Após conviver praticamente três dias úteis com volatilidade extremada, o mercado global retomou o “status quo” antecedente ao considerar que a questão americana é política e de efeitos limitados e que a despeito de que a retórica possa causar alguns sinais tênues, na prática não há convicção de que venha a se tornar realidade as más perspectivas prognosticadas.
Se a questão é política será solucionada politicamente, pois a radicalização seria negativa para os republicanos que poderiam sofrer desgaste pela irresponsabilidade de criar impasses insuperáveis num momento em que a economia americana começa a dar sinais de recuperação.
Está em prática pelos republicanos a velha e contumaz tática do “apertar sem espanar”, ou seja, “joga para torcida”, mas seria incapaz de jogar contra o próprio país.
E este comportamento de conviver com a questão à margem, dando-lhe importância relativa e limitada e não prevendo ousadia maior dos republicanos a ponto de inviabilizar totalmente a governabilidade do país por carência orçamentária ou mesmo por ter atingido o teto de endividamento, teve início no próprio mercado americano que retomou seu ritmo sem se deixar abalar mais com os burburinhos em torno da questão ou até alguma paralisação irrelevante que faz parte do jogo político.
Desta forma, ao longo do dia, a relação do dólar foi se normalizando frente às principais moedas, e no nosso mercado esfriou um descabido movimento de apreciação do real que insinuava a possibilidade de romper o piso baixo de R$ 2,20 após ter aberto os negócios sendo cotado a R$ 2,22.
Lentamente, porém de forma simétrica com os fundamentos que influenciam a formação do preço da moeda americana no nosso mercado, o preço foi buscando o seu ponto de equilíbrio em R$ 2,23, como preconizava nosso comentário de ontem.
A flutuação entre R$ 2,20 e R$ 2,25, com um viés de alta até R$ 2,30 ao final do ano é o que sugere o momento.
Os suportes que devem manter a moeda neste entorno são os reflexos negativos da situação das contas externas do país que coloca o viés de alta e limita o piso baixo e a perspectiva de que os fluxos de capitais especulativos para o país ganhem volume como consequência da postergação pelo FED do término do programa de incentivo monetário, que tem um fator neutralizador da alta.
Por outro lado, a ação do BC com seu programa de oferta mínima de liquidez neutraliza o excesso que poderia ocorrer na alta decorrente da especulação.
Doravante, o que deve ser atentamente observado é o comportamento do fluxo cambial liquido para o país, divulgado toda quarta-feira pelo BC.
Se tivermos confirmado o fluxo cambial líquido positivo em crescimento para o país, estes parâmetros de preços não têm razões para serem alterados, contudo, se a perspectiva não se confirmar pode haver pressão adicional de alta na formação do preço da moeda americana.
Por enquanto trabalhamos com a visão benigna de que o país conseguirá o ingresso de um bom volume de capitais especulativos, razão pela qual entendemos que o Copom deva elevar a Selic em 0,75% na próxima reunião, visando conter a inflação e ao mesmo tempo atrair o mais rápido possível estes recursos externos.
Continuamos, cada vez mais, convictos de que o governo deveria rever o prazo dos empréstimos externos para 90 dias com IOF de 6,0%, visando fluxo adicional de recursos externos para atender a necessidade presente.
A balança comercial apontou saldo positivo de US$ 2,1 Bi em setembro e o saldo anual negativo foi reduzido a US$ 1,6 Bi, nos parecendo que não há perspectivas efetivas de que possa encerrar o ano positivo em US$ 2,0 Bi, como projetado pelo BC.