A situação econômica do Brasil é alarmante, o desajuste das contas públicas, a dívida pública alta, a inflação alta, a retração da economia, o desemprego, a taxa de juros, o câmbio, etc… são fatos verdadeiramente alarmantes.
No estado que o Brasil se encontra e face ao panorama interno e externo, qualquer solução de correção de trajetória não será possível sem sacrifícios.
O Brasil tem solução, ela existe, só que as suas aplicações são difíceis e impopulares.
Não há qualquer dúvida, pelo menos para mim, que o primeiro grande passo, de imediato, é estancar o crescimento da dívida pública, gerando um superávit primário sólido para garantir a sua sustentabilidade.
Também não restam dúvidas que o Brasil tem forçosamente que começar a reduzir a sua dívida pública nos próximos anos (por muitos anos), e diminuir a despesa da sua dívida, ou seja, os gastos com os juros.
É um fato que com os juros no patamar atual, a despesa com juros da dívida se encontra alta. Este fato poderia levar-nos a uma lógica de que se baixássemos os juros seria benéfico, pois diminuiríamos o seu custo, o que está correto. O problema reside no impacto que poderia ter nos restantes fatores econômicos.
Lembro-me, numa primeira aula de economia, de ouvir falar em “ceteris paribus”, em que se analisa a influência de um fator sobre o outro, com as demais variáveis constantes. Mas também logo se aprende que tal situação não é possível em todas as situações, pois os fatores e eventos econômicos interagem entre si, podendo variar. É a intensidade e quantidade variáveis afetadas.
Este último parágrafo não seria nenhuma aula de economia, mas sim salientar que se deve ter em conta, quando se defende ou aplica determinada ação, haverá uma ou mais variáveis afetadas.
Isto para chegar a conclusão que quaisquer medidas de contenção da despesa e controle da dívida pública terão necessariamente consequências em várias variáveis macroeconômicas.
Já muitas vezes tenho defendido o corte na despesa pública, do enxugamento da máquina do estado e do corte no investimento e simultaneamente o aumento de impostos, dentro de outras medidas estruturais, tais como a reforma da previdência, reforma administrativa, etc.
Claro que isto terá consequências: maior retração do mercado, aumento do desemprego, diminuição do rendimento disponível, etc. Mas, em contraponto com estas consequências negativas, poderíamos ter uma diminuição da inflação, um câmbio mais ajustado, maior confiança do mercado interno e externo, mais investimento estrangeiro e interno, podendo também em médio prazo levar a uma diminuição das taxas de juros e a um crescimento econômico saudável e sustentado, como consequências positivas.
Não se altera um cenário macroeconômico, com o qual o Brasil vive atualmente, de um momento para outro. Exige tempo e sacrifícios (austeridade) e quanto mais cedo começarmos, menos será a fatura que teremos que pagar.
Espero que não seja necessário bater mais no fundo para que se faça o que deve ser feito. O que não tenho qualquer dúvida é que se continuarmos neste caminho corremos o risco de voltarmos ao passado e o cenário de hiperinflação. Pode ser uma hipótese, mesmo que ache remota.
Acredito que quando a situação começar a complicar-se mais tomarão medidas mais rigorosas das que têm sido anunciadas, que são só paliativas e o seu impacto reduzido não é solução nem no curto prazo.
Acompanho de perto a situação de vários países da união europeia, até porque vivo e trabalho na Europa, em especial os que estão em crise ou com problemas sérios: Portugal, Grécia, Itália, Espanha e Irlanda.
Não vou focar-me muito sobre a situação da Europa e em particular destes países, até porque seria análise muito longa e exaustiva, mas sim focar somente na semelhança mais importante entre eles e o Brasil: a elevada divida pública, do déficit das contas públicas e sua necessidade de redução.
Este problema não é só do Brasil, no mundo existem muitos países em posição semelhante. Mas as soluções, por mais que doam, são sempre as mesmas e exigem sacrifícios. O que podemos discutir é onde cortar essa despesa e aonde aumentar esses impostos (sobre o rendimento e/ou consumo).
Nada do que disse neste artigo não deve ser novidade para ninguém, ou pelo menos não deveria ser. Apesar de economia não ser uma ciência exata, cada vez mais de difícil análise por via da globalização, há muitos aspetos que são pacíficos e expectáveis.
Não vejo que o Brasil esteja tecnicamente falido e que a possibilidade de calote possa vir a ser um fato. Até porque o Brasil nunca deu calote a ninguém. Existem grandes dificuldades. O futuro não traz bons augúrios, isto é real. O resto, com o devido respeito, é mera especulação de um cenário possível, mesmo que esta possa ser bem fundamentada num determinado contexto e de um conjunto de dados... será?
“O Brasil tem solução. Como muitos países com os mesmos tipos de problemas estão procurando soluções. O que é preciso é ter vontade e aplicar as medidas necessárias, mesmo sabendo que a austeridade exigirá, numa primeira instância, sacrifícios maiores. Mas ultrapassados os primeiros anos começaríamos a colher os frutos dessas ações.”