Ano novo, vida nova?
Começamos 2015 com o pé esquerdo, em uma semana de flashbacks.
Bolsa despencando, dólar subindo, Petrobras em novas páginas policiais, ameaça da Grécia sair da Zona do Euro reacendendo o alerta da crise europeia, relatório Focus apontando menos crescimento e mais inflação...
A projeção do mercado para o crescimento do PIB em 2015 já está em 0,5%. Um mês atrás, a mesma projeção era de 0,8%, quando o governo anunciou alinhamento de sua estimativa à dos agentes de mercado.
Por sua vez, a expectativa para a inflação em 12 meses atinge 6,60%, acima do teto da meta.
O que isso lhe diz?
A primeira certeza de 2015 é de juros ainda mais para cima.
Os dados do IPCA de dezembro, que saem esta sexta-feira, definem se o Copom mantém o ritmo de aumento da Selic em 50 pontos em sua reunião do próximo dia 21 (consenso do mercado) ou, no caso de IPCA acima das expectativas, parte para uma medida mais agressiva, com aumento de 75 pontos na taxa básica de juros - tudo isso depois de prometer parcimônia, claro…
A primeira certeza de 2015 é um reforço à recomendação de postura conservadora nas alocações e da atratividade do posicionamento em títulos pós-fixados atrelados à inflação (NTN-B) e taxa de juros (LFT).
O estagiário Nelson
Em seu primeiro dia de trabalho, Nelson Barbosa tomou um baita de um puxão de orelha.
Um dia depois de sinalizar em entrevista à Folha de S. Paulo que a regra do cálculo do salário mínimo poderia ser modificada, o novo Ministro do Planejamento teve de soltar nota pública para desmentir a informação que não agradou à presidente Dilma.
Seria essa a autonomia que será dada à nova equipe econômica?
Hoje também é o primeiro dia oficial de labuta do novo Ministro da Fazenda Joaquim Levy, que será empossado em solenidade com coletiva de imprensa.
Já está dado que não haverá anúncio de novas medidas tampouco a presença de seu antecessor Mantega, bem como dos secretários Márcio Holland e Arno Agustin.
Levy está sozinho, ou é mais uma forte indicação de que esses nomes seguirão Mantega e serão excluídos da equipe?
Das duas, as duas.
A novidade veio da Bolsa
O que há de novo neste pontapé de semana não está no contexto, mas na composição.
O Ibovespa efetuou a sua atualização quadrimestral, começando 2015 sem as ações de Rossi Residencial (RSID3), Eletropaulo (ELPL4) e Cosan Logística (RLOG3), que foram excluídas do índice. Entraram as ações de Multiplan (MULT3).
Se no momento que escrevo o Ibovespa cai 2% sem elas, imagina com elas... Rossi, Eletropaulo e Cosan Logística caem respectivamente 6,2%, 3,9% e 2,1%.
Caem porque saíram do Ibovespa?
Não dá para afirmar o quanto é pela exclusão do índice, quanto por questões próprias das empresas, ou se pelo contexto negativo para as ações de forma geral.
O que podemos afirmar é que a exclusão do índice é um evento meramente de fluxo, que em tese retira visibilidade e liquidez de negociação destas ações.
Em termos de fundamentos das empresas, não tem novidade alguma.
O cúmulo da degradação
Para provar que tudo continua na mesma, ou pior, sugiro a leitura de matéria do Valor apontando o escândalo dos patrocínios na Petrobras.
Depoimento do ex-gerente de Comunicação do Abastecimento da estatal indica prejuízos milionários da empresa com a concessão de patrocínios desmedidos, fornecidos em contratos sem licitação, muitas vezes firmados nos corredores da empresa, na completa informalidade, e sem pé nem cabeça (como o fornecido à Fórmula Indy, que usava outra tecnologia de combustível).
Sem qualquer explicação plausível, ou, porque “o presidente [Lula] quer porque quer”, o episódio da ordem de patrocínio às escolas de samba do Rio de Janeiro às vésperas do Carnaval, por exemplo, é o cúmulo da degradação de uma instituição nacional.
Segundo o ex-gerente, o objetivo era acobertar serviços não prestados pela área de comunicação cujo rombo é estimado em mais de R$ 150 milhões.
Os novos escândalos colocam a ação da Petrobras abaixo de R$ 9. Não seria uma oportunidade fantástica de comprar barato os papéis da estatal? Ouço isso desde que eram cotados a R$ 20, depois a R$ 15, depois a R$ 10...
O maior mico
O episódio acima nos leva à derradeira questão.
Qual das alternativas abaixo representa, para você, o maior mico?
a) Entregar o menor nível de crescimento econômico desde Floriano Peixoto (1894)?
b) A proeza de deteriorar todos os indicadores e setores da economia ao mesmo tempo?
7 a 1
d) A proeza de levar uma empresa com perfil de risco soberano (risco-país), que há menos de três anos colocou R$ 120 bilhões no bolso via aumento de capital, ao risco de default (calote)?
A propósito, o segundo melhor negócio do mundo ainda é investir numa companhia de petróleo mal administrada?