Com aumento estimado em 4,7% para a área de soja em 2022/23, na comparação com 2021/22, a CONAB projeta uma safra recorde, com 152,7 milhões de toneladas, cuja colheita já começou em algumas regiões, como em Mato Grosso.
Esses dados contemplam a expectativa de um aumento de 82,5% na produtividade média da região Sul após a queda na produtividade em 2021/22, influenciada pelo La Niña, que vem afetando as lavouras este ano novamente, principalmente no Rio Grande do Sul.
É quase certo que haja ajustes na previsão de produção do estado, mas como há relatos de boas condições em outras regiões, é possível que tais regiões superem as expectativas iniciais. Em resumo, devemos ter uma safra muito positiva, no cenário geral. E a chegada dessa soja ao mercado é um ponto fundamental a ser acompanhado nas próximas semanas, assim como a evolução do câmbio e o apetite chinês.
Como o hemisfério norte já plantou e colheu sua safra 2022/23, a atenção atual é para o desenvolvimento e colheita da safra no hemisfério Sul, com destaque para a situação no sul do Brasil e na Argentina. Como dito, o impacto do La Niña na produção do Sul do Brasil não deve tirar o patamar de safra recorde para os nossos números.
Embora bem menor que a brasileira, a safra da Argentina segue como foco das atenções pela sua relevância no mercado internacional, principalmente entre os derivados da soja.
A situação de chuvas tem sido muito ruim no país durante os últimos meses. Na última semana, houve uma melhoria das chuvas, mas há dúvidas do peso que isso pode ter em uma recuperação parcial da produtividade. Como a safra no país foi plantada tardiamente, é possível que parte do impacto da seca possa ser revertido, mas em geral os números do USDA devem ser ajustados negativamente.
O peso da safra argentina de soja e milho
Após a contextualização do mercado, traremos alguns dados sobre a relevância da Argentina no mercado de soja e milho. Usaremos a última safra como referência, uma vez que os dados da 2022/23 estão em consolidação.
No ciclo 2021/22 o país produziu 12,3% da soja global, foram 43,9 das 358,1 milhões de toneladas produzidas. Praticamente toda a produção argentina é destinada ao esmagamento, para produção de óleo e farelo.
Na temporada, foram esmagadas 38,8 milhões de toneladas de soja, com produção de 30,3 milhões de toneladas de farelo e 7,7 milhões de toneladas de óleo de soja. Do farelo produzido, a Argentina exportou 87,8% (26,6 milhões de toneladas) e do óleo, 63,6% foi enviado ao exterior (4,9 milhões de toneladas). Da produção de soja argentina, apenas 12,5% foi exportada como grão.
Em relação ao total comercializado em 2021/22, a Argentina participou com 40,1% do óleo de soja, 39,0% do farelo, 17,4% do milho e 1,9% da soja grão comercializada.
Embora o país produza “apenas” 12,3% da soja e tenha participação semelhante para o farelo e óleo de soja, é muito relevante no comércio global de derivados, assim como no comércio de milho (17,4%), onde sua safra representa 4,1% da produção mundial.
A figura 1 mostra a participação das exportações argentinas no comércio global de milho, soja e derivados.
Fonte: USDA / Elaboração: HN AGRO
Apesar de produção global 3,4x maior, a parcela comercializada entre os países é menor que a da soja. Enquanto no ciclo 2021/22, 43,0% das 358,1 milhões de toneladas de soja produzidas no mundo foram exportadas, para o milho, o comércio internacional representou 16,8% da produção (1,21 bilhão de toneladas).
Expectativas
A disponibilidade de soja vai aumentar no Brasil nas próximas semanas, com a evolução da colheita, que atingiu 5,2% em 28/1, mas está atrasada frente aos 11,6% do mesmo período em 2022.
As atenções estão voltadas à evolução da situação na Argentina, que passou por períodos críticos nos últimos meses e recebeu chuvas na última semana. A Bolsa de Cereales registrou melhoria nas condições das lavouras no último relatório semanal, mas a situação das lavouras ainda está pior que em 2022.
Como o plantio ocorreu tardiamente, as chuvas ainda conseguiram ajudar e isso pode amenizar as perdas esperadas. De toda forma, a expectativa é que os números do USDA sejam revistos para baixo, uma vez que o órgão vinha sendo cauteloso nos ajustes, frente a outras estimativas.
A demanda chinesa será outro ponto importante na precificação dos grãos. É o nosso maior cliente de soja e começou forte nas compras de milho.
As notícias recentes são de que a movimentação de pessoas e a demanda em geral foram boas no período do Ano Novo lunar, que terminou nesse final de semana, o que traz expectativas interessantes quanto ao cenário de compras do país.
E obviamente o mercado está sempre de olho na situação do câmbio, com o primeiro Copom de 2023 esta semana.