Governar é estabelecer prioridades, ou como dizemos em Economia, toda alocação de recursos implica em escolhas (trade-offs). Em um mundo com recursos escassos escolher é decisivo.
A escolha que o Presidente Jair Bolsonaro sua equipe e o país encararam é: salvar a Petrobras (SA:PETR4) ou o PIB de 2019? A decisão do presidente Jair Bolsonaro de questionar uma possível alta no preço do diesel mostra o tamanho do dilema.
Esta é uma das mais difíceis decisões que poderíamos ter no momento. Já que, temos outros temas tão importantes na mesa quanto esta, tal como a Reforma da Previdência.
Vale lembrar que, quase um ano atrás, o país viveu a sua maior greve dos transportes, quando o governo de Michel Temer e sua equipe subestimaram os avisos dos caminhoneiros, que uma paralisação seria feita.
Um aviso ignorado que custou muito caro ao país, tanto socialmente como economicamente.
Em termos econômicos, o resultado foi devastador para o Brasil, o PIB como um todo que era estimado pelo IPEA em crescer 2,7% em 2018 foi revisado para 2%, depois da greve dos caminhoneiros, e terminamos 2018 com 1,1% de crescimento, ou seja, a greve pode ter tido um impacto muito maior que as projeções previam.
Naquele momento, o setor industrial foi um dos mais afetados, quando perdeu um um ponto percentual do seu crescimento projetado de 2,8%, terminando o ano em 1,8%, muito abaixo do desempenho de 2017, quando havia crescido 2,6%.
Poderíamos ter algo semelhante em 2019? A resposta é possivelmente sim.
Por isso, nós assistimos na semana passada o Presidente Jair Bolsonaro pedindo uma revisão da elevação no preço do diesel praticado pela Petrobras.Uma tentativa clara de mostrar que seu governo está sensível ao pleito dos caminhoneiros.
Se tivéssemos uma greve similar a da 2018, de 21 dias, o PIB de 2019 poderia ter um crescimento quase zero.
Daí, o dilema de Bolsonaro e seu governo parece ser esse: salvar o lucro da Petrobras ou o crescimento do PIB de 2019?
Ao que tudo indica, a Petrobras deve ser oferecida para este sacrifício, já que é preferível uma empresa perder parte das suas margens e lucros do que a economia inteira ser sacrificada por um menor crescimento, como aconteceu em 2019.
No jargão popular, a Petrobras será o boi que ficará para as piranhas, para se salvar algo maior na travessia, o 'rebanho da economia'.
Entretanto, essa decisão choca-se frontalmente com a agenda liberal que vem sendo defendida pelo ministro da Economia Paulo Guedes, de zerar qualquer intervenção estatal na economia. Mas, tão pouco a Petrobras volte a sofrer novas ingerências em outras decisões, a interferência no diesel deve ser pontual.
Portanto, no curto prazo é ruim para o lucro da Petrobras perder este aumento de receita, mas é preferível salvar o crescimento da economia como um todo.
Outra questão que surge é: o governo ficou refém dos caminhoneiros?Até que a economia volte a crescer, e o preço dos fretes deixe cair, a resposta parece que é sim.
De fato, a greve de 2018 mostrou que a categoria possui um enorme poder barganha, dada dependência da nossa economia em relação ao modal de transporte rodoviário, que é responsável por 65% do volume transacionado.
Também é preciso destacar que os próprios caminhoneiros também são reféns no lado dos custos de fornecedores monopolistas como a Petrobras e as empresas concessionárias de rodovias, que não permitem aos caminhoneiros escolhas ou formas de redução de custo.
Ao mesmo tempo, as receitas são variáveis e ocorrem em um ambiente de concorrência elevada, e sujeitas ao incerto crescimento econômico brasileiro.
Desta forma, o presidente Bolsonaro e sua equipe têm em seu colo um complexo tabuleiro do xadrez econômico.
Portanto, em termos práticos os sinais para os investidores ficarem atentos são: caso haja uma negociação dura do governo contra os caminhoneiros nos próximos dias, ou mesmo uma ausência de diálogo entre ambos, é o momento de se vender Bolsa e ativos como Petrobras (PETR4) , Ultrapar (SA:UGPA3), BR Distribuidora (SA:BRDT3), pois assistiremos uma nova greve emergindo com força.
Como aprendemos em economia, o governo deverá escolher, no caso, pelo caminho que traga menores danos totais à economia brasileira.