Descambou
Hoje conseguimos um feito quase milagroso, do Ibovespa cair somente 0,5% no momento que comecei a escrever, com quase todas as suas ações caindo mais do que isso. É o peso relativo de algumas altas no vazio, como Petrobras.
Ops, não demorou muito e descambou. A Petro. E o Ibovespa...
O duelo das blue chips
A Petro divulga os seus resultados hoje à noite. Todo mundo espera um resultado operacional ruim, e por isso as apostas (ainda que no escuro) de que algo possa surpreender. Não nos resultados, obviamente, mas quem sabe um reajuste no preço dos combustíveis, ou um enxugamento no plano de investimentos?
No duelo das blue chips, na ponta de baixo do índice, a principal âncora do mercado acionário brasileiro é a Vale, como derivada imediata de China.
As restrições ao crédito imobiliário trazem o segundo dia seguido de alerta por lá, depois que a Academia Chinesa de Ciências Sociais estima que alavancagem do país já superou 215% do PIB. Mais um dado alarmante da incógnita que virou risco.
Too big will fail
Voltando ao “duelo” das blue chips, ele chama atenção para outras questões, como o “too big will fail”, ou “os grandes demais irão falhar”.
Não falo do “too big to fail” que ficou famoso com o resgate dos grandes bancos na crise do subprime.
Corporações grandes demais têm, em geral, decisões centralizadas, para vários núcleos descentralizados. Riscos escondidos muito grandes. E ai mora o perigo: muita complexidade operacional e um monte de poeira embaixo do tapete.
Esta é uma outra história...
Analisando os resultados da Vale, que saem amanhã, o prognóstico de forte crescimento para as principais métricas operacionais se dá pela exposição positiva ao dólar e aos preços do minério de ferro, mas também pelo sério enxugamento de custos e despesas de dois anos para cá. Após um agressivo plano de internacionalização, a mineradora entendeu que a redução de sua estrutura (via venda de ativos fora do core business) era essencial para controlar a operação e ter uma estrutura mais enxuta para extrair valor.
Podemos dizer o mesmo da Petro?
Sempre defendi que a forma mais sensata da estatal dirimir preocupações do mercado seria via redução do seu programa de investimentos gigante. Ora, Petrobras tem a maior dívida do mundo, o maior plano de investimentos do mundo, e enfrenta temores de perda de rating e eventual necessidade de ter de pedir dinheiro para o mercado via emissão de novas ações...
Portanto, uma redução em seu Plano de Negócios seria boa notícia para as ações, mas sem esquecer do histórico descasamento entre metas (plano) e números aferidos pela estatal.
De baixo para cima x De cima para baixo
Você notou que essa história do “too big will fail” remete às duas óticas de análise tradicionais:
top down: de cima para baixo; ou, partindo do macro para o micro
bottom up: de baixo para cima; ou, partindo do micro para o macro
No caso da primeira, a ideia em termos gerais é que se você errar uma premissa, todo o negócio estará perdido. Toda decisão grande implica a possibilidade de um erro de grandes proporções, de perder tudo. Se eu partir do pressuposto de um cenário macro positivo e ele não se confirmar, toda minha estratégia estará lascada.
No “bottom up”, o erro em uma premissa micro não necessariamente anula todo o restante das variáveis. Errar pequeno: essa é a chave do negócio. Prefira minimizar não a chance de erro, mas o tamanho do impacto de um eventual erro, pois, acredite, você vai errar.
Por que as grandes demais falharão?
No mercado de ações, os exemplos das empresas que se tornaram grandes demais se multiplicam. Além da Petro, temos casos clássicos de frigoríficos, companhias de consumo (Hypermarcas lá atrás) e de incorporadoras que cresceram demais, perderam a mão da operação e agora voltam os esforços para enxugar a estrutura.
Essa questão toda veste perfeitamente a Restoque (LLIS3).
E empresa trouxe um plano de expansão agressivo e viu isso refletido em suas ações, que superaram R$ 12 na metade de 2012. A empresa perdeu um pouco a mão da operação, assistiu aos papéis irem abaixo de R$ 5 e agora volta a trilhar um rumo sensato. Por isso, Le Lis - ainda chamo assim, sujeito old school - entrou na seleção das Ações para Ficar Milionário. A propósito, quem assinar a série hoje leva de quebra quatro relatórios sobre ações milionárias diferentes. Todos produzidos hoje. Justifica em um dia a assinatura de um mês. Uma daquelas oportunidades clássicas de arbitragem.
A próxima empresa/setor a colapsar
Fosse apostar no próximo setor ou empresa grande demais para falhar, você apostaria em quem?
Eu já tenho a minha escolhida, e desde de setembro do ano passado (agora está fácil falar):
“Em nossa opinião, o mercado dá claros sinais de euforia desmedida, subestimando riscos escondidos da operação Kroton/Anhaguera (too big will fail), por exemplo, e recebendo bem toda e qualquer notícia de crescimento via aquisições, muitas tocadas a qualquer preço. Alertamos para certo frenesi com as perspectivas positivas da fusão e supostos ganhos de escala. Sinergias acabam superestimadas e o aumento de complexidade por vezes se traduz em deseconomias de escalas.”
Para visualizar o artigo completo visite o site da Empiricus Research.