Correndo atrás do rabo
Abrimos mais uma semana com o relatório Focus.
As projeções de mais de 100 agentes econômicos para as principais variáveis econômicas são compiladas no documento semanal, que tem trazido - recorrentemente - revisões para baixo, o que denota inequivocamente uma piora de perspectiva.
Chegamos a 0,40% de crescimento projetado e 6,60% de inflação para 2015, acima do teto da meta, com juros esperados em 12,5% ao final deste ano.
Não é propriamente uma combinação de fatores das mais agráveis... E, convenhamos, um tanto contraintuitiva.
Mas, pelo andar da carruagem, não chega a ser novidade.
O que me intriga: se algumas semanas atrás o governo marcou a sua projeção de crescimento para 2015 em 0,80%, justamente para se alinhar ao mercado, quando ele revisará a mesma?
Ignoraram o Employment Report?
Na sexta-feira comentei sobre os relatório de Emprego americano e sobre como isso poderia representar um fator extra de pressão sobre o câmbio: dólar ganhando força sobre as demais moedas globais.
A alta do real sobre o dólar, no entanto, inundou a minha caixa de emails. O que poderia ter acontecido?
O Employment Report trouxe uma infinidade de argumentos no sentido de recuperação do mercado de trabalho dos EUA e consequente retirada dos estímulos e aumento de juros...
... tais como: queda adicional na taxa de desemprego, o melhor ano para o mercado de trabalho deles desde 1999 e criação de vagas acima das projeções em dezembro.
Mas muitas vezes vê-se o que se quer ver, especialmente quando há uma farra de liquidez (e iminente início de ressaca) em jogo.
Os mercados deixaram essas referências “menores” em segundo plano para se atentar a um outro indicador: houve queda no salário médio por hora trabalhada, sugerindo inflação comportada - e, assim, possível espaço para o Federal Reserve deixar os juros baixos por mais tempo.
Além disso, há o risco deflacionário ligado ao petróleo...
Todos no mesmo barco?
A pergunta de um milhão de dólares, para o homem de vários bilhões de petrodólares.
O preço do petróleo continuará caindo?
“Estou certo que nós não o veremos novamente a US$ 100 por barril... petróleo acima de US$ 100 é artificial. Isso não é correto.”
O príncipe saudita Alwaleed bin Talal pode não ser famoso por seus dons premonitórios, mas o é por outros dotes...
... além de, recentemente, ter processado a revista Forbes por o ter colocado, apenas, como a vigésima sexta maior fortuna do mundo.
Perguntado se a queda dos preços era uma estratégia de sauditas e americanos para derrubar a produção russa, foi taxativo: “Saudi Arabia and Russia are in bed together here”.
Só esqueceu de mencionar a (grande) diferença de custos de produção entre um e outro...
Petro no país das maravilhas
Se “não o veremos [o petróleo] novamente a US$ 100 por barril”, e não faltam indicações neste sentido, pergunto: o que Petrobras está esperando para revisar o seu Plano de Negócios?
Dentre as premissas do mesmo, ainda constam: - Petróleo a mais do que o dobro dos preços atuais, - Limite de alavancagem de até 2,5x dívida líquida/ebitda - está em 4x Taxa de câmbio a R$ 1,92
Enquanto não revisa seu plano de negócios e não publica balanço, a estatal convive com questionamentos de funcionários que não receberam PLR de 2014 (sem lucro divulgado, como distribuir o lucro?) e rumores de que venderá novas fatias no pré-sal para aliviar a estrutura de capital, e tentar fazer frente aos mais de R$ 60 bilhões de investimentos previstos em seu Plano de Negócios só para este ano.
O que acontece antes?
a) O governo revisa para baixo a sua meta de crescimento
b) O petróleo volta para US$ 100 barril
c) Chove na Cantareira
d) Petrobras divulga o balanço do terceiro trimestre de 2014
e) HRT confirma a fusão com a OGX
A propósito, sobre “d”, não era hoje?