O Presidente do Banco Central do Brasil falando ontem pela manhã ao CAE do Senado Federal praticamente revalidou a utilidade/necessidade do programa de “swaps cambiais” como instrumento para mitigar a insegurança das empresas com exposição em moeda estrangeira ao oferecer proteção do preço.
Evidentemente não destacou que o hedge é necessário no montante colocado pelo BC quando a moeda nacional perde credibilidade e precisa então ser ancorada por instrumento que agregue suporte à mesma, evitando assim que ocorra pressão fortemente altista advinda do mercado futuro e que não atendida pode transferir-se para demanda no mercado à vista causando abrupta alta do preço ou motivar a criação de instrumentos de hedge absolutamente “tóxicos” e com grande risco de causar impactos relevantes no mercado financeiro.
Mas o tom da abordagem deixou muito evidente que o país ainda precisa manter esta proteção para os investidores estrangeiros e para as exposições comerciais de curto prazo.
Embora tenha mencionado inúmeras vezes que a demanda destes dois segmentos representam 80% do valor dos contratos de swaps atualmente ativo, não anunciou qual seria o procedimento a ser adotado pelo BC a partir de 31 de março próximo quando ocorre o vencimento do programa de intervenção com a rolagem e oferta adicional diária de 2.000 contratos equivalentes a algo como US$ 100,0 M.
O mercado de câmbio reagiu literalmente como se tivesse uma incógnita absoluta a respeito dos swaps cambiais, e por algum tempo teve comportamento volátil.
À noite, o BC emitiu comunicado tratando do assunto e definindo o encerramento do programa mantendo, contudo, a rolagem integral do estoque em poder do mercado, dito US$ 114,0 Bi, assegurando que os contratos vincendos a partir de 1º de maio de 2015 serão renovados integralmente, levando em consideração a demanda pelo instrumento e as condições do mercado, e, com isto deixou claro que monitorará estes dois aspectos que se não justificarem poderão determinar rolagem menor do que a posição vincenda.
No nosso entendimento feito desta forma não impactará na formação da taxa cambial e buscará reduzir a volatilidade que acaba por prejudicar os benefícios diversos de se ter a taxa de câmbio ajustada à realidade do país.
Por outro lado, de forma bastante objetiva deixou clara a sua autonomia para transgredir o estabelecido ao citar que sempre que julgar necessário poderá realizar operações adicionais por meio dos instrumentos cambiais ao seu alcance, um posicionamento bastante oportuno.
Como colocamos ontem, o rearranjo de setores importantes da economia brasileira com a utilização da taxa de câmbio ajustada à realidade parece ter sido o inteligente atalho utilizado pela equipe econômica para provê-los de incentivo de forma horizontal, ou seja beneficiando a todos, sem precisar submeter-se a aprovação no Congresso Nacional.
Agora a decisão do BC visa contingenciar a volatilidade que é um fator inibidor do desenvolvimento dos negócios relacionados à moeda americana.
O país precisa de uma reação urgente em relação ao exterior.
Nossa balança comercial precisa reagir e ser contributiva.
O déficit em conta corrente em fevereiro foi de US$ 6,9 Bi, maior do que o projetado pelo próprio BC que era de US$ 6,4 Bi. Medido em 12 meses atinge US$ 89,9 Bi, equivalente a 4,22% do PIB estimado.
Os IED´s atingiram US$ 2,769 Bi em fevereiro, ficando abaixo da projeção do BC que era de US$ 3,1 Bi e insuficiente para cobrir o déficit em conta corrente de US$ 6,9 Bi
A expectativa é que a decisão da Standard&Poor´s contribua para a mudança dos investidores estrangeiros em relação ao Brasil, já que há enorme necessidade do país recuperar fluxos de capitais estrangeiros em montante significativo para assim evitar que em algum momento o BC não venha a ser levado à utilização de suas reservas cambiais.
O quadro nos sugere que o preço da moeda americana possa ainda subir mas sem exageros e de forma gradual, sem que se precifique na taxa cambial perspectivas acreditadas de que não dará certo.
O clima de tensão e negativismo parece arrefecer e isto é bom para o país, que efetivamente não sugere 2015 otimista, mas já deixa a possibilidade de um 2016 melhor.
É bastante provável que o preço da moeda flutue entre R$ 3,10 a R$ 3,20, já que a decisão da Standard&Poor´s eliminou “os medos e receios” pelo menos até o final do ano o risco de perda do grau de investimento.