Paralisação do Governo dos EUA: O Que Isso Poderia Significar para Ações

Publicado 04.09.2017, 16:08
Atualizado 02.09.2020, 03:05
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por Jason Martin

Conforme o Congresso norte-americano retorna de seu recesso de verão em 5 de setembro, após o feriado prolongado pelo feriado do Dia do Trabalho, o espectro de um possível fechamento do governo se aproxima. Investidores provavelmente começarão a questionar quais as ramificações poderão atingir seus investimentos de capital.

Antecedentes

Desde que o limite da dívida norte-americana de US$ 19,8 trilhões foi atingido em março, o governo tem usado "medidas extraordinárias" para arrumar dinheiro e continuar a ter fundos até que se chegue a um acordo. Especificamente, Steven Mnuchin, secretário do Tesouro norte-americano, está suspendendo a emissão de novas dívidas para manter os fundos do governo abaixo do limite.

Em uma enviada aos líderes do congresso em 28 de julho, Mnuchin informou os destinatários que ele:

"... continuaria a ser incapaz de investir totalmente a parcela do Fundo de Aposentadoria e Invalidez do Funcionalismo Público (CSRDF, na sigla em inglês) não exigida imediatamente para pagamento dos beneficiários".

Mnuchin acrescentou que o CSRDF seria ressarcido, conforme exigido pela lei, uma vez que o limite da dívida fosse aumentado e explicou que a suspensão não afetaria empregados na ativa e aposentados federais. Embora o governo possua recursos, oficialmente, até o fim do ano fiscal em 30 de setembro, Mnuchin observou naquele momento que a suspensão continuaria até 29 de setembro, meros 12 dias úteis após o Congresso retornar aos trabalhos.

Dito isso, o Escritório de Orçamento do Congresso sugeriu que o prazo, conhecido como "data x", poderia ser alongado um pouco mais, estimando que o governo não ficaria, de fato, sem dinheiro até algum momento entre o início e meados de outubro.

Em qualquer situação, tanto o Congresso quanto Donald Trump, presidente norte-americano, enfrentam a necessidade de elevar o teto da dívida para continuar a pagar as contas do país. O aumento do limite da dívida norte-americana é necessário para que assim o governo possa emprestar dinheiro para pagar suas contas enquanto o Tesouro fica sem "dinheiro vivo" para cobrir esses pagamentos.

Efeitos imediatos de uma paralisação

Se não for possível chegar a um acordo, o fechamento do governo teria consequências, resultando na suspensão de todos os financiamentos não emergenciais do governo, incluindo licenças de trabalhadores, fechamento de escritórios e instalações públicas, fechamentos de parques nacionais e atrasos no processamento de documentos do governo. O governo também precisaria decidir quem seria pago e quem não seria, significando que detentores de títulos poderiam ter prejuízos devido a pagamentos de cupom, seguridade social e outros beneficiários de programas de assistência social poderiam não receber seus benefícios e empresas terceirizadas contratadas pelo governo, como as que prestam serviço às forças armadas norte-americanas, poderiam não receber seus pagamentos.

Levando a "Muralha do México" ao debate

Comentários recentes do presidente Trump, insistindo que o financiamento para a muralha que ele prometeu construir na fronteira com o México seja incluído no orçamento, fizeram com que as preocupações sobre a possibilidade de fechamento aumentassem. "Se tivermos que fechar nosso governo, construiremos essa muralha", afirmou Trump em um comício em Phoenix, Arizona, em 22 de agosto. "Vamos ter nossa muralha", ele enfatizou.

Em 25 de agosto, Mnuchin, secretário do Tesouro, procurou minimizar a possibilidade de que o fechamento pudesse ocorrer. "Eu tenho tido discussões com os líderes de ambos os partidos na Câmara e no Senado e estamos todos na mesma página", afirmou ele. "O governo pretende pagar suas dívidas e o teto da dívida será elevado", insistiu Mnuchin.

No entanto, a situação se complicou ainda mais desde então devido aos danos extremos causados pelo furacão Harvey e aos quais se espera que o governo forneça recursos para ajudar as vítimas.

Mnuchin alertou em 31 de agosto que o furacão Harvey poderia antecipar o prazo relativo à elevação do teto da dívida do país enquanto também observou que as projeções para a chamada "data x" poderiam mudar com o recebimento de taxas corporativas em 15 de setembro.

Mais recentemente, porém antes do alerta de Mnuchin, Trump não recuou da possibilidade de fechamento do governo.

Em uma entrevista coletiva em 28 de agosto, em resposta a uma questão sobre a necessidade de fechar o governo para financiar a muralha se o México pagaria por ela, Trump reiterou repetidamente, afirmou o presidente "espero que não seja necessário. Se for necessário, nós teremos que ver, mas espero que não seja necessário", afirmou ele.

Espera-se amplamente que a Câmara e o Senado, ambos controlados pelo partido Republicano, evitem o fechamento do governo ao aprovar uma lei provisória de gastos, conhecida como resolução contínua, que permitiria medidas temporárias de pagamento e evitaria uma luta sobre o orçamento da muralha de Trump.

No entanto, a assinatura do presidente seria exigida nesta medida, e é por isso que a ameaça recente de fechamento do governo recebeu ampla atenção dos mercados.

Mercados permanecem calmos

Mercados estão atualmente avaliam que as chances de que o governo norte-americano chegue a um ponto de ruptura deixando o prazo, ou "data x", vencer ser uma resolução contínua estão em um único dígito. A necessidade de recursos adicionais aos danos causados por Harvey coloca pressão política em ambos os partidos para que se chegue a um acordo sobre o aumento do teto da dívida.

No momento, o dilema de 2011 — em que um impasse no Congresso para elevar o teto da dívida naquele momento fez com que a Standard & Poor’s retirasse a preciosa classificação triplo A da maior economia do mundo, classificação essa mantida pelos EUA por 70 anos — parece o paralelo mais próximo à situação atual.

Digno de nota, em 2011, o nervosismo para se impedir o fechamento no capitólio fizeram com que o S&P 500 caísse para 1.075 pontos em outubro daquele ano, uma queda de quase 20% em comparação ao início de julho.

Desde o início de julho deste ano, a referência global ainda está em alta de mais de 1%.

No que parece ser outro sinal de relativa calmaria, o índice de volatilidade VIX, conhecido como termômetro do medo, está atualmente em torno de 10 pontos, em comparação aos quase 34 pontos seis anos atrás e 46 pontos em outubro de 2011.

Claro, há ainda algumas maneiras de prosseguir entre agora e a "data x", na qual a volatilidade provavelmente subirá e investidores ficarão mais nervosos com a ausência de um acordo e a ameaça de um fechamento correspondente do governo.

A História fornece motivos para não entrar em pânico

No entanto, historicamente, fechamentos do governo tendem a durar pouco e raramente possuem grande impacto nas ações.

Conforme o gráfico abaixo da LPL Research mostra, o S&P tem fornecido retornos negativos em apenas metade das instâncias passadas em que Washington fechou e a situação, em sua mais longa derrocada, durou apenas 21 dias.

S&P 500 durante paralisações do governo norte-americano

Além disso, o retorno médio durante as 18 instâncias prévias resultou em prejuízos de apenas 0,6%, algo que dificilmente muda o jogo nas ações norte-americanas.

De fato, o mais recente fechamento em 2013 correspondeu a um ganho de 3,1% no S&P entre o dia de fechamento do governo e a reabertura das portas.

A preparação para a "data x" indubitavelmente irá preencher as manchetes da imprensa com alertas "graves" sobre o fechamento do governo e investidores podem muito bem ver o mercado se preparar para se ajustar às incertezas subsequentes e a probabilidade de que os políticos continuarão suas disputas até a última hora.

A preocupação parece um estado mental racional nestas circunstâncias, mas a história não nos fornece evidências de pânico real uma no que diz respeito ao mercado de capitais dos EUA.

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