Recentemente, me deparei com um texto muito legal de um dos meus investidores prediletos, Vitaliy Katsenelson. O artigo “Não é apenas culpa da Amazon (NASDAQ:AMZN)” busca uma explicação – além do argumento tradicional de culpar Jeff Bezos – do por que o setor de varejo nos Estados Unidos está performando tão mal nos últimos anos.
Há algum tempo, as empresas do setor de varejo dos Estados Unidos – com exceção de alguns grandes players e outros nichados – estão enfrentando vendas estagnadas e margens decrescentes, o que é um péssimo sinal para seus acionistas.
A natureza humana dos investidores faz com que muitos busquem a resposta mais simples e óbvia possível para essa questão: culpar a Amazon, que vem ganhando cada vez mais participação de mercado (market share) em todos os países que atua.
No entanto, por mais que a companhia de Jeff Bezos realmente seja uma das maiores culpadas por isso, ela não é a única razão para tal.
Nos últimos anos, nossas necessidades e preferências de consumo mudaram drasticamente. Se pararmos para pensar, há dez anos, gastávamos muito menos com celulares – aparelho, capinhas, cabos, películas, aplicativos e etc – do que gastamos hoje.
A ascensão dos smartphones resultou em maiores gastos com nossa conta telefônica – que mais que dobrou na última década – e com serviços de wifi, que também aumentaram significativamente.
Além desses fatos, durante essa década, o preço dos serviços médicos e educacionais aumentaram muito mais do que a inflação. E o pior, sem que inovações ou melhorias na indústria fossem acompanhadas.
Existem também fatores qualitativos que explicam a má performance do setor de varejo, como a característica dessa nova geração, que vem cada vez mais assumindo o poder de compra na sociedade – pois estão chegando cada vez mais aos cargos mais altos – de optar por experiências em relação à bens materiais,. Isso faz com que muitos jovens prefiram gastar com viagens ou festas do que com roupas e sapatos, por exemplo.
Existem diversas explicações para isso, no entanto, uma apontada por Katsenelson que me chamou a atenção foi o fato dos heróis da sociedade atual, os bilionários da internet, não ostentarem peças de roupas caras. E, portanto, as pessoas não estariam mais enxergando tanto valor nesse hábito, pois não está mais sendo associado com o sucesso - pelo menos, não da forma como era antigamente.
A mudança do dress code nas empresas também ajuda com essa percepção, já que cada vez mais vemos instituições trocando o terno e a gravata por roupas mais casuais.
Juntando todos os fatores mencionados acima com o fato da renda do consumidor norte-americano não ter mudado muito desde 2006, vemos que há um excesso de oferta de varejistas.
Com a mesma renda que tinham 15 anos atrás e com outros gastos mais importantes que surgiram ao longo desses anos para arcar, além dos velhos essenciais que ficaram mais caros, é natural que uma parcela menor da renda do consumidor irá para as varejistas tradicionais. Katsenelson chama isso de excesso de varejo, ou seja, há muito mais lojas do que deveria existir.
O consumidor dos anos 1990 e 2000 simplesmente não é igual ao consumidor atual. Os gastos atuais vão para o pagamento de dívida, serviços de saúde, educação e para as novas necessidades que a tecnologia proporcionou – como seu iPhone, Netflix (NASDAQ:NFLX), Spotify (NYSE:SPOT), Amazon Prime e tantos outros.
Como você deve saber, oferta e demanda devem, necessariamente, se encontrar para atingirmos o ponto de equilíbrio, um processo natural da economia. O que vemos quando analisamos os gráficos da cotação das ações das empresas de varejo norte-americana nada mais é do que o reflexo desse processo.