O real parece ser a “bola da vez” das moedas emergentes e sofre depreciação muito mais intensa frente à moeda americana, atingindo parâmetro até recentemente não sancionado como projeção por inúmeros analistas, mas não devemos negar que há alguns que o colocam em níveis mais elevados ainda até o final do ano.
Entendendo que os swaps cambiais são solução para todos os males, uma boa parcela do mercado reivindica a presença do BC atuando em defesa do preço do real, mas é preciso reconhecer que o instrumento financeiro se presta a “hedge”, proteção de preço, e este não é aparentemente a causa presente da pressão que deprecia o preço da moeda nacional.
O BC reluta, pois deve ter o entendimento, com o qual concordamos, de que o quadro atual não é contornável com a intensificação de oferta de swaps cambiais, instrumento financeiro que tem posição “em ser” no mercado em torno de US$ 95,0 Bi colocados pela autoridade monetária, e que continua oferecendo 6.000 contratos para rolagem da posição vincenda em 1º de outubro próximo e mais 4.000 contratos novos, diariamente, o que corresponde a uma suplementação adicional liquida em torno de US$ 2,0 Bi.
Inquestionavelmente, mais do que as demais moedas emergentes, o real vinha sendo conduzido pelo BC através forte intervenção em patamar bastante distante de sua realidade “vis a vis” o cenário macroeconômico brasileiro e quase irrelevante fluxo cambial positivo, absolutamente insuficiente para cobrir as posições de fluxos negativos migradas de 2012 e 2013, que vem sendo suportadas pelos bancos com suas posições vendidas atualmente em torno de US$ 16,5 Bi.
O Brasil foi bastante privilegiado pela sinalização dada pelo FED americano ao inicio do ano de que o término do QE3 seria gradual e que as mudanças na política monetária seriam postergadas para um prazo maior, o que permitiu que os investidores especuladores forjassem operações de “carry trade” e ocorresse então expressivo volume de ingressos de recursos externos direcionados para o mercado de ações e de juros.
Esta ocorrência pontual evitou que houvesse pressão forte de apreciação do preço da moeda americana no 1º semestre e o BC dando continuidade ao programa de venda de swaps cambiais iniciada em agosto de 2013 conseguisse ter um poder de monitoramento sobre o comportamento do mercado induzindo o real a apreciação fora do ponto e com isto fazendo-o coadjuvante ao juro SELIC na contenção das pressões inflacionárias bastante aquecidas no país.
Agora, o cenário sofre mudança. Melhora para os Estados Unidos, piora para a Europa e a China demonstra certa fragilização, o que impacta fortemente no nosso mercado exportador quase reduzido a “commodities” e em papéis de peso na BOVESPA.
O FED mantém “stand by” a possibilidade de vir a alterar a política monetária e já estabeleceu prazo para zerar os últimos US$ 15,0 Bi do QE3, e sua economia evidencia dados que sugerem um país em recuperação.
Com isto, o dólar se fortalece e já motiva o desmonte das operações de “carry trade” que poderão ter seus custos onerados provocando a realização dos lucros pelos especuladores nos mercados emergentes, com destaque para o Brasil.
Além disto, há muitas incertezas presentes no contexto brasileiro que recomendam estes capitais “ariscos e espertos” a se retirarem do país, pois é da natureza das aplicações com recursos forjados em operações de “carry trade” ficarem expostos a riscos, sendo a meta constante o ganho de oportunidade.
Não se pode descartar que existam posições no mercado futuro de caráter puramente especulativo e que agora, tendo como pano de fundo as pesquisas eleitorais, estimulam a valorização da moeda americana, o que acaba rompendo as barreiras do BC e a conduzindo por meios incorretos ao seu preço efetivo e compatível com a realidade do país.
A este cenário no mercado futuro se agrega demanda efetiva no mercado de câmbio à vista com a saída dos investidores, em especial os especuladores, que até retardaram o inicio deste movimento que entendíamos devesse ter tido inicio em julho passado.
O fator eleitoral é puramente especulativo quando se refere a câmbio, pois como temos ressaltado não há forma de reformular-se a dinâmica da política cambial atual sem que antes o país reconquiste credibilidade e atratividade perante investidores estrangeiros, pois será necessária intensa melhora de fluxos cambiais para o país para que se promova gradualmente o desmonte da soberba posição de swaps cambiais que ancora a moeda nacional dada a sua perda de credibilidade, além de cobrir as posições vendidas dos bancos, que resultam da geração de liquidez, dada a carência de fluxos suficientes e a ausência do BC realizando leilões de vendas de divisas ao mercado.
O realinhamento da política cambial depende da somatória de acertos que for praticado pelo próximo governo, independente de quem quer que seja eleito, visando colocar o país em ritmo de crescimento econômico, retomando credibilidade e atratividade por parte dos investidores estrangeiros para que invistam no país e com isto gerem fluxos positivos. Portanto, a política cambial somente deve ser visualizada como passível de mudanças a partir de 2016, se tudo for feito de forma correta, o resto é puro anseio distante da realidade presente.
Temos destacado de forma contumaz e já a algum tempo que o mercado de câmbio deveria passar por pressão de apreciação da moeda americana e que os instrumentos financeiros “swaps cambiais” iriam perder força de intervenção no monitoramento da taxa cambial.
E mais, que o preço da moeda americana tinha tendência a piora no curto/curtíssimo prazo , para depois a partir das novas diretrizes para o pais e havendo acertos recuperar-se no médio/longo prazo, mas que, de forma alguma, não há trajetória do “status quo” que prevalecia para um quadro de nova gestão diretamente, sem passar pela “depuração” que ajustaria o seu preço à realidade.
Há pouco a ser feito por parte da autoridade monetária. Defrontar-se com este quadro seria desgastante com baixa possibilidade de sucesso com o uso dos instrumentos financeiros swaps cambiais ou mesmo “queimando” divisas à vista sacando-as das reservas cambiais brasileiras, num enfrentamento. Se utilizar as reservas deverá ser para geração de liquidez e não para enfrentamento querendo alterar a tendência.
Portanto, neste momento, muito a observar, pouco a ser feito, embora possa haver reflexos na inflação.