Resumo:
- A Intel foi um investimento morto nos últimos cinco anos, diante da sua dificuldade de competir com outras fabricantes de chips.
- A nova direção da Intel tem méritos, mas é um compromisso de investimento pesado que pode manter suas margens deprimidas por anos.
- A maioria dos analistas recomenda ficar de fora e evitar comprar ações da Intel.
A maior fabricante de chips dos EUA, a Intel (NASDAQ:INTC) (SA:ITLC34), foi um investimento morto nos últimos cinco anos.
Comparando-a com outras gigantes dos semicondutores, a conclusão óbvia é que os investidores perderam a confiança no seu potencial de crescimento, diante de tantas opções melhores disponíveis na indústria.
As ações da Intel subiram 45% nos últimos cinco anos, enquanto o Índice de Semicondutores da Filadélfia (SOX) se valorizou 328% no mesmo período. Durante esse tempo, o crescimento decepcionante da INTC e seus tropeços produtivos permitiram que concorrentes menores ganhassem espaço no setor, roubando parcelas maiores de mercado da companhia, através do lançamento de chips mais avançados, enquanto a Intel não conseguiu fazer o mesmo.
A NVIDIA (NASDAQ:NVDA) (SA:NVDC34), por exemplo, disparou mais de 1200% nos últimos cinco anos, elevando seu valor de mercado para US$549 bilhões, mais do que o dobro da Intel.
As ações da Advanced Micro Devices (NASDAQ:AMD) (SA:A1MD34), empresa que passava por dificuldades há alguns anos, valorizaram-se mais de 1500% no mesmo período.
A Intel alcançou o topo da indústria de fabricação de chips de US$400 bilhões, desenvolvendo processadores sofisticados para os computadores e data centers do mundo. E fez tudo isso internamente.
Mas essa estratégia deixou de funcionar quando fabricantes mais eficientes passaram a terceirizar a fabricação dos seus produtos na Ásia. Na última década, a Intel não conseguiu melhorar sua capacidade de lançar chips mais rápidos, antes dos concorrentes, no mercado.
Mudança estratégica para corrigir baixo desempenho
Para lidar com essa crise, o novo CEO da companhia, Pat Gelsinger, elaborou um plano ambicioso. Sua estratégia combina a produção interna com a terceirizada e foi traçada depois que o baixo desempenho da empresa permitiu que concorrentes deixassem a Intel para trás.
Ao detalhar seu plano a analistas em março, Gelsinger afirmou que a Intel confiará mais em fabricantes externos para produzir alguns dos seus mais avançados processadores a partir de 2023. Ele também anunciou um investimento de US$ 20 bilhões para construir novas instalações de fabricação de circuitos integrados no Arizona, chamada Intel Foundry Services (IFS), que também fabricará chips desenvolvidos por outras empresas.
Ao fazer isso, a Intel pretende atender os maiores clientes mundiais de computação na nuvem, como Amazon (NASDAQ:AMZN) (SA:AMZO34) e Microsoft (NASDAQ:MSFT) (SA:MSFT34), que já estão desenvolvendo grande parte dos seus processadores e precisam de fundições para tanto. De acordo com Gelsinger, que era CEO da VMware (NYSE:VMW), esse modelo híbrido é uma combinação vencedora.
Em sua última apresentação, ele disse aos analistas: “A Intel está de volta. A velha Intel é a nova Intel.” Ele afirmou:
“Vamos ser líderes no mercado e atender novos clientes de fundição, porque o mundo precisa de mais semicondutores e vamos fechar essa lacuna da melhor forma possível.“
Essa mudança deixa claro que a Intel está entrando em um grande período de recuperação. Mas o movimento vem carregado de incertezas.
Muitos analistas acreditam que os planos da Intel para retomar o crescimento têm méritos, mas será extremamente difícil para a gigante americana competir com rivais asiáticos que já se adiantaram no jogo.
Deterioração cultural
Em uma análise recente sobre o futuro da Intel, a Bloomberg disse que o mau momento vivido pela Intel não apareceu da noite para o dia. Isso é resultado de uma década de tropeços, inclusive a decisão de não fabricar chips para smartphones –, bem como da deterioração cultural que cegou a companhia em relação às suas deficiências.
A matéria diz ainda:
“Também é uma função de mudanças globais que abriram espaço para gigantes asiáticas, como a Samsung (KS:005930) Electronics Co. e Taiwan Semiconductor Manufacturing (NYSE:TSM). Essas empresas cada vez mais ocupam o centro da indústria e seus chips cada vez mais são instalados nos aparelhos mais avançados”.
A comunidade de analistas, por outro lado, continua dividida com a perspectiva futura da Intel. Entre os 44 analistas pesquisados pelo Investing.com, o consenso geral é neutro, com 18 pesquisados recomendando compra, 16 mantendo neutralidade e 10 recomendando venda.
Gráfico: Investing.com
Em nota recente, o Goldman Sachs reiterou sua recomendação de venda na ação, ressaltando que os US$20 bilhões para construir as novas fábricas podem prejudicar seu fluxo de caixa livre e criar conflitos de interesse com concorrentes. Como afirmou o Goldman em nota, citada pela CNBC.com:
“Mesmo que a IFS seja estruturada como uma unidade de negócios separada da Intel, acreditamos que muitos dos potenciais clientes que competem com a Intel hesitarão em trabalhar com a IFS”.
Escassez de chips e geopolítica
Mesmo assim, as condições são bastante férteis para a Intel se a companhia tiver sucesso em seus planos.
A escassez de circuitos integrados e os enormes investimentos na China para se tornar líder em sua fabricação fizeram com que a indústria se tornasse parte de uma guerra geopolítica. O presidente americano Joseph Biden assinou um decreto executivo no mês passado exigindo uma análise de 100 dias de cadeias de suprimentos essenciais, inclusive de semicondutores. Ele também declarou que buscará oferecer US$37 bilhões em financiamento para ajudar a aumentar a capacidade da indústria doméstica de circuitos integrados.
Com respaldo político e financeiro, a demanda por circuitos integrados continuará forte após a pandemia, com mais pessoas gastando com smartphones, jogos e aparelhos conectados que precisarão de processadores. O tempo que as empresas estão demorando para conseguir adquirir chips aumentou para 21 semanas em agosto, indicando que a escassez que afetou a indústria automotiva e segurou o crescimento da indústria de eletrônicos está aumentando, de acordo com a Bloomberg.
C.J. Muse, analista da Evercore ISI, disse em nota recente que a Intel está dizendo e fazendo as coisas certas, mas a empresa pretende executar seu plano em um processo que durará vários anos e será repleto de desafios. Muse recomendou que seus investidores ficassem de fora.
Mark Lipacis, analista da Jefferies, cuja recomendação é neutra com preço-alvo de US$52 semanas, disse que a Intel ainda “precisa mostrar a que veio”, após o anúncio de que espera retomar a liderança em 2025.
“Em vista da sua má execução de transistores nos últimos cinco anos, o que a fez perder a liderança na categoria em 2018, acreditamos que os investidores se manterão céticos até que a INTC cumpra seu plano”, ressaltou Lipacis.
Conclusão
A Intel é uma aposta de recuperação de longo prazo, repleta de riscos de execução. Os investidores com caixa disponível têm opções muito melhores na indústria de semicondutores neste momento.
O melhor a fazer é ficar de fora das ações da Intel por enquanto.