Em 14/4, o FMI divulgou suas novas projeções de crescimento global, sacramentando em larga conta tudo que as instituições já vinham fazendo nas últimas semanas.
A verdade é que essa crise não tem nenhum precedente na história recente do mundo e nem encontra paralelo com a Grande Depressão de 1929. Essa não é uma crise econômica e tão pouco do sistema financeiro. Ela é uma crise sanitária com graves consequências sobre a economia global, e ninguém nesse momento tem a mais mísera ideia de qual será a duração dela e quais as reais consequências para os países desenvolvidos e principalmente os emergentes. Todos estão tentando fazer suas análises e projeções, que é bom que se diga, só fazem piorar a cada revisão.
Essa crise pega o mundo com as menores taxas de juros da história (vários países já com taxas negativas), taxas de inflação baixas e largo endividamento. O IIF - Institute of Internacional Finance indicou, por exemplo, que o endividamento global poderia chegar ao final do ano ao redor de US$ 255 trilhões, algo como 320% acima do PIB global, e com países emergentes em situação precária. Tudo isso fica agravado pelo esforço de guerra necessário para mitigar os impactos da pandemia do Covid-19, sendo certa a injeção na veia do aumento da dívida.
Mas vamos às projeções do FMI:
O organismo projetou que a economia global encolherá 3% em 2020, de projeção anterior de expansão de 3,3%. Para compensar, espera expansão em 2021 da ordem de 5,8%, mas destacando que a queda do PIB nesse ano será maior que da Grande Depressão de 1929. Já para os EUA, estima-se queda do PIB de 2020 de 5,9%, quando a projeção anterior era de expansão de 2%. Para 2021, projeta-se crescimento compensatório de 4,7%, de antes projetado em somente +1,7%.
Para a zona do euro suas estimativas são ainda piores com o PIB de 2020 encolhendo 7,5%, de alta anterior de 1,3%. Induz ainda a expectativa de que a região possa crescer em 2021 em 4,7%, de estimativa anterior de +1,4%. Falando de Brasil, projeta-se encolhimento do PIB nesse ano de 5,3% (fica entre as maiores quedas projetadas, e ele é sempre conservador e um pouco atrasado e para 2021 com alta nada compensadora de somente 2,9%). Por aqui, ainda estimam que a taxa de desemprego suba até 14,7%. A Moody’s prevê que o Brasil encolherá 6% em 2020, a América Latina 5,5% e EUA com -5,8%.
O único país que escapa de ter retração no PIB é a China onde projetam ainda expansão de 1,2%, de anterior em +6%. Mas também projetam crescimento em 2021 de 9,2%, de anterior em 5,8%. A Moody’s estima uma queda do PIB chinês de em 1%.
Destacamos que essas e outras projeções que temos visto, possuem viés ainda pior. Na verdade, as projeções levam em conta que o Covid-19 será dominado em mais poucos meses, e a recuperação em alguns países pode acontecer de forma rápida. A própria China estaria nessa situação com sua economia planificada e centralizada, os EUA gastando trilhões de dólares para conseguir mitigar problemas e a Alemanha provavelmente com o maior esforço em relação ao PIB (algo como 50%), logo ela que sempre foi de larga austeridade fiscal, agora pode fazer tudo isso.
Evidentemente se os impactos do Covid-19 forem mais duradouros ou prolongados, a situação se agravará ainda mais e a recuperação pode se alongar por mais tempo, reduzindo as projeções melhores de 2021. O FMI também alerta que diante dessa crise pode haver ruptura no processo de globalização e a quem indique que a União Europeia pode ser muito enfraquecida. Além disso, o FMI estima que a contração do PIB global pode atingir em 2020 e 2021 algo como US$ 9 trilhões.
Aqui o governo estima que o esforço está sendo enorme para um país com grave déficit fiscal e fala em esforço da ordem de R$ 1,25 trilhão, pelo menos até o momento, e dando pinta de ser insuficiente para respaldar a preservação de vidas ceifadas pelo vírus, proteger os vulneráveis, ajudar as empresas de todos os tamanhos (prioritário seria MEI, pequenas e médias empresas) e ainda suportar a queda de arrecadação de Estados, Municípios e a própria União.
Com isso, como temos dito que esquecemos as reformas que iam na direção inversa e que precisam serem retomadas tão logo haja clima, o endividamento que vai se aproximar de 90% do PIB, o desemprego que vinha caindo e a atração de capitais para investimentos (local e externo). Esses só virão quando houver razoável certeza de que as reformas, privatizações, redução do tamanho do Estado (vai crescer), marcos regulatórios; serão retomados. Mas para isso será preciso entendimento sólido entre os três poderes, e até isso está complicado.