Com a permissão do antagonista
Hoje temos um mercado agitado pelas divulgações de resultados trimestrais. Deem o protagonismo às empresas. A César o que é de César.
Mas é claro que a leve alta do Ibovespa conta com aval do antagonista. A China deu uma trégua depois de quatro sessões seguidas de baixa e da divulgação de uma série de indicadores alarmantes.
É a vez da China? O gigante asiático virou o jogo?
Calma lá...
Por que comecei com isso?
Vejamos a manchete principal dos noticiários financeiros do dia, tirando desdobramentos de Petrobras é claro...
“Cenário melhora e Tesouro prepara emissão de bônus”
Melhorou?
O argumento do Calvo (que não é o Felipe, mas poderia ser)
Supondo que tivemos mesmo uma melhora de percepção momentânea em relação ao Brasil. Ela teria sido estimulada pela retórica do governo no encontro do G-20, ou na nova meta de superávit primário (que, até que se prove o contrário, não deixa de ser retórica).
Viramos o jogo?
Não se engane. A “crise dos emergentes” ainda está longe do fim, com o Brasil sendo relacionado formalmente na lista dos Cinco Frágeis.
Aqui cabe perfeitamente o argumento do Guillermo Calvo (o argentino-americano professor da Universidade de Columbia), de que os mercados emergentes sofrem de interrupções súbitas de fluxos de capitais, com consequentes rápidas desvalorizações em suas taxas de câmbio.
Seja rêmora
Peço um minuto para te contar uma breve história.
Lupatech era uma companhia de serviços para a cadeia de óleo e gás. Quando da descoberta do pré-sal, e do clamor por “conteúdo nacional” no desenvolvimento das reservas gigantes, ela enxergou a oportunidade de uma vida, de ser a grande rêmora da Petrobras. A agarrou - até demais.
A companhia investiu muito (mais de R$ 1 bilhão) em expansões, buscando capacidade operacional para suprir à supostamente iminente demanda. Investimento (dívida) feito, capacidade instalada - mas ociosa. O sonho do pré-sal demorava mais do que se imaginava para sair do papel, Petrobras por sua vez não conseguia apurar um crescimento de produção consistente. Palavras não pagam dívidas, e Lupatech hoje encontra-se em recuperação judicial.
Os verdadeiros Tubarões
O erro estratégico da Lupatech traz um bom exemplo ilustrativo, mas não é definitivo. Fosse a Petrobras uma AmBev do petróleo, ou tivesse melhor sorte, Lupatech poderia respirar ares menos rarefeitos hoje em dia.
A desventura de Lupatech/Petrobras não elimina a validade do racional estratégico da rêmora, de surfar em linha com as grandes apostas, aproveitando benefícios de escala e fluxo.
Quem são os verdadeiros Tubarões do mercado?
Talvez a melhor pergunta seja: qual a aposta de consenso dos grandes hedge funds para o Brasil hoje?
Uma delas é um tanto óbvia, estamos Calvos de saber: dólar a R$ 2,35 é uma grande discrepância, e uma enorme janela de oportunidade. Ou o real virou o jogo?
A outra te conto aqui.
Petrobras queima, não tem jeito
Não poderia passar esse M5M sem comentar algo dos resultados da Petrobras.
Em linhas gerais, os números superaram as estimativas do mercado, mas não por questões operacionais - a geração de caixa foi inflada por venda de ativos e o lucro anual contou com impulso extra de créditos tributários.
A verdadeira boa notícia dos resultados da Petrobras foi a diminuição da estrutura, a própria venda dos ativos, e a redução do programa de investimentos.
Um primeiro passo, que não resolve (tampouco esconde) a alavancagem elevada (3,5x dívida líquida/ebitda) e a queima de caixa (queimou US$ 22 bilhões em 2013).
Resumiria assim: Petrobras soltou um resultado de Petrobras. AmBev soltou um resultado de AmBev.
A César o que é de César.
Para visualizar o artigo completo visite o site da Empiricus Research.