR mais baixa (a Archer Consulting ainda não finalizou sua previsão) devem apontar para uma moagem no Centro-Sul entre 562-565 milhões de toneladas de cana.
Vejamos a curva de preços do mercado futuro de NY com a intenção de se formar um argumento acerca da afirmação acima. O contrato com vencimento maio/2019 está com um desconto exagerado em relação ao contrato de maio/2020 se compararmos este com o vencimento do ano seguinte. Em resumo, se nós suavizarmos a curva a partir do vencimento maio/2021, o preço de maio/2019 deveria ser 12.98 centavos de dólar por libra-peso apenas usando esse critério. Claro está que a curva apresenta distorção em função de pressão de vendas por parte dos fundos (que estão mega posicionados com 135,000 contratos vendidos). A chance dessa correção ocorrer está sendo sinalizada, ainda que timidamente, pelo estreitamento do spread.
Não parece haver dúvida de que o início da safra de cana no Centro-Sul será mais alcooleiro. Ainda não há consenso em relação a ATR, mas grande parte das usinas não acredita na repetição este ano do rendimento do ano passado, ou seja, podemos ter menos cana, menos ATR e um mix de açúcar ainda abaixo das primeiras previsões. Ainda vamos levar algumas semanas até que essa percepção se solidifique.
Já os especialistas de clima acreditam que teremos muitas chuvas no outono e inverno, o que pode prejudicar o fluxo de produção. Em maio de 2010, só para lembrar, o mercado de açúcar negociava a 13 centavos de dólar por libra-peso em NY enquanto renomados gurus apontavam 10 centavos como quase certo. Abundantes chuvas atingiram o Centro-Sul com colapso nas estradas que levam aos portos e congestionamento nos armazéns. Em setembro (apenas quatro meses depois) NY batia 27 centavos e o resto da história todo mundo sabe. Não estamos dizendo que isso vai se repetir, mas há de se ter cautela em ficar vendido num mercado a 12.50 centavos de dólar por libra-peso.
Consumidores industriais de açúcar deveriam olhar para o longo prazo e fazer contas comparando os valores atuais da commodity com o passado recente e verificar se não estamos num momento de oportunidade para fixar preços. Uma put (opção de venda) de preço de exercício 13.50 centavos de dólar por libra-peso para vencimento outubro/2020, por exemplo está valendo 124 pontos. Vende-la e caso o mercado expire abaixo de 13.50 centavos de dólar por libra-peso em setembro de 2020, significa estar comprado a 12.26 centavos de dólar por libra-peso, ou 160 pontos abaixo do fechamento de sexta). Se não for exercido, pelo menos são 27 dólares por tonelada de prêmio no bolso para ajudar a diminuir o custo de aquisição de matéria prima.