O ano de 2024 está terminando e o que se viu nesses 12 meses foi a atratividade da renda fixa em detrimento da renda variável. Tanto que houve forte crescimento na captação de recursos, junto aos investidores, direcionados para a classe de crédito privado, especialmente as debêntures incentivadas indexadas ao CDI. E por que isso aconteceu? Entre as principais razões para este fenômeno destaque para três pontos que considero os principais.
A queda dos spreads de crédito da economia, como redução do risco país, mensurado pelo CDS, assim como pela redução na inadimplência para o crédito pessoa jurídica, consignado e direcionado é um deles. Esse spread de crédito simboliza os juros cobrado pelos bancos credores, em excesso ao custo do dinheiro para as instituições financeiras credoras. Em um cenário de queda dos spreads de crédito, os títulos privados incorrem a uma marcação a mercado positiva, impulsionando o retorno dos títulos de crédito privado e, como consequência, dos fundos de debêntures incentivadas.
A mudança na regulação das LCIs e LCAs é o segundo ponto a ser destacado. Isso porque a alteração desestimulou as aplicações nessa classe e incentivou os investidores a buscarem por alternativas isentas e com rendimento atrativo, como é o caso das debêntures incentivadas e fundos de debêntures incentivadas. E, terceiro ponto, a maior proximidade entre a curva de juros e a projeção máxima para a taxa Selic aumenta a atratividade de títulos privados e fundos de investimento em títulos privados que possuem uma maior exposição à marcação a mercado.
Nesse caso, a probabilidade de haver uma abertura adicional e mais agressiva na curva de juros é menor, sendo mais provável que a curva de juros se mantenha volátil e sem uma direção definida. Caso a curva de juros ainda tivesse um espaço considerável de alta, poderia prejudicar o retorno dos títulos e fundos que possuem marcação a mercado. Em um cenário de melhora na curva de juros, os ganhos nessa classe de ativos seriam ampliados. É importante ressaltar que esses títulos são indexados ao CDI e não ao IPCA.
Dada a explicação sobre as principais razões para a renda fixa ter o desempenho que teve durante 2024, você, leitor, deve estar curioso para saber quais os produtos que se destacaram no período. Pois bem, as melhores classes de ativos foram, por ordem, as debêntures incentivadas e fundos de debêntures, fundos multimercado em crédito privado (FIM CrPr) e, em terceiro, os FIC FIDCs com baixo risco de crédito.
No caso das debêntures, é necessário deixar claro que me refiro àquelas com exposição a empresas com baixo risco de crédito. O fechamento da curva de juros e do spread de crédito direcionado às empresas com nota de crédito entre A e AAA tiveram um impacto extremamente positivo na marcação a mercado. Isso se refletiu em retornos bastante superiores para alguns fundos de debêntures incentivadas. Em um cenário onde o CDS BRASIL está em queda, os primeiros títulos e fundos de crédito privado a entregarem retornos mais expressivos são aqueles com exposição a empresas bastante resilientes da economia. Em 2024, esses fundos entregaram entre 15 e 17% e, melhor, isentos de imposto de renda.
Quanto ao segundo da lista, os fundos multimercado em crédito privado, destaque para aqueles que mesclam suas estratégias em Bonds, Debentures e FIDCs. Esses possuem maior flexibilidade em negociar ativos para lucrar com a volatilidade na curva de juros dos Estados Unidos e do Brasil. Como ambas as curvas de juros estão em patamares elevados e com bastante volatilidade, esses fundos ganham atratividade, dado que negociam compra e venda de títulos diariamente, assim como fazem operações de hedge para lucrar mesmo em um cenário no qual a curva de juros não apresente uma direção definida, e permaneça sob altos níveis de volatilidade. Em 2024, alguns fundos desta categoria entregaram retornos entre 14% e 17%.
Por fim, os FIC FIDCs com baixo risco de crédito. Refiro-me à carteira de devedores bem pulverizada e com índice de subordinação mínima de 20% (proteção). Essa classe de ativos acompanha o retorno dos juros com um spread de retorno, a depender do fundo, entre CDI+2 até CDI+4%, com volatilidade próxima de zero. Adicionalmente, grande parte dos FIC FIDCs são isentos de come cotas, reduzindo o impacto tributário na rentabilidade dos fundos.
As classes de ativos citadas acima foram o destaque deste ano. Para 2025, a expectativa é que os FIC FIDCs com baixo risco de crédito se mantenham em alta. Como é esperado que a taxa Selic ultrapasse a marca dos 14,25% ao longo de 2025, acredita-se que o retorno dessa classe de ativos deva superar a marca dos 16% no decorrer do próximo ano, destacando a classe de renda fixa em termos de rentabilidade e com volatilidade zerada, assim como um prazo curto de resgate, variando entre 30 e 90 dias.
O segundo ativo de renda fixa que deve performar bem são os títulos CDBs pré-fixados com taxas superiores a 14%. Vale (BVMF:VALE3) aqui um aviso. É importante analisar o índice de Basiléia dos bancos alvo de investimento, assim como a alavancagem (ativos/equity), níveis de inadimplência, ROE, comportamento da carteira de crédito e exposição do banco a devedores arriscados como pessoa física e empresas sensíveis, nas modalidades de cartão de crédito, cheque especial, rotativo e crédito livre. Por fim, com a taxa de juros em um patamar tão elevado, devem se destacar também os títulos do governo pós-fixados como as LFTs.
Bem, dito tudo isso, é importante considerar que 2024 já acabou e sobre 2025 o que existe são expectativas. Ninguém é capaz de prever o que irá acontecer de concreto no Brasil e no mundo daqui para frente com potencial para mudar os rumos da economia e do mercado financeiro. Mas considerando o que temos até o momento, é possível dizer que o ano de 2025 será desafiador para os títulos de renda fixa com prazo de vencimento superior à 2027 e indexados ao IPCA.
Esses títulos IPCA, e com uma duration longa são mais suscetíveis a perdas advindas de movimentos agressivos na curva de juros. Como o juros ainda estará alto tanto no Brasil como nos Estados Unidos é commodities em baixa, não acredito que o IPCA irá superar o patamar de 7%, mesmo com a recente alta do dólar e política fiscal agressiva, necessário para fazer com que os títulos IPCA+ entreguem retornos satisfatórios. Como o risco fiscal e da pós-eleição de Trump podem causar novas turbulências na curva de juros, sem uma previsão de queda, a volatilidade nesses títulos indexados ao IPCA será alta, desmotivando a alocação nessa classe.
Ao final de 2024, observamos que a curva de juros de curto e longo prazo, em múltiplos vértices de vencimento, superou a taxa selic terminal no fim do ciclo de alta estipulada pelo Bacen e pelos economistas (entre 14,25% e 15,25%) e, nesse momento, os títulos públicos e privados pré fixados ganham forte atratividade. Títulos públicos e CDBs de bancos saudáveis, especialmente aqueles com exposição ao crédito consignado são nossas prioridades de alocação na classe Pré, dado que representam um menor risco de crédito. Como a curva de juros encontra-se acima da Taxa selic terminal, reduz a probabilidade de um efeito negativo e agressivo da marcação a mercado.
Dado que o patamar da Selic estará bem alto ao longo de 2025, grande parte das empresas de commodities (insumos agrícolas, minério, grãos, papel e celulose), cíclicas (varejo, educação, turismo), intensivas em capital (logística, companhias aéreas, hospitais) e alavancadas (índice Net Debt / EBITDA superior a 2x, o que contempla os arrendamentos das companhias) podem passar por dificuldades financeiras e dar calote nos investidores da renda fixa. Por essa razão, é importante o investidor ficar longe das empresas com receita e custo que derivam do preço de matérias-primas; das empresas intensivas em capital e com alto volume de dívidas (alavancadas); e das empresas cíclicas como as presentes em setores vulneráveis a crises econômicas e que comercializam bens e serviços supérfluos.
Como se vê, há bons ativos para alocarmos recursos, mas é preciso atenção, pois nem tudo são flores no mercado financeiro e o Brasil e o mundo continuam e devem continuar turbulentos.