Chegamos à penúltima semana do ano com movimentos relevantes nas principais autoridades globais. Entre os dias 12 e 16 de dezembro tivemos as decisões de política monetária do Federal Reserve Fed, do Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês) e do Banco Central Europeu (BCE), além da divulgação da ata do Copom e do Relatório Trimestral de Inflação no Brasil. Todos os eventos têm relevância na indicação futura da condução da política monetária.
No cenário externo, destaques para o Fed e o BCE, que reduziram o ritmo de altas se comparado ao seu último movimento, mas com implicações diferentes em termos de discurso. O Fed indicou de forma clara que já se encontra próximo ao fim do ciclo de altas, ainda que as projeções mostrem que a inflação ficará consistentemente acima da meta nos próximos três anos. Por outro lado, a trajetória de crescimento prevê uma evolução amena, apesar do forte aumento da taxa de desemprego esperado. Ante a alteração no discurso do Fed, passamos a esperar somente mais duas altas de 25 pontos base na taxa de juros dos EUA, mas manutenção deste patamar elevado durante todo o ano de 2023.
Já o BCE também reduziu o ritmo de aumento de juros, mas indicou o início da redução do balanço (o famoso quantitative tightening) para o próximo ano. Ademais, o tom da conferência de imprensa de Christine Lagarde foi provavelmente o mais intenso registrado desde que se iniciou o ciclo de aperto monetário. Consequentemente, notou-se forte valorização do euro. No entanto, o movimento foi rapidamente revertido devido ao aumento do spread entre os títulos soberanos da Alemanha e da Itália. Este indicador é tradicionalmente entendido como uma medida de risco de fragmentação da Zona do Euro e, quando aumenta de forma abrupta, tende a ser associado com uma alteração da postura mais agressiva do BCE. Ou seja, no ambiente desafiador gerado por enormes balanços de autoridades monetárias, o mercado já antevê limitações à capacidade da autoridade monetária da zona do euro em implementar a estratégia de combate à inflação apropriada para o momento.
No Brasil, a ata do Copom e o Relatório de Inflação (apresentados respectivamente na terça e na quinta-feiras) reforçam nossa perspectiva anterior de inflexão do Banco Central. Por um lado, a trajetória da inflação realizada e a perspectiva para a atividade econômica ante o aperto monetário implementado desde o começo de 2021 levariam a crer que a inflação ficaria dentro do intervalo de tolerância em torno da meta do Banco Central no horizonte relevante da autoridade monetária.
Porém, como já comentado anteriormente, a alteração das perspectivas para a política fiscal eleva de sobremaneira os riscos para a inflação. Espera-se o impacto de aumento permanente dos gastos através de canais como a demanda agregada, o câmbio, preço de ativos e expectativas de inflação. Em conjunto, todos estes elementos sugerem que o Banco Central terá de atuar de forma mais cautelosa. Logo, reduz-se de forma paulatina a perspectiva de cortes da taxa Selic no ano que vem, impactando também as perspectivas de crescimento para 2024 em diante.
Um fator que pode impactar diretamente a perspectiva brasileira é a reabertura em curso na China. A redução nas restrições à Covid-19 junto à suspensão da divulgação de dados de novos casos sugere fortemente que o campo político está disposto a incorrer em custos mais elevados em termos de saúde pública do que em qualquer momento dos últimos três anos para retomar o crescimento da economia. O impacto deverá ser relevante para commodities, o que sugere também desdobramentos para nossa inflação.
No campo político, as novidades são de mais difícil interpretação. A PEC de Transição teve sua votação adiada para a última semana do Legislativo antes do recesso e aguarda o desfecho do julgamento das emendas do relator (RP9) no STF. O equilíbrio desejado por todos os atores políticos aponta na direção de aprovação da PEC, mas tem de se reconhecer que o calendário começa a ficar escasso e a decisão do STF pode reduzir ainda mais a disposição da Câmara em aumentar de forma substancial o espaço orçamentário do novo governo.
Vale mencionar aqui rapidamente as alterações que estão em discussão para a Lei das Estatais. Ainda que uma decisão definitiva fique para ser votada no Senado em 2023, o movimento desta semana mostra claramente que o alinhamento entre Congresso e Executivo deve ser negativo para o mercado ao reduzir a amplitude das reformas implementadas desde 2016.
Com a redução do fluxo de notícias do final do ano, ficaremos atentos no Brasil aos desenvolvimentos da PEC de Transição. Os movimentos neste campo ainda prometem alguma volatilidade nos mercados locais durante a próxima semana.