Os desafios do petróleo em 2025: Análise integrada de preço, política e projeções

Publicado 02.06.2025, 16:59

Os preços do petróleo Brent vêm operando em patamares historicamente baixos em 2025, refletindo um equilíbrio frágil entre uma oferta abundante e uma demanda ainda moderada. A desaceleração da economia global — especialmente nos países da OCDE e na China — somada ao aumento da produção fora da OPEP, com destaque para os Estados Unidos, contribuiu para manter os preços pressionados ao longo do primeiro semestre.Em resposta, a OPEP+, liderada pela Arábia Saudita, manteve cortes voluntários significativos na produção, buscando sustentar o preço do barril. Apesar dos esforços, os efeitos têm sido limitados até o momento. No entanto, há sinais de uma possível retomada gradual nos preços, à medida que os estoques globais diminuem e a sazonalidade do verão no hemisfério norte começa a impactar a demanda por combustíveis.

Situação Fiscal da Arábia Saudita em 2025
 
O orçamento aprovado para 2025 pela Arábia Saudita prevê um déficit fiscal de cerca de 101 bilhões de riais (aproximadamente US$26,9 bilhões), equivalente a 2,3% do PIB. Essa projeção já considerava receitas petrolíferas menores (o governo esperava um preço em torno de US$75/barril) devido aos cortes de produção. Contudo, a realização de despesas mais elevadas pode fazer o déficit ultrapassar a faixa de 3% a 4% do PIB. No primeiro trimestre de 2025, o país registrou um déficit orçamentário de US$15,6 bilhões (com receitas de US$70,3 bilhões e despesas de US$85,9 bilhões), reflexo de uma queda de aproximadamente 18% nas receitas com petróleo (US$39,9 bilhões), provocada pela continuidade dos cortes de produção da OPEP+.
  • O governo mantém elevados gastos em projetos de infraestrutura associados à “Visão 2030” e em megaeventos, com o objetivo de diversificar a economia. Apesar dos déficits, o ministro das Finanças afirmou que tais projetos continuarão sendo executados para sustentar o crescimento. Ainda assim, há sinais de contenção parcial: analistas apontam que o orçamento deverá “frear os gastos” já no quarto trimestre de 2024, e o governo abriu uma linha de crédito de US$2,5 bilhões para cobrir parte do déficit de 2025.
  • Em resumo, a Arábia Saudita segue com um déficit orçamentário persistente em 2025 (estimado entre 2,3% e 4% do PIB), buscando ao mesmo tempo implementar ajustes graduais — como a redução de gastos ou o adiamento de projetos — para equilibrar as contas públicas no médio prazo. O ajuste fiscal efetivo, no entanto, ainda é limitado, já que os investimentos públicos continuam elevados.

Custo de Produção de Petróleo e Preço de Equilíbrio Fiscal

A Arábia Saudita possui um dos menores custos de produção de petróleo do mundo. Dados oficiais da Aramco (TADAWUL:2222) indicam que o custo médio gira em torno de US$3,5 por barril (média de 2024, incluindo despesas com exploração). Esse custo extremamente baixo garante margens elevadas sobre os preços de mercado atuais (~US$65/barril).

Contudo, o chamadopreço de equilíbrio fiscal (break-even) considera o valor necessário do petróleo para que o governo consiga cobrir todas as suas despesas orçamentárias. Segundo o FMI, esse valor está atualmente em torno deUS$90 por barrilpara 2025.

  • Estimativas de break-even: Análises de mercado projetam valores entre US$90 e US$113 por barril. A Bloomberg Economics, por exemplo, estima que o governo saudita necessita de cerca de US$96/b para equilibrar o orçamento público. Quando se incluem os gastos ambiciosos do Fundo Soberano (PIF), esse patamar sobe para US$113/b, o mais alto desde 2016, refletindo o crescimento das despesas estatais.
  • Conclusão: Embora o custo direto de extração seja irrisório (~US$3–5/b), obreak-even fiscal saudita gira hoje entreUS$90 e US$113/barril. Com o Brent cotado em torno deUS$65 em junho de 2025, a arrecadação com petróleo fica aquém do necessário para equilibrar as contas do Estado.

Política de Produção da OPEP+ (Junho de 2025)

Em 2025, a OPEP+ optou por aumentar gradualmente a produção, em vez de mantê-la restrita. Nas reuniões mais recentes, o cartel decidiu seguir com os aumentos pactuados: para junho de 2025, confirmou-se uma elevação de 411 mil barris por dia (bpd) em relação a maio, mesma magnitude do aumento aprovado para julho.

Com isso, a OPEP+ já acumula cerca de+960 mil bpdde acréscimo desde abril — um movimento de retomada cautelosa da oferta, após os cortes aplicados nos trimestres anteriores.

  • Decisão recente: No encontro de 31 de maio e 1º de junho, os principais membros (Arábia Saudita, Rússia e aliados) reafirmaram o aumento para julho e discutiram outras medidas de equilíbrio de mercado. A justificativa oficial foi a redução dos estoques globais e a melhora nos fundamentos da economia mundial.
  • Impacto: Essa postura de aumento de produção — motivada também pela necessidade de punir países que vinham produzindo acima de suas cotas — revela quenão há intenção de cortar a oferta no curto prazo. A decisão, embora técnica, acaba pressionando os preços para baixo, o que em abril e maio levou o Brent a mínimas de quatro anos, antes da recente recuperação observada em junho.

Disparada do Preço do Petróleo em 02/06/2025

No dia2 de junho de 2025, os preços do petróleo registraram alta expressiva, com ganhos de3% a 4%em apenas uma sessão. Três fatores explicam essa escalada:

  • Tensões geopolíticas (Rússia-Ucrânia): A Ucrânia intensificou ataques com drones a alvos estratégicos na Rússia, elevando o risco de retaliações e sanções ocidentais ao petróleo russo. Senadores norte-americanos propuseram novas tarifas, o que alimentou o temor de uma queda abrupta na oferta global.

     

    Demanda sazonal nos EUA: O início do verão no hemisfério norte e a proximidade da temporada de furacões elevaram o consumo de combustíveis nos Estados Unidos. Estoques baixos de gasolina e um salto no consumo implícito (+1 milhão de bpd em uma semana) ajudaram a impulsionar os preços do petróleo bruto.

  • Reação do mercado: Apesar da decisão da OPEP+ de manter os aumentos graduais, os investidores reagiram com foco naameaça à oferta russa e nademanda robusta nos EUA, levando o Brent aUS$65–66/b e o WTI aUS$63–64/b no fechamento do dia.
 

Análise Gráfica – Brent: Regiões-Chave e Comportamento Recente

No gráfico diário do Brent, alguns movimentos chamam a atenção e ajudam a compor a narrativa recente do mercado:

 
 

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