As retiradas de volumes de biodiesel contratados para o 3º bimestre estão abaixo do esperado e usinas em diversos estados do país estão limitando a produção para evitar sobreoferta.
Produtores verticalizados – que integram diferentes etapas da produção, desde a matéria-prima até o combustível – do Mato Grosso e de Goiás suspenderam total ou parcialmente a fabricação de biodiesel, diante da demanda abaixo do previsto. A continuidade dessas paradas está nos planos dos produtores. Situação similar é observada no Paraná.
No Rio Grande do Sul, uma usina desacelerou a produção por conta da menor demanda e quantidade disponível de óleo de soja para a fabricação do biocombustível. Os amplos estoques de farelo de soja estão afetando o ritmo de esmagamento da oleaginosa. Na Bahia, a necessidade de reduzir a produção serviu como oportunidade para realizar manutenções.
O ritmo mais lento para retirada dos volumes contratados refletiu na queda dos preços do biocombustível no mercado à vista. Usinas verticalizadas estão entre os produtores que reduziram os preços, em uma tentativa de escoar produto e impulsionar a demanda. Entre abril-maio, os indicadores Argus de biodiesel nas bases de Araucária, Paulínia e Senador Canedo registraram quedas de 5,5pc, 4,3pc e 7,4pc, para R$5.207/m³, R$5.368/m³ e R$5.234/m³, respectivamente.
Paralelamente, o setor aguarda os próximos passos do governo em relação à ampliação do mandato de mescla de biodiesel no combustível fóssil para 15pc (B15).
Em fevereiro, o Conselho Nacional de Pesquisa Energética (CNPE) suspendeu temporariamente o mandato para aumentar a mistura do biodiesel ao diesel para 15pc, que estava programado para entrar em vigor em março. A medida foi adotada com o objetivo de desacelerar a inflação nos alimentos, uma vez que o óleo de soja é a principal matéria-prima do biodiesel, afirmou o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. O argumento é contestado por produtores de biocombustíveis.
Entre janeiro-abril, os níveis de produção e vendas do biocombustível ficaram próximos a 3 milhões de m³, volume praticamente estável em relação ao mesmo período em 2024, de acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O recorte de abril mostra alta de quase 4pc na produção, para 795.000m³, mesmo após a manutenção do mandato de mescla.
Agentes do mercado esperam atrasos de duas semanas para a retirada total dos volumes contratados para o 3º bimestre.
A aposta de produtores, no entanto, é de que o fortalecimento no consumo do diesel e, consequentemente, do biodiesel nos próximos meses, reduza a quantidade de volumes remanescentes e impulsione o processamento nas refinarias. O agronegócio é um importante vetor para essa perspectiva de alta, em um momento de avanço da safra de cana-de-açúcar, colheita da safra de milho inverno e reta final da temporada de exportação da soja.