Market movers
A principal referência da agenda econômica desta terça é o dado de inflação. Embora ainda acima do teto da meta no acumulado de 12 meses, em 6,51%, o IPCA-15 mostrou ligeira desaceleração para junho, o que não deixa de ser um alento (em terra de cego...).
O problema é que, todos sabemos, a principal referência para os mercados por ora é outra, um tanto desapegada da economia real. Com pesquisa eleitoral na agenda, não adianta... não tem inflação, temporada de resultados ou mercado externo que dêem Ibope.
Zé com Zé superavitário
Além da expectativa pela pesquisa eleitoral, as ações da Eletrobras têm como pano de fundo um empréstimo de R$ 6,5 bilhões conseguido junto à Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil.
O que estes três têm em comum?
Segundo apurou a Agência Estado, 16 bancos privados (todos consultados) não manifestaram interesse em participar da operação. Nada que impedisse o empréstimo, obviamente, ainda mais com garantias fornecidas pela União...
Tomando dívida para pagar dividendo...
... e pagando dividendo para fazer superávit primário
Matéria de ontem do Valor Econômico chama atenção para o fato de os dividendos das estatais já representarem 25% da meta de superávit primário do governo.
A grande questão é que não há lastro nos resultados.
Por exemplo, a Eletrobras pagou 16% de retorno ao acionista no ano passado sem gerar lucro. O BNDES vem reduzindo as suas reservas estatutárias para conseguir repassar um volume cada vez maior de recursos para o Tesouro.
A Petrobras, que teve no primeiro trimestre deste ano um lucro 30% menor que em 2013, já repassou para o governo nos cinco primeiros meses deste ano mais do que tudo o que repassou no ano passado.
Em abril, a estatal petrolífera aprovou o pagamento de R$ 9,3 bilhões em juros sobre capital próprio aos acionistas um dia após aparecer no Diário Oficial a aprovação de proposta para emitir debêntures, mesmo vindo de rebaixamento de rating e tendo captado no ano até então US$ 13 bilhões em dívida cara no mercado internacional.
Seria uma prática sustentável para as empresas, e, consequentemente, para as contas públicas?
Qualquer relação com os R$ 6,5 bi emprestados à Eletrobras pode não ser mera coincidência.
Fluxo vs. Fundamentos
Independentemente do rali de estatais, é a ação da siderúrgica privada CSN que tem - de longe - a melhor performance recente do Ibovespa.
Suas ações sobem 26% em um mês - nesse intervalo, em segundo lugar vem a Cemig com 17% (mas dessa trato especificamente no PRO).
O que a CSN fez para merecer tamanha sorte?
Programas de recompra de ações. Cinco consecutivos, capazes de catalisar short squeeze (recomposição súbita de posições vendidas). Recompras trazem de fato uma sinalização interessante para a ação:
(i) referência de valor a partir de insider para as ações (quem tem as melhores informações sobre a empresa - ela mesma - está comprando);
(ii) indica que a estrutura de capital está relativamente confortável e/ou expectativa de boa geração de caixa à frente, ao menos para suportar as compras de ações;
(iii) mostra alinhamento aos interesses dos acionistas (ação em Tesouraria não recebe dividendos, sobrando mais fatias do bolo para os demais; e ação em Tesouraria pode ser cancelada, aumentado o lucro por ação).
Mas, perceba, são gatilhos de percepção e fluxo, sem alteração nos fundamentos da companhia. No chão da fábrica, tudo continua rigorosamente do mesmo jeito por lá.
Perdemos a pernada?
CSN não é ou foi uma oportunidade perdida?
Sim. Nas cotações atuais, ainda que o fluxo comprador relacionado ao programa de recompra vá além, fato é que as ações parecem um bocado esticadas - negociando a mais de 30x lucros dos últimos doze meses, inserida em um contexto complicado de siderurgia de aços planos, com sinais de excesso de oferta, desaceleração do consumo e forte queda na produção de veículos (grande mercado-alvo).
Podemos chamar a estratégia da CSN de inteligente, mas praticamente impossível de ser antecipada.
Com boa parte do mercado apostando contra as ações, as recompras pegaram o mercado de calças curtas, potencializando o movimento altista (corrida para cobertura de posições vendidas). Para dificultar ainda mais, anunciou cinco programas de recompra consecutivos, sem grandes efeitos práticos nos primeiros.
Neste ponto, a questão já é outra: o que acontecerá com a ação quando o fluxo das recompras se esgotar?
Para visualizar o artigo completo visite o site da Empiricus Research.