O mercado de açúcar em NY fechou a semana basicamente inalterado nos primeiros vencimentos correspondentes à safra 2015/2016, mas com alta vigorosa para os vencimentos além da curva, iniciando em maio de 2016 com elevações de até 7 dólares por tonelada. Com a valorização do real, NY não subiu na mesma proporção e os valores em reais por tonelada declinaram. De qualquer maneira, o valor do fechamento de NY para maio/2016, convertido em reais via hedge para o mesmo vencimento e trazendo para valor presente descontado está 14% acima do valor de maio/2015. Para empresas capitalizadas e sem endividamento em dólares é uma excelente fixação de preço. Para aproveitar uma eventual alta pode-se, por exemplo, fazer uma operação com opções. Bom ficar de olho nas oportunidades.
Mudando um pouco o assunto, é recomendável não fazer previsões levando em consideração apenas situações pontuais. Não é porque as exportações de açúcar estão mais fracas nos últimos doze meses se comparadas com o mesmo período do ano passado que, simplesmente, podemos afirmar peremptoriamente que assim será para todo sempre. Com um pouco mais de amplitude na análise dos dados, podemos dizer que o crescimento das exportações de açúcar no Brasil nos últimos dez anos foi de 3.6% ao ano. Nesse ritmo, dobra-se o volume a cada 20 anos.
No mercado de combustíveis, onde o etanol se inclui, o crescimento é mais robusto. No período de dez anos, o consumo de combustível no país cresceu em média 7.6% anualmente. Ou seja, num ritmo que o faz dobrar em pouco mais de nove anos e meio. E existe aí uma enorme chance de o Brasil crescer no consumo de etanol. Hoje, a participação do etanol seja diretamente na bomba (hidratado) ou na gasolina (misturada com o anidro na proporção de 25%) soma 42%. No final de 2009, essa participação chegou a 54.5% e só não se manteve pelos fatores conhecidos por todos do setor: a falta de transparência do governo federal na formação de preços dos combustíveis que não apenas tirou de combate o etanol por falta de competitividade em relação à gasolina com preço artificialmente baixo, mas também colocou para correr os investidores que não viam fechar a conta de possíveis novos investimentos no setor.
Um argumento falacioso que se ouve nas rodas de discussão é que se tivéssemos expandido naquele ritmo de meados da década passada, certamente hoje estaríamos moendo mais de 720 milhões de toneladas no Centro-Sul e se os preços estão ruins agora com uma perspectiva de safra de 580 milhões, imagine como estariam com essa quantidade de cana. Não é bem assim. É geralmente muito alto o preço que se paga pelo artificialismo, especialmente em commodities. O setor está pagando essa conta e vai continuar a pagá-la por muito tempo ainda.
Se tivéssemos no Brasil um mercado livre de combustíveis que acompanhasse as oscilações do preço da gasolina no mercado internacional, não tenho dúvida nenhuma que instrumentos de proteção referenciados no preço internacional da gasolina convertidos em reais via contratos a termo com liquidação financeira, vulgo NDF, estariam à disposição dos participantes do mercado. O que ocorre hoje é uma roleta russa. Mais de 50% da cana é destinada à produção de um produto que não possibilita às usinas uma gestão de risco adequada para a mitigação de risco. A consequência disso é um aumento excessivo no risco com seus efeitos no balanço patrimonial das empresas.
Outro ponto discutível, dois parágrafos acima, é se os preços estão ruins agora. Mostramos aqui por diversas vezes que embora o mercado de açúcar tenha despencado nos últimos três anos de 24 para 12 centavos de dólar por libra-peso, o fato é que a curva de preços em reais teve uma oscilação bem menor. No mesmo período tivemos um pico de aproximadamente R$ 1120 por tonelada e o mínimo de R$ 725 por tonelada.
Ainda se nos concentrarmos na curva de preços dos produtos da cana, açúcar para a exportação e mercado interno, e o etanol anidro e hidratado, veremos que os valores de mercado negociados estiveram boa parte do tempo acima da curva de custo de produção, não considerados aí o custo financeiro nem eventual receita com cogeração.
Qual o final da história? Meu ponto principal remete para onde vamos daqui? Qual o futuro do mercado? Sendo absolutamente conservador e assumindo que o consumo de açúcar mundial vai crescer apenas 1.76% ao ano, muito embora várias associações e instituições colocam esse crescimento acima de 2% anuais, e assumindo que o mercado interno de etanol no Brasil ficará limitado a apenas 35% da frota consumindo esse tipo de combustível, bem como que o país continuará com sua atual fatia de mercado, em 2020 nós teremos que moer 800 milhões de toneladas de cana. Uma expansão de 180 milhões de toneladas em 5 anos. Mesmo com a entrada da Europa em 2017 a situação está longe de ser confortável.
Os mercados futuro e físico do açúcar assistem, com uma ponta de tristeza, ao contínuo enxugamento do número de participantes ativos. Se olharmos a quantidade de usinas, de tradings e de corretoras atuantes há dez ou vinte anos e compararmos com o que vemos hoje, é decepcionante. Recuperação judicial, fechamento, fusões e aquisições, margens estreitas, alto risco, regulamentação são – em cada uma de suas áreas de atuação - os principais males que dizimaram muitos dos aclamados protagonistas do passado. Esta semana, seguindo a toada de contração desse mercado, a Jefferies anunciou sua saída das commodities vendendo o livro da corretora para a Societe Generale (PARIS:SOGN). Apenas pelo cabedal dos profissionais que se retiram é suficiente para lamentar a perda de mais um participante.
Uma boa semana a todos
Arnaldo Luiz Corrêa