Tudo muito bom, mas…
Mercado brasileiro tem dia azul, com destaque para nomes domésticos. No lado dos juros, sem oscilações relevantes no momento.
Mercados europeus em leve alta; em parte, simples recuperação ao selloff de ontem. Ajudam também bons resultados de varejistas.
Tudo muito bom, tudo muito bonito.
Mas tenho para mim que o que mais merece atenção hoje é o mercado americano. Vamos a ele.
Numerador versus denominador (I)
Já falamos por aqui algumas vezes do quanto o valuation do mercado americano parece esticado, principalmente após os rompantes de euforia vistos por lá por conta de Trump.
Se você voltar um pouco mais no tempo, há de lembrar que também comentamos nesse espaço que, para além das guinadas políticas, o que poderia justificar uma alta continuada da Bolsa americana seriam revisões (para cima) das expectativas de resultados corporativos.
Se a medida é a razão preço/lucro, uma alta do denominador abriria espaço para valorização adicional.
Pois bem. Hoje o dia lá é de baixa, refletindo principalmente resultados corporativos: enquanto todos olham para o que Trump faz ou deixa de fazer, empresas divulgam números do 4T16.
Confesso que há muito tempo não via tantos “XYZ earnings miss estimates” como nos últimos dias. Isso pode começar a pesar.
Hora de acordar?
Haverá espaço para melhorar projeções futuras? É possível que sim, mas partindo de uma base de comparação mais fraca.
Otimismo tem limite, e talvez o da turma de Wall Street comece (finalmente!) a ser testado. Isso ainda se combina com uma visão ligeiramente menos leniente com relação ao novo governo…
…cujos desafios, logo à frente, parecem ainda ser menosprezados. Fora este espaço, onde mais você vê alguém alertar para o retorno do debt ceiling dentro de algumas semanas? Só para exemplificar.
Assimetria favorável
Feitas as considerações sobre o valuation da bolsa americana, destaco que é precisamente oposta a situação que vivemos em terras tupiniquins.
Iniciada a temporada de resultados do 4T16, primeiras surpresas desagradáveis aparecem para provar que a realidade sempre pode ser (ainda) pior que a expectativa. Não nos iludamos: pouca gente conseguiu fazer coisa bonita de setembro a dezembro.
A questão é para frente: há uma assimetria favorável à melhora de resultados por aqui por, no mínimo, dois canais.
Numerador versus denominador (II)
O primeiro já se tem bem em mente: a redução da Selic beneficiará enormemente companhias com maior alavancagem financeira e exposição ao indexador. Isso explica algumas ótimas performances das últimas semanas — inclusive alguns exageros, dos quais o tempo há de se encarregar.
O segundo é a retomada da atividade em si: em diversos setores, resultados operacionais têm sido extraordinariamente fracos por conta de volumes deprimidíssimos de vendas. Faturamento fraco, pouca diluição de custos, margens operacionais minguadas.
Talvez não seja ainda no 1T17 (a equipe econômica do governo insiste que sim, mas…), mas são promissoras as perspectivas para os próximos trimestres.
Combinados, efeitos operacional e financeiro podem ampliar muito a lucratividade das companhias. Não está longe o tempo em que manchetes escandalosas de jornal do tipo “lucro da empresa XYZ salta 519 por cento” voltarão a ser frequentes. Como consequência, razões Preço/Lucro por aqui verão variações substanciais no denominador.
É bom o momento para o mercado brasileiro.